Jesus classificou de felizes os pobres de espírito. E a razão para esta felicidade é que eles são os melhores cidadãos, porque habitantes da terra e do céu.
Na verdade, esta expressão nos causa um grande malestar. Lucas nos traz apenas pobres. Mateus é mais detalhista. As expressões são sinônimas. Ser apenas pobre pode ser uma condição injusta, para a qual aquele que nela está pode ter ou não contribuído. Ser pobre de espírito é uma escolha. Neste sentido, se a pobreza econômica decorre das atitudes dessa pessoa, ela é pobre também de espírito.
Jesus está nos convidando a atitudes fortes.
Com o seu jeito sempre paradoxal, ele toma aquelas pessoas consideradas fracas, para falar da verdadeira fraqueza e nos convidar a desenvolver atitudes verdadeiramente fortes.
Jesus sabe que somos capazes de esconder nossa fraqueza na arrogância. Uma pessoa arrogante esconde sua insegurança; disfarça seu medo; protesta contra a rejeição de que foi alvo. E o faz da pior maneira possível: mostrando-se forte, quando é fraca; humilhando quem lhe parece forte.
Jesus, conhecedor de nossa fraqueza, nos conduz pela mão, como um pedagogo, a uma vida que vale a pena, a partir dos escombros da rejeição.
Felizes são, portanto, os pobres de espírito.
Os pobres de espírito são felizes porque não estão viciados em dar a última palavra nas discussões e nas decisões. Antes, ouvem os conselhos dos outros, recebidos como sábios e oportunos.
Os pobres de espírito são felizes porque não acham que podem comprar amor numa casa de bajulação ou de prostituição. Antes, se preciso, convivem com sua solidão, à espera de relacionamentos baseados no respeito e no afeto.
Os pobres de espírito são felizes porque sabem fruir do melhor das ciências, para uma vida mais saudável; das artes, para uma vida mais bonita; das tecnologias, para uma vida mais agradável, e das amizades, para uma vida mais fraternal, mas sem permitir que elas as seduzam porque sabem que a vida é mais que esses bens.
Os pobres de espírito são felizes porque não se pastoreiam a si mesmos. Antes, têm a coragem de se abrir para a Palavra de Deus aberta diante dos seus olhos, em busca da orientação segura, recebida com os ouvidos atentos para não ceder às interpretações movidas por interesses escusos e ouvidos limpos para não confundir a Bíblia de Deus com as palavras dos homens.
Os pobres de espírito são felizes porque, no final do dia, dormem, sem o tormento das guerras que não travaram, das mentiras que não contaram, dos elogios que não venderam, dos gritos que não deram, certos agora de que Deus lhes dá o descanso que os renova para um novo dia.
(Da série "Aprendendo a ser feliz, com Jesus", 1/8
ISRAEL BELO DE AZEVEDO