Tendências, 2 (Prof. Adalberto Alves de Sousa)

2 – Eliminação do demonstrativo “este”
 
Hoje vou falar de uma outra tendência que tenho observado no português nos dias atuais. Trata-se da eliminação praticamente por completo dos pronomes demonstrativos de primeira pessoa, “este” (esta, estes, estas) e suas contrações, “deste” (desta, destes, destas), “neste” (nesta, nestes, nestas).
As pessoas do discurso são três: a primeira é a que fala; a segunda é aquela com quem se fala; e a terceira é aquela de quem se fala. Os pronomes demonstrativos se relacionam a essas pessoas, e a relação entre eles pode ser espacial ou temporal. 
Aquilo que está no domínio da pessoa que fala, o que está com ela ou próximo a ela é referido na primeira pessoa: “Este livro aqui na minha mão”; “Este microfone que estou usando”; “Estamos aqui em torno desta mesa para conversar”; “Quem está aqui pela primeira vez nesta manhã?”; “Neste mês estamos desenvolvendo muitas atividades”.
O que está no domínio da pessoa com quem se fala e aquilo que não se refere ao tempo atual é referido na segunda pessoa: “Esse livro aí na sua mão”; “Esse microfone que você está usando”; “Vocês estão aí em torno dessa mesa para conversar”; “Nessa década passada enfrentamos muitos problemas”.
Aquilo que não está no domínio das duas primeiras pessoas é referido na terceira pessoa: “Aquela casa que vimos ontem não nos atendia”; “Naquele dia choveu muito”.
Nos textos escritos, aquilo que foi dito anteriormente costuma ser referido como “esse”; o que vai ser dito à frente, como “este”. O texto bíblico exemplifica: “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (João 3.19).
A tendência ao uso do pronome de segunda pessoa é antiga, mas atualmente até aqueles usuários do idioma que o conhecem bem estão aderindo a ela. Telejornais que historicamente primaram pela correção gramatical, hoje em dia já não fazem distinção entre “este” e “esse”.
O grande problema é que não avisaram isso aos avaliadores, seja das redações dos exames vestibulares, seja dos currículos de quem procura um emprego. Muita gente boa fica reprovada no vestibular, muita gente boa tem seu currículo descartado em processo de seleção para emprego, por não dominar preceitos gramaticais que são básicos. Se você quiser ficar no time dos que já deletaram “este” (esta, estes, estas), eu não vejo problema nenhum, desde que você não o faça naqueles textos que serão submetidos a avaliação e definirão alguma coisa em seu futuro.