ATÔNITOS (Sylvio Macri)

Foi assim que ficaram os ouvintes de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. É

o que diz Lucas 4.32: “E maravilham-se com o seu ensino, porque a sua

palavra era proferida com autoridade.” O verbo traduzido do texto

original por maravilhar-se significa algo como levar um golpe sem

esperar e ficar atordoado.

A surpresa era pelo modo como Jesus ensinava. Os rabinos faziam longas

citações de mestres do passado e estabeleciam uma linha de tradição

para fundamentar seu ensino. Além disso, preocupavam-se basicamente em

criar regras minuciosas sobre o que praticar ou não, as quais podiam

ser cumpridas de uma forma exterior, levando à hipocrisia. Ao

contrário, Jesus falava diretamente: “Eu, porém, vos digo”. Não para

desdizer a Palavra de Deus, mas mostrar ao ouvinte o seu significado

mais profundo.

A surpresa era ainda quanto a quem ele ensinava. Esta foi uma das

maiores acusações feitas a ele: ensinava às multidões classificadas

pelos escribas e fariseus como ralé, gente sem religião e sem

moralidade, entre os quais se incluíam ladrões, corruptos, prostitutas,

etc. Em vez de frequentar sinagogas, onde nem sempre era bem recebido,

preferia as ruas, as praças, as casas das pessoas do povo e os locais

descampados, onde todos podiam estar livremente e ouvir seu ensino.

Aliás, foi “fora da porta” que ele se deixou crucificar (Hb.13.12).    

  

Os ouvintes ficaram atônitos também quanto a o que ele ensinava. Mais

do que “Eu vos digo”, ele podia afirmar “Eu sou”. O conteúdo da Palavra

era ele mesmo: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (João 1.14).

Era ele a própria verdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos

libertará.” (João 8.32). Era o pão da vida, a água da vida, o bom

pastor, a ressurreição e a vida, a luz do mundo, o caminho, a verdade e

a vida, a videira verdadeira. Ele veio justamente para cumprir em si

mesmo a Palavra de Deus.

O que mais impressionava em Jesus, porém, era para o que ensinava.

Havia poder transformador em suas palavras. Não só podia dizer

“perdoados estão os teus pecados”, mas também “levanta-te e anda”. Não

apenas “eu sou a ressurreição e a vida”, mas também “Lázaro, sai para

fora.” Os demônios sentiram o poder de uma simples ordem sua: “Sai!”.

Sua palavra era corroborada pelos milagres, mas o fim era que as

pessoas cressem e tivessem vida em seu nome (João 20.31).

Pr. Sylvio Macri