INFORMAÇÕES DO CONTEÚDO DO SEGUNDO CADERNO — Capítulo V (Ignacio Resende)

“Por incrível que pareça este “novo achado”, aqui denominado de “segundo caderno” é, realmente, a continuação do “primeiro caderno”. Enquanto o Professor Hasselman e o Mestrando Otávio folheavam as primeiras páginas, intimamente, oravam em agradecimento a Deus por lhes ter entregue este documento tão importante para as suas pesquisas, em forma sequencial ao primeiro e já pediam ao Senhor que lhes desse a oportunidade de encontrar novas referências que permitissem dar conhecimento à humanidade acerca de tão importante período da vida humana.
Mais incrível ainda foi saberem que o pesquisador Laureano na continuação do trajeto de volta de Coimbra à Lisboa deu sequência à narração ao Capitão Maurício do que já havia contado a ele sobre a tradução da tabuinha nº 11. Disse, em primeiro lugar, que o roubo da tabuinha não impedia que pudesse reproduzir, através de sua memória, toda a tradução que já havia feito dessa tabuinha, pois, terminara essa tarefa em casa. Por outro lado, entendia que o ladrão, assim que fosse localizado, não deveria ser preso e, sim, seguido por detetive, pois, era a solução para se alcançar as tabuinhas que tinham sido furtadas pelo Mestre Antonio. Claro que não se referia de forma tão direta, mas, apoiado na hipótese que teria havido um furto de tabuinhas e que o ladrão precisava da tradução de uma tabuinha para possibilitar a tradução daquelas quer haviam sido furtadas.
Disse ele, em continuação que Noé falava da construção da arca, sua obra prima, com paixão, pois, recebera a missão de construí-la do próprio Deus. Embora a Bíblia descreva esse evento tão marcante, de forma muito sucinta, trata-se re uma epopeia que espero, com a graça de Deus, continuar a encontrar dados tão precisos, como àqueles descritos na tabuinha nº 11, em outras das tabuinhas que ainda não foram traduzidas.
O Capitão Maurício até, então, totalmente ignorante a respeito dos primeiros resultados do projeto, estava inteiramente absorto em ouvir o Pesquisador Laureano, homem sensível e um excelente conversador, munido de facilidade para a narrativa e, ao mesmo tempo, dotado de um raciocínio lógico, que ia descortinando à medida que empreendiam essa viagem. Um pouco impaciente com todos esses comentários pediu ao Pesquisador Laureano que continuasse a narrar sobre a tabuinha nº 11, a partir do ponto em que foram interrompidos quando fizeram a parada para descanso dos cavalos e para o chá, ocasião em que o Pesquisador fora atacado pelo ladrão.
Voltando ao conteúdo da tabuinha nº 11 Laureano continuou sua narrativa como a seguir: “Noé, após esse curso de construtor de embarcações, em que se viu, também, aprendendo a trabalhar com o ferro, recebeu a incumbência de construir uma arca, diretamente por Deus, usando madeira de gofer, betume e medidas fornecidas pelo próprio Deus quanto a comprimento (trezentos côvados), largura (ciquenta côvados) e altura (trinta côvados) e com três andares.
Segundo sua narrativa Deus lhe deu, também, cento e vinte anos para a sua construção, tempo suficiente, também, para que os homens ouvissem suas declarações de que haveria um grande dilúvio, no qual todos morreriam se não estivessem na arca.

Ao receber essa tarefa hercúlea Noé tomou as seguintes providências imediatas:
a)    Enviou seus três filhos Sem, Cam e Jafé para Tecnópolis para estudarem nos mesmos cursos que havia frequentado anos atrás;
b)    Saiu à procura de uma floresta de gofer, pois, precisaria de grande quantidade de madeira para a construção da arca;
c)    Construiu um tanque, em sua casa, semelhante àquele que havia utilizado em seu curso de construção naval para os testes necessários de estabilidade da arca que deveria construir;
d)    Preparou um modelo reduzido, em escala 1:100, de gofer e, em sua confecção utilizou chapas de ferro unindo as peças de madeira e betumou o modelo;
e)    Submeteu, então, o modelo a ondas muito violentas para verificar o maior grau de inclinação que poderia alcançar sem adernar, tendo obtido o fantástico resultado de setenta graus;
f)    Fez um carroção com seis rodas, duas na frente, dias no meio e duas na trazeira, com comprimento equivalente ao tronco mais comprido que mediu na floresta, ou seja, quarenta e cinco metros;
g)    Treinou oito cavalos, em grupos de quatro, para puxar o carroção, inicialmente vazio e, em seguida, adicionou troncos cada vez em maior número e peso, até colocar cinco troncos e os transportou da floresta à área que escolheu para a estocagem e a secagem dos mesmos.
Seu pai, Lameque, esteve ao seu lado durante esses dois anos de preparativos e seu avô Matusalém trabalhou no preparo das peças de ferro, não quebradiças, conforme lhe pedira Noé, bem como na fabricação dos elementos de fixação de chapas de ferro em troncos aparelhados de gofer. Preparou, também, as ferramentas de bronze para o corte das árvores e para o aparelhamento dos troncos.
Noé avaliou mentalmente, também, nos seus dias de descanso, um dia a cada seis dias trabalhados, conforme lhe orientara o Senhor, um texto básico a ser usado para explicar às pessoas sobre o dilúvio, sua manifestação, sua duração e o extermínio de todas as pessoas de Pangéia (homens, mulheres e crianças) assegurando que não morreriam os que estivessem na arca que estava construindo”.
Esta exposição calorosa do Pesquisador Laureano, ao ser concluída, deixou em ambos um gostinho de ‘quero mais’. Até concluírem a viagem a Lisboa onde, ao chegar, foram diretamente para a sede do projeto, conversaram o tempo todo sobre as inúmeras perguntas que podiam conceber, tanto sobre a vida em Pangéia, quanto as razões do dilúvio devastador que ceifou tantas vidas humanas e o trabalho imenso de construção da arca. E ficaram questionando se teriam sido salvas mais pessoas, além da família de Noé, e porque Deus havia fixado um tamanho tão gigantesco para a arca. Ao questionarem entre si comparavam as dimensões da arca com as das caravelas que vinham sendo usadas pelos navegadores portugueses em suas viagens tão longínquas quanto a América do Sul, a África, a Ásia e a outros lugares distantes de Portugal.
A réplica das caravelas usadas por Pedro Alvares Cabral existente em Porto Seguro deve ter cerca de cinquenta côvados de comprimento, quinze côvados de largura e vinte côvados de altura, portanto, muito pequena diante da envergadura da arca de Noé.