A igreja de Tessalônica foi fundada pelo apóstolo Paulo e seus companheiros após algumas poucas semanas de trabalho naquela cidade, segundo podemos entender do livro de Atos. Logo no início, contudo, como sempre acontecia, veio a perseguição movida pelos judeus, e os missionários tiveram que ir para Beréia, cidade situada a 80 km de Tessalônica. Os mesmo perseguidores, porém, os alcançaram também em Beréia. Paulo, então, deixou Silas e Timóteo ali e foi para Atenas sozinho. Enquanto esperava por eles em Atenas Paulo se impacientava, se preocupava e sofria ao pensar na jovem igreja sendo assolada pelos perseguidores judeus e outros que a eles se uniram. Por isso já havia recomendado expressamente a Timóteo que fosse a Tessalônica verificar a situação da igreja. Ao voltar de Tessalônica e Beréia, e encontrar-se com Paulo já em Corinto, além de trazer boas notícias sobre a firmeza na fé e o testemunho dos tessalonicenses, Timóteo mencionou algumas dúvidas que ainda perduravam na mente daqueles irmãos, especialmente porque alguns dos primeiros crentes haviam morrido e eles estavam inseguros acerca da condição desses que morreram quando Cristo voltasse. No capítulo 4, versículos 13 a 18, da primeira carta aos tessalonicenses, Paulo está respondendo a essas dúvidas. Vejamos o que ele diz parte por parte.
V.13 – Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança.
O verbo “dormir” era usado nas culturas antigas como uma metáfora da morte. A figura, contudo, não significa “sono da alma” ou “existência inconsciente até a ressurreição”. Tanto Jesus como Paulo, quando usaram o verbo, estavam simplesmente se referindo às pessoas cuja vida na terra já havia cessado.
Paulo deixa claro que nessas culturas não havia esperança de vida após a morte. Até mesmo entre os judeus isto era discutido; os saduceus, por exemplo, que eram do partido sacerdotal, não criam na ressurreição.
Os crentes não são proibidos de entristecer-se pela morte de seus queridos, mas sim de fazê-lo à maneira dos não crentes, que não têm esperança de vida após a morte.
V. 14 – Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele.
Paulo menciona aqui o resumo do credo apostólico: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (I Co.15:3,4). Cristo morreu assim como os irmãos tessalonicenses morreram. Porém, o mesmo Deus que ressuscitou a Cristo ressuscitará aqueles irmãos. “Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias dos que dormem.” (I Co.15:20), isto é, na ordem da ressurreição ele é o primeiro, depois virão os que morreram enquanto criam nele (os que dormem em Jesus).
Mas o apóstolo acrescenta um detalhe importante: os que morreram como crentes em Cristo já estão com ele, e não em algum lugar ignorado ou em um estado inconsciente. Deus voltará a trazer, de sua presença, esses crentes, juntamente com Cristo, para o ato final da sua salvação, que é a ressurreição deles. “Em Cristo” significa em união com Cristo, pela fé.
V.15 – Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem.
Agora Paulo passa a esclarecer com mais precisão a questão, dizendo que os irmãos que já morreram em nada serão prejudicados por ocasião da volta de Cristo, como os tessalonicenses talvez pudessem pensar. Pelo contrário, como já estão com Jesus na glória, eles é que terão a prioridade sobre os que estiverem vivos quando da vinda de dele. De modo nenhum os crentes já mortos ficarão para trás. Na verdade eles já estão à nossa frente.
E este ensino, que o apóstolo diz ser “a palavra do Senhor”, foi uma revelação direta de Jesus para ele, visto que não se encontra nenhum paralelo do mesmo nos evangelhos.
V. 16 e 17 – Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar com o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.
Paulo agora informa a cronologia desse ato final:
1. Alarido
No original grego é usada uma palavra militar que significa voz de comando, palavra de ordem.
2. Voz de arcanjo (Mt.24:31; Jd. 14; Ap.1:10;4:12;7:2)
O único arcanjo mencionado no NT é Miguel (Jd.9) e a tradição judaica diz que este arcanjo é que convocava os santos e fazia soar a trombeta para avisar sobre a iminência do juízo de Deus.
3. Trombeta de Deus (Mt.24:31; I Co.15:52; Ap.8:2-10:7;11:15-19)
Os arautos da antiguidade faziam soar a trombeta com o fim de reunir o povo para ouvir os decretos do rei.
Estas três primeiras manifestações evidenciam o fato de que a vinda do Senhor será claramente visível e audível a todos os homens.
4. Ressurreição dos mortos
Paulo fala aqui apenas dos que morreram em Cristo; eles ressuscitarão primeiro, no sentido de isto ser antes de os que estiverem vivos serem convocados e reunidos aos ressuscitados. Porém, os evangelhos falam da uma só ressurreição e julgamento, tanto de crentes como de não crentes (Mt.25:31-33,46; Jo.5:25,28,29).
5. Reunião dos mortos ressuscitados e dos que estiverem vivos para serem arrebatados, indo ao encontro de Jesus nos ares.
A idéia aqui é de que os crentes irão se encontrar com Jesus antes que ele chegue à terra, para assentar-se no trono do juízo, como acontecia quando um novo rei chegava à cidade na antiguidade: o povo saía de encontro ao rei no meio do caminho para acompanhá-lo triunfalmente na sua chegada à cidade e para conduzi-lo ao seu trono.
Com a frase “E assim estaremos sempre com o Senhor” Paulo está dizendo que será dessa maneira cumprida a fase final da missão salvífica do Senhor Jesus Cristo, correspondendo ao que o próprio Jesus disse em Mt.25:34: “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.”
V. 18 – Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.
A morte dos irmãos em Cristo pode entristecer-nos apenas no sentido de que não os teremos mais entre nós, trabalhando e convivendo conosco, na igreja e na família, mas o fato de que estão na presença de Jesus e que ele e os trará de volta para reunirem-se a nós no dia da sua vinda, nos serve de consolo e encorajamento para continuarmos servindo ao Senhor com fidelidade e esperando por aquele dia glorioso. Maranata!
Pr. Sylvio Macri