De que tenho medo? (Série MENTORIA ESPIRITUAL, 4)

(1João 4.15-21)

 

Perguntaram à cantora Mara Maravilha se tinha medo. Ela disse que sim, embora afirmando que o medo é uma grande mentira:

— Eu tenho medo, por exemplo, de ficar sozinha, de andar só. Medo de engordar, de não ser aceita. ¹

Quais são os seus medos?

Precisamos refletir sobre eles, porque os medos nos impulsionam ou nos paralisam.

 

LISTA DE MEDOS 

A lista de medos é grande e começo por mim mesmo, que não tenho medo de multidão (agorafobia), não tenho medo de altura (acrofobia), não tenho medo de montanha russa, não tenho medo da morte (tanatofobia), mas tenho medo do escuro da noite (nictofobia). Desde criança, quando me fizeram atravessar lugares escuros, para me tirar o medo do escuro, que tenho medo do escuro. Devo também diz que, embora o coração ainda bata mais forte, como batia nos desafios que me faziam aos seis anos de idade, eu encaro o medo e faço o que tenho que fazer… tremendo.

E quanto a você: de que você tem medo?

Talvez pensemos no medo de estar num lugar alto, o que leva muitas pessoas a não entrar ou entrar suando ou sob o poder de remédios numa aeronave. Segundo o Ibope, 26% dos homens brasileiros têm medo de andar de avião, mas o índice é muito alto entre as mulheres: 57%. ² Hà muitos que têm medo de dirigir automóveis (amaxofofia).

Talvez você tenha algum outro medo, como de injeção (aicmofobia), de ficar sozinho (autofobia), de ficar em lugares fechados (claustrofobia), de trovões ou relâmpagos (brontofobia), de baratas (catsaridafobia), de ratos (surifobia), de cães (cinofobia) ou de cobras (ofidiofobia). Talvez você sinta ciberfobia (medo de computadores) ou odontofobia (medo de dentista).

 

O medo torna miserável a nossa vida, sobretudo quando ele é sutil.

Nem sempre nos escondemos e assumimos que temos medo das opiniões dos outros a nosso respeito.

Nem sempre adiamos uma decisão, às vezes nunca tomadas, e reconhecemos que temos dificuldade em mudar.

Nem sempre deixamos de ousar e afirmamos que temos medo de fracassar.

Nem sempre evitamos a comunhão com o próximo e admitimos que  temos medo de amar o próximo, talvez por causa de uma decepção dramática.

Nem sempre adoramos a Deus e confessamos que não nos achamos amados por Ele.

 

NÃO TENHA MEDO, DIZ A BÍBLIA

Diante do poder do medo, encontramos na Bíblia 78 passagens que recomendam a que não temamos. 

O mais amplo deles está no capítulo 4 da Primeira Carta de João (4.15-21):

 

"Se alguém confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus. Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor.

Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. Dessa forma, o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele.

No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.

Nós amamos porque ele nos amou primeiro".

(1João 4.15-19)

 

O texto é sobre as consequências da fé em Jesus Cristo. O autor procura mostrar duas destas consequências desta fé na vida prática. 

Uma — presente em toda a carta — é o amor que devemos manifestar ao próximo, no modelo do amor de Deus para conosco, amor que possibilita o nosso, já que Ele nos amou primeiro.

A outra consequência é a confiança, o oposto do medo. João nos mostra que medo e amor são incompatíveis. Assim, quem tem medo precisa ainda ser aperfeiçoado no amor de Deus, que traz confiança em qualquer contexto. ³

Esta confiança parte de uma certeza que podemos ter: o perfeito amor de Deus nos garante que fomos salvos e que, logo, não temos motivos para temer o julgamento final, porque não seremos castigados porque o amor de Deus já nos declarou justificados. Como a vida eterna, garantida, tem efeitos sobre a vida vivida aqui, podemos ter a mesma confiança para todas as áreas da vida.

Assim, se temos medo, precisamos aprender a não ter medo.

Por que terei medo da opinião dos outros, se a opinião de Deus a meu respeito é que estou justificado?

Por que retardarei uma decisão, se estou envolvido no amor de Deus, manifesto em Jesus Cristo?

Por que não terei coragem de ousar, se diante do meu eventual fracasso, ouvirei que fui aprovado por Deus?

Por que recearei em amar o meu próximo temeroso de ser rejeitado, se já fui aceito por Deus?

Por que não adorarei a Deus, se Ele não olha para a qualidade técnica do meu canto, mas para a intenção do meu coração?

 

APRENDENDO A NÃO TER MEDO

Que devemos fazer, para aprender a viver de modo confiante?

 

1. Precisamos viver a realidade do perdão que nos alcançou.

Precisamos sempre ao Espírito Santo que nos ensine e ajude a viver na plenitude da consciência que não há culpa em nós quando, tendo falhado, pedimos perdão a Deus que nos justifica, pelo sangue de Jesus, de todos os nossos pecados. (Ouçamos a promessa, com alegria: "Se confessarmos os nossos pecados, ele [Deus] é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça" — 1João 1.9.) 

Esta é uma conseqüências do amor de Deus: este amor expulsa o medo. (1João 4.18)

 

2. Precisamos entender a dinâmica do medo em nossas vidas.

Por que estamos com medo? Esta é a pergunta reveladora, por mais incômoda que seja, que devemos fazer. Jesus fez esta pergunta aos discípulos, numa noite em que o mar estava agitado: 

— Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé? (Marcos 4.40).

O que o medo está fazendo conosco? Pode ser que nos esteja paralisando, como um gás. Como o medo é irracional, ele faz com que vejamos gigantes quando estamos distantes de pessoas de altura regular, como aconteceu com os dez medrosos espiões hebreus em pesquisa na terra de Canaã (Número 13).

Como é dificil ver as coisas como elas são e não do tamanho que o medo as retrata.

Nem todo o medo — precisamos nos lembrar — é ruim. Há situações que o medo, vindo de perigos reais, nos ajuda a agir de modo adequado, levando-nos a gestos de cautela para a nossa própria proteção.

 

3. Precisamos viver sabendo que Deus está em nós e conosco.

A garantia é clara: "Se alguém confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus" (1João 4.15).

Jesus mostrou esta verdade na prática (Mateus 14.22-32):

 

"Logo em seguida, Jesus insistiu com os discípulos para que entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia a multidão.

Tendo despedido a multidão, subiu sozinho a um monte para orar. Ao anoitecer, ele estava ali sozinho, mas o barco já estava a considerável distância da terra, fustigado pelas ondas, porque o vento soprava contra ele.

Alta madrugada, Jesus dirigiu-se a eles, andando sobre o mar. Quando o viram andando sobre o mar, ficaram aterrorizados e disseram:

 

Pedro precisava aprender — e nós também — que "Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas". Deus, que está em nós, é maior de que todos os poderes do mundo (1João 4.4.), inclusive o poder do medo. 

Se queremos vencer, precisamos ver Jesus em meio aos nossos medos, ⁴ pronto para nos acalmar, como quando calou a tempestade.

Vendo Jesus, podemos lançar sobre os ombros dEle os nosso temores, como aprendemos: "Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês" (1 Peter 5.7). Podemos substituir a palavra "ansiedade" por "medo", que entenderemos melhor a recomendação: "Lancem sobre Jesus todos os seus medos, porque ele tem cuidado de vocês".

 

4. Precisamos deixar o amor de Deus crescer dentro de nós.

Releiamos 1João 4.16b-17:

 

"Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.  Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele"  (1João 4.16-17).

 

A dimensão pedagógica deste amor fica bem expresso em outra versão:

 

"Deus é amor. Quando passamos a habitar permanentemente no amor, vivendo uma vida de amor, vivemos em Deus e Deus vive em nós. Assim, o amor tem o controle da casa, fica à vontade e amadurece em nós, e não temos mais preocupação com o dia do juízo — nossa situação no mundo é idêntica à de Cristo" (1João 4.16-17 — A Mensagem)

 

Precisamos, então, pedir ao Espírito Santo que nos ensine e ajude a deixar o amor de Deus crescer em nós rumo à perfeição. ⁵

Esta caminhada do aperfeiçoamento do amor de Deus em nós ou entre nós, no sentido que esse amor vai amadurecendo em nós, é um processo. Neste processo:

 

. permitimos que o amor de Deus nos envolva, cada dia mais;

. afirmamos que queremos viver como alguém que é amado por Deus e confia nEle;

. reafirmamos que queremos viver como alguém que tem Jesus assentado ao seu lado, mesmo que o medo esteja assentado num banquinho no canto da sala do coração;

. convidamos o amor de Deus para moldar o nosso coração, de modo que o medo vá baixando o nível seu poder, rumo à extinção. (Este processo, de ser moldado pelo Espírito de Deus, muitas vezes é doloroso, porque implica em mudanças no nosso modo de ser, porque mudar dói e, muitas vezes, é preciso que doa.) 

. desejamos ser aperfeiçoados pelo amor de Deus, para viver de modo confiante, confiança que nos leve inclusive a um relacionamento saudável e seguro com as outras pessoas.

 

***

 

Chega de medo.

 

ISRAEL BELO DE AZEVEDO
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¹  Entrevista disponível em <http://odia.ig.com.br/portal/diversaoetv/mara-maravilha-descobri-o-sexo-há-quatro-anos-1.432712>.
²  Resultados disponíveis em <http://www.ibope.com.br/opp/pesquisa/opiniaopublica/pop.asp?IMAGE=av3a>
³  CARSON, A.D., ed. Comentário bíblico Vida Nova. São Paulo: 2011, p. 2108.
⁴  MOORE, Travis. Overcoming fear. Disponível em <http://www.sermoncentral.com/sermons/overcoming-fear-travis-moore-sermon-on-endurance-31704.asp?Page=1>
⁵  HENDERSON, David. Getting Over Fear. Disponível em <http://www.sermoncentral.com/sermons/getting-over-fear-david-henderson-sermon-on-fear-and-worry-76387.asp?Page=1>