Foi assim que ficaram os ouvintes de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. É o que diz Lucas 4.32: “E maravilham-se com o seu ensino, porque a sua palavra era proferida com autoridade.” O verbo traduzido do texto original por maravilhar-se significa algo como levar um golpe sem esperar e ficar atordoado.
A surpresa era pelo modo como Jesus ensinava. Os rabinos faziam longas citações de mestres do passado e estabeleciam uma linha de tradição para fundamentar seu ensino. Além disso, preocupavam-se basicamente em criar regras minuciosas sobre o que praticar ou não, as quais podiam ser cumpridas de uma forma exterior, levando à hipocrisia. Ao contrário, Jesus falava diretamente: “Eu, porém, vos digo”. Não para desdizer a Palavra de Deus, mas mostrar ao ouvinte o seu significado mais profundo.
A surpresa era ainda quanto a quem ele ensinava. Esta foi uma das maiores acusações feitas a ele: ensinava às multidões classificadas pelos escribas e fariseus como ralé, gente sem religião e sem moralidade, entre os quais se incluíam ladrões, corruptos, prostitutas, etc. Em vez de frequentar sinagogas, onde nem sempre era bem recebido, preferia as ruas, as praças, as casas das pessoas do povo e os locais descampados, onde todos podiam estar livremente e ouvir seu ensino. Aliás, foi “fora da porta” que ele se deixou crucificar (Hb.13.12).
Os ouvintes ficaram atônitos também quanto a o que ele ensinava. Mais do que “Eu vos digo”, ele podia afirmar “Eu sou”. O conteúdo da Palavra era ele mesmo: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (João 1.14). Era ele a própria verdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8.32). Era o pão da vida, a água da vida, o bom pastor, a ressurreição e a vida, a luz do mundo, o caminho, a verdade e a vida, a videira verdadeira. Ele veio justamente para cumprir em si mesmo a Palavra de Deus.
O que mais impressionava em Jesus, porém, era para o que ensinava. Havia poder transformador em suas palavras. Não só podia dizer “perdoados estão os teus pecados”, mas também “levanta-te e anda”. Não apenas “eu sou a ressurreição e a vida”, mas também “Lázaro, sai para fora.” Os demônios sentiram o poder de uma simples ordem sua: “Sai!”. Sua palavra era corroborada pelos milagres, mas o fim era que as pessoas cressem e tivessem vida em seu nome (João 20.31).
Pr. Sylvio Macri