Talvez nem todos os que nos lêem saibam, mas a Escola Bíblica Dominical teve sua origem como uma iniciativa sócio evangelística, na cidade de Gloucester, Inglaterra, por volta de 1780. Robert Raikes, jornalista e proprietário do jornal “Diário de Gloucester”, observando as crianças que perambulavam pelas ruas dos bairros pobres da cidade brincando, brigando e aprendendo todo tipo de vícios, resolveu criar uma escola para alfabetizá-las e ensinar-lhes a Palavra de Deus. A escola reunia-se aos domingos, dia em que a concentração de crianças nas ruas era maior, pois durante a semana, inclusive sábado, elas trabalhavam nas fábricas.
Logo de início conseguiu atrair em torno de cem crianças, que, das 10 h às 14 h, aprendiam inglês, matemática e história; após um intervalo de uma hora para o almoço, estudavam o catecismo anglicano até as 17.30 h. Constatando os bons resultados dessa experiência, Raikes publicou um artigo em seu jornal explicando o que era a Escola Dominical, em 3 de novembro de 1783. Um desses resultados foi que a taxa de criminalidade de Gloucester passou a cair progressivamente (Em 1792 não houve um só caso julgado pela comarca de Gloucester).
O trabalho de Raikes foi saudado com entusiasmo, e em breve, escolas dominicais já estavam sendo criadas em todo o Reino Unido e a ideia foi exportada para os Estados Unidos. Seu trabalho foi muito assessorado pelo comerciante William Fox (1736-1826), diácono da Igreja Batista da Rua Prescott, em Londres.
Impressionado pelas escolas dominicais fundadas por Raikes, que eram responsáveis pela redução do índice de criminalidade de Gloucester, Fox chamou Raikes para formar uma associação para a promoção e criação de escolas dominicais. Juntos criaram, em 1785, a Sunday School Society of Great Britain (Sociedade da Escola Dominical da Grã-Bretanha), com o apoio de alguns bispos anglicanos.
Essa sociedade, ajudada por muitos filantropos, abriu cerca de trezentas escolas dominicais, suprindo-as com livros, material didático e professores.Através de sua gráfica Raikes publicou o Sunday School Companion, livro com versículos bíblicos para leitura. Segundo informações, já em 1787, 200 mil crianças eram alunas da Escola Dominical em toda a Inglaterra.
A primeira Escola Bíblica Dominical brasileira foi organizada na cidade do Rio de Janeiro em 1836, pelo Pastor Justin Spaulding, da Igreja Metodista, com 30 alunos, a maioria dos quais estrangeiros, sendo alguns brasileiros. Entretanto, o modelo de Raikes, voltado para o ensino bíblico infantil, só foi aplicado pela primeira vez pelo casal de missionários escoceses independentes Robert e Sarah Kalley, que em 19 de agosto de 1855, em Petrópolis, iniciaram uma EBD com apenas cinco crianças. Esse foi o marco inicial da Igreja Evangélica Fluminense, pioneira entre as igrejas congregacionais no Brasil.
A primeira igreja batista brasileira foi organizada em Santa Bárbara do Oeste, SP, em 1871, e desde o início usou-se a Escola Dominical para o ensino da Bíblia, pois sua utilização já havia sido disseminada nos Estados Unidos da América, de onde vieram os fundadores dessa primeira igreja. O chamado protestantismo de missão, já contou, ao chegar em terras brasileiras, com essa importante ferramenta, que é a EBD, para evangelizar o país. A imensa maioria da liderança das igrejas evangélicas brasileiras nos seus primeiros cem anos de história foi formada na EBD.
O principal objetivo da EBD é o ensino bíblico, obviamente, mas esse ensino é basicamente voltado para a transformação do aluno, sendo, portanto, claramente evangelístico, por um lado, e de formação moral, por outro lado. Em outras palavras, o ensino praticado na EBD leva o discípulo a construir uma fé pessoal no Deus Criador, Salvador e Senhor de sua vida, e a responder às exigências éticas desse Deus em sua vida cotidiana. Paralelamente, instrui o crente a respeito da comunhão com os demais irmãos de fé, e também a respeito do serviço ao próximo.
Na verdade a EBD englobou e potencializou tudo o que uma igreja cristã local necessita ensinar, a começar pela salvação. Por sua abrangência, tanto em termos de idade como em termos de classes sociais, é uma organização amplamente inclusiva. E pelo fato de lidar com as crianças desde a mais tenra idade, exerce influência por toda a vida do indivíduo. Os filhos dos crentes convertem-se não só pelo testemunho dos pais, mas também pelo ensino da EBD. Além disso, por basear-se no princípio do livre exame da Bíblia por cada pessoa, tornou-se um poderoso instrumento no desenvolvimento das liberdades pessoais.