O SUCESSO DO LÍDER JESUS (Sylvio Macri)

Medindo resultados não aparentes
 
Jesus não se importava com números nem com resultados aparentes. Em Jo.2:24 lemos que ele não acreditava na fé daqueles muitos que “criam” apenas por causa dos milagres feitos por ele. O capítulo 6 desse mesmo evangelho registra uma das duas vezes nos evangelhos em que a multidão foi contada. Entretanto, esse mesmo capítulo, que começa com uma multidão de milhares de pessoas, termina com apenas 12. A estas últimas, Jesus ainda pergunta: “Vocês também querem ir embora?” Como quem diz: “Se quiserem ir embora não me importo, pois não mudarei os meus princípios e o meu ensino para agradar nem mesmo a uma só pessoa, quanto mais a uma multidão”.
 
Aos fariseus que o indagavam sobre o Reino de Deus, Jesus respondeu: “O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ele está aqui! ou: Ele está ali! pois o reino de Deus está dentro de vocês” (Lc.17:20-21). Na parábola do joio e do trigo, ele ensinou que é muito difícil julgar os dois pela sua aparência, pois o joio e o trigo são parecidíssimos antes de amadurecerem (Mt.13:24-30).
 
Após a sua crucificação os discípulos se dispersaram, e parecia que todo o esforço de três anos estava destinado ao fracasso. Com a ressurreição, novamente os discípulos se reuniram, porém não havia mais aquelas multidões que o seguiam por toda a parte. Apesar de Jesus se apresentar poderosamente a eles por 40 dias, o maior número reunido neste período foi “de mais 500 quinhentos irmãos” (portanto, menos que 600), citado por Paulo em I Co.15:6. O Espírito Santo desceu apenas sobre os 120 irmãos em Jerusalém, mas em seguida multidões começaram a converter-se e a igreja maravilhou-se com estes resultados, acomodando-se e esquecendo-se da ordem de Jesus de evangelizar o mundo. Deus, então, mandou a perseguição desencadeada com a morte de Estêvão, e os crentes tiveram que fugir de Jerusalém. O livro de Atos fala de um detalhe que passa despercebido a muita gente. Lá se diz que a igreja de Jerusalém, que tinha milhares de membros (hoje seria chamada de mega-igreja), ficou reduzida a um pequeno grupo: “Todos, com exceção dos apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samária” (At.8:1).
 
O líder cristão, assim como Jesus, não avalia seus resultados com base em números ou na aparência, mas trabalha com pessoas, e estas não podem ser tratadas como simples registros de estatística. Ele não pode deixar-se impressionar por resultados aparentes, que muitas vezes têm o brilho breve dos fogos de artifício, mas trabalha com o coração das pessoas, que é terreno desconhecido. A este respeito Jesus contou uma interessante parábola em Mc.4:26-29, cujo ensino básico é o seguinte: “Lance a semente e descanse; espere pelo tempo de Deus; de nada adiantará você acordar no meio da noite e ir lá onde a plantou, pois isso não fará que com a planta nasça antes do tempo”.              
   
Buscando qualidade
 
Um dos conceitos mais marcantes e mais característicos de Jesus é o da “penetração”. Ele está presente nas metáforas que Jesus usou para aplicar seu ensino: sal, luz, fermento, semente, etc. Uma pitada de sal penetra no alimento e muda todo o seu sabor, uma pequena lâmpada penetra nas trevas de um cômodo e dá segurança e conforto visual, algumas poucas gramas de fermento penetram na massa toda e multiplicam o seu tamanho, uma pequena semente penetra na terra e gera uma planta que irá produzir milhares de frutos. Jesus quis demonstrar com isto sua opção preferencial pelas minorias. A alguém que lhe perguntou se são poucos os que se salvam, respondeu indiretamente que sim, pois a porta é estreita e o caminho também, e, por isso mesmo, são poucos os que entram (Lc.13:22-30).
 
Como vimos acima, Jesus era permanentemente seguido por verdadeiras multidões, mas não confiava nelas; preferia trabalhar com as minorias. Se aos setenta discípulos que ele enviou somarmos as mulheres que o acompanhavam e serviam, ainda assim teremos menos de 100 seguidores. Convenhamos que é muito pouco para quem estava sempre cercado de milhares. Ele sabia que é impossível ter qualidade na multidão, pois é muito difícil obter sua adesão sincera, controlar sua participação e acompanhar seu desenvolvimento. Sem falar na impossibilidade de conhecer as pessoas e suas necessidades, como um verdadeiro líder deve fazer.
 
A idéia de qualidade está presente nas duas parábolas de Jesus em Lc.15:1-10: a da ovelha perdida e a da moeda perdida. O grande ensino ali é que Deus está interessado em qualidade: 1% de conversões verdadeiras é muito mais importante do que 99% de membros de igreja que não têm evidência de arrependimento e conversão, como os fariseus. Quer dizer, se Jesus fosse pastor hoje de uma igreja com 1000 membros, a qual tivesse somente 10 membros verdadeiramente comprometidos, certamente preferiria trabalhar com estes. A mesma idéia também está presente na sua observação sobre a oferta da viúva pobre: duas moedinhas insignificantes representavam muito mais qualidade do que as grandes quantias lançadas no cofre do templo pelos ricos e poderosos (Lc.21:1-4). É incrível como esta posição de Jesus é tão diferente daquela adotada por muitos hoje em dia!
 
Se queremos ser bons líderes cristãos devemos tratar o sucesso do mesmo modo que Jesus o fez.
 
Conclusão
 
A liderança cristã não tem segredos porque temos um padrão estabelecido por Jesus. Basta seguirmos seu exemplo, e seremos líderes cristãos autênticos. Tanto melhores seremos quanto mais incorporarmos suas características essenciais, suas qualidades pessoais, sua estratégia e sua maneira de ver os resultados. Apesar da brevidade e das limitações deste texto, pudemos perceber que Jesus como líder tinha e era tudo que um grande líder desejaria, ou deveria, ter e ser. Seu caráter era constituído por todas aquelas virtudes que gostaríamos de ver nos líderes da nossa sociedade e das nossas igrejas. Sua relação com Deus, que lhe trouxe autoridade mas era marcada pela obediência, e sua relação com os homens, servindo-os e identificando-se com eles, mostrava um equilíbrio perfeito na sua liderança. Sua visão, seu propósito e seu objetivo eram perfeitamente sincrônicos e sinérgicos, no sentido de cumprir o plano eterno de Deus para a sua criação. Sua maneira de comunicar-se era descer ao nível de todos e não somente de uns poucos. Os princípios sob os quais exercia a liderança são aqueles mesmos que procuramos hoje nos nossos líderes: tudo será feito sob signo da verdade e da transparência, todas as pessoas serão tratadas de modo igual, todas as pessoas têm direito arrepender-se e mudar de vida, todos serão tratados com graça e misericórdia, na medida em que responderem a estas, e todos serão responsabilizados por suas escolhas. Ainda mais admirável era sua maneira de ver o sucesso, que inverte totalmente o significado tão comum aos demais líderes.
 

Portanto, sigamos Jesus também na prática da liderança. Pode ser que não recebamos tantos aplausos assim dos homens, mas sem dúvida teremos a aprovação de Deus, agora e na eternidade.