Primeira oração de Jesus
“Pai nosso, que estás nos céus!
Santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino;
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.
Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia.
Perdoa as nossas dívidas,
assim como perdoamos aos nossos devedores.
E não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal,
porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre.
Amém".
(Mt 6.9-13; cf. Lc 10.21-22)
1
Esta oração não é propriedade de nenhum segmento cristão, seja católico, luterano, anglicano, presbiteriano, batista ou assembleano. Ao mesmo tempo, nenhum destes grupos deve deixar de fazer esta oração, em particular ou em grupo.
Assim, podemos pensar nesta oração, a Oração do Pai Nosso (porque é a expressão que a inicia, embora seja também chamada de "Oração do Senhor" ou "Oração Dominical — por meio do latim ‘Dominus’, que quer dizer "Senhor"), como uma fórmula, a ser repetida. Ela pode ser meditada e recitada, que ainda assim não empobrecerá, tão ricamente inesgotável é.
No entanto, se apenas a meditamos, perdemos. Se apenas a recitamos, repetindo-a, perdemos. Assim mesmo, devemos memorizá-la. Enriquecemo-nos quando a decoramos e repetimos.
Contudo, a riqueza maior é pensar nela como uma aula sobre oração. Por isto, é também chamada de "Oração-modelo".
2
Antes de ensiná-la, Jesus ofereceu uma série de instruções, para ressaltar que, em nossas orações, devemos orar de modo pessoal, não-protocolar, não-burocrático, dirigindo os nossos sentimentos na forma de palavras a Deus como o que Ele é: Nosso Pai, a quem pertencem o reino, o poder e a glória, eternamente.
Todas as nossas orações são a Ele, não a nós mesmos, não à congregação que nos ouve, no caso de uma prece pública. Todas as nossas orações devem louvar a Deus, afirmando sua imensa santidade, declaração que põe a nu a nossa maldade.
3
A oração começa e termina na mesma intenção: exaltando a Deus, pelo que Ele é: santo poderoso, poderoso e glorioso.
O mais valioso é como este Deus exaltado é chamado: por "Pai".
O lugar deste Pai em nossas vidas é que Ele é "nosso" Pai. Não é um pai genérico de todos; é nosso. Ele é poderoso e todo o universo Lhe pertence, mas Ele é "nosso".
Ele é santo, mas Jesus ensina a santificá-lo. Como podemos santificar a Deus? Nunca saberemos. O máximo que podemos dizer é:
"Pai, tudo és santo. Pai, que bom que tu és santo. Tu és santo e isto me deixa seguro. Tu és santo e eu preciso ser santo também. Nunca serei santo como tu és, mas amanhã poderei ser mais santo do que sou hoje. Eu torno Deus santo quando desejo que Ele me santifique. Diante desta santidade divina, eu posso ficar desesperado. Mas, antes de ser santo, Ele é Pai, Nosso Pai, pelo que não preciso ficar desesperado".
Quando dizemos "Pai nosso" (nosso Pai), evidenciamos que a oração é sempre relacional. Quando oramos, entramos em comunhão com Deus.
Quando dizemos "Pai nosso", deixamos o recôndito de nosso quarto e nos abrimos para Deus na presença daqueles que creem como nós cremos.
4
A oração termina com uma afirmação majestosa: "teu é o reino, o poder e a gloria para sempre".
Esta frase nasce do encontro com Deus. Este encontro faz germinar um desejo de honrar a Deus.
Assim, quando digo que o reino é "teu", afirmo que o reino não é "meu".
Temos os nossos reinos, alguns minúsculos. Assim mesmo, alguns somos reis autoritários, que governam seu reinos com palavras violentas e punhos de ferro.
Há pastores que se acham reis da sua igreja e se desesperam quando algo sai do seu controle. O conselho é orarem como Jesus orou: "Teu é o reino, o poder e a glória. Logo, Senhor, o que faço aqui é trabalho de servo. Ensina-me a te servir, servindo a meus irmãos".
Há pais (pais e mães) que se acham reis sobre seus filhos. Seu amor pelos filhos foi contaminado por um sentimento de posse e por uma prática autoritária. Assim, não são pastores dos seus filhos, mas algozes. Eles não podem dispor dos seus filhos. Devem amá-los, defendê-los, orientá-los, jamais exauri-los, espancá-los, sufocá-los. Precisam aprender a orar como Jesus ensinou: "Teu é o reino, o poder e a glória. Meus filhos são teus. Abençoa-os por meu intermédio. Senhor, se sigo padrões que aprendi e que não aprovas, ajuda-me a ser um pai como tu és".
Há cônjuges (maridos e esposas) que se acham reis sobre seu parceiro de vida conjugal. Sempre querem ter a ultima palavra, e não sabem ouvir. Sempre tomam todas as decisões, porque nunca se acham errados. Suas vontades são as únicas, como o seu cônjuge não pensasse, não desejasse, não sonhasse. Precisam aprender a orar como Jesus ensinou: "Teu é o reino, o poder e a glória. Graças te dou, Senhor, pelo meu cônjuge. Graças te dou porque somos diferentes. Não nos uniste para dominar um sobre o outro, mas para ser iguais e companheiros. Tu me conheces, Senhor, e sabes de como gosto de mandar e reinar. Não ha felicidade nisto. Abençoa-me para que eu possa amar e respeitar o cônjuge que me deste. Não sou rei. Sou servo de ti e do meu amor aqui".
Há filhos que se acham reis. Exigem dos seus pais como se fossem reis. Tratam seus pais como se fossem escravos. Não têm experiência, mas querem ensinar. Não têm responsabilidade mas querem conduzir. Se há pais que abusam da violência moral ou física, também há filhos que usam da força (seja espancando ou chantageando) para dominarem seus pais. Filhos que se acham reis precisam aprender a orar como Jesus ensinou: "Senhor, teu é o reino, o poder e a glória. Ajuda-me a amar meus pais, a reconhecer seu amor por mim, a aceitar sua orientação, a cuidar deles, se for necessário. Ajuda-me, Senhor, a guardar a minha língua e a recolher o meu braço. Quero amar, Senhor".
Há chefes que se acham reis sobre seus subordinados no mundo do trabalho. Não pedem, porque gritam. Não sugerem, porque exigem. Eles não se impõem pelo exemplo, mas pelo medo. Não pedem cooperação, porque acham que o sucesso da equipe ou da empresa lhe é devido. Eles se esquecem que naquela vida chefiada, pulsa um coração, desenvolve-se uma história, abrigam-se desejos. Eles precisam orar como Jesus ensinou: "Teu é o reino, o poder e a glória. Senhor, se estou numa posição de liderança, é para obter resultados e abençoar pessoas. Quanto maior a minha área ou empresa, mais pessoas, dentro e fora, serão abençoadas. Não importa o tamanho do meu poder. Não importa que meu estilo agressivo traga resultados elogiados. Teu é o poder. Ajuda-me a parar de me tratar como se eu fosse deus, porque quero dar todo o poder e toda a gloria a quem os tem, e é o Senhor".
Orar "Teu é o reino, o poder e a glória" é muito difícil. Por isto, Jesus nos ensinou a orar assim.
5
Entre as extremidades, como a indicar todo o domínio de Deus, estão os pedidos, os nossos pedidos.
Pedimos porque confiamos.
Pedimos quando confiamos.
A oração, portanto, deve sempre respirar confiança em Deus, a nossa confiança em Deus.
Confiamos tanto nEle que desejamos que a sua vontade prevaleça, mesmo que nos desagrade, como desagradaria a Jesus por um momento no jardim do Getsêmani. Confiamos tanto nEle que Lhe entregamos todas as dimensões da nossa vida, inclusive e sobretudo a nossa sobrevivência. Trabalhamos, mas não temos vergonha de dizer que dependemos dEle.
Confiamos tanto nEle que Lhe pedimos perdão quando pecamos porque sabemos que Ele nos perdoa, embora nos coloque uma tarefa: ter para com nossos irmãos, parentes, amigos e adversários a mesma atitude que Ele para conosco, ao nos perdoar.
Confiamos que Ele pode nos livrar do mal, venha de que fonte vier, e por isto lhe pedimos que impeça que o mal nos alcance, como Jabez (1Crônicas 9.9-20) pediu.
6
Em função de nossa natureza, orar, para nós, tem sido pedir.
Jesus nos ensina a exaltar a Deus:
“Pai nosso, que estás nos céus!
Santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino;
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.
(…)
Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre.
Amém".
(Mt 6.9-13; cf. Lc 10.21-22)
Jesus nos ensina fazer três tipos de pedidos.
"Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia.
Perdoa as nossas dívidas,
assim como perdoamos aos nossos devedores.
E não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal".
(Mt 6.9-13; cf. Lc 10.21-22)
Somos ensinados a pedir por alimento, por perdão e por livramento do mal. E de que mais precisamos?
Se temos pedido mais do que alimento, perdão e livramento do mal, não estamos orando como Jesus ensinou.
7
Jesus nos ensina a pedir alimento:
"Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia".
Em sua versão, refletindo o contexto norte-americano, Eugene Peterson traduz:
"Conserva-nos vivos com três boas refeições".
A tradução se aplica a boa parte das famílias brasileiras, mas não a todas, infelizmente. Há muitas famílias que ainda lutam para ter uma refeição por dia.
A situação em alguns países da África é dramática.
Contextos à parte, o "pão nosso" é o pão que permite que, comendo-o, continuemos vivos.
Aqui, pão não é apenas pão, mas o pão e o que comemos em nossas refeições.
Na Judeia do tempo de Jesus, as famílias que podiam — havia muita escassez — faziam duas refeições diárias: café da manhã, que podia incluir um pouco de peixe (como no relato que lemos em João 15.12), e jantar (ou refeição principal) em que eram servidos tipicamente: pão, queijo, vinho, hortaliças, frutas, ovos, frango ou peixe. Carne vermelha (carne de boi ou de cordeiro) era para ocasiões muitos especiais. Porco e crustáceos eram totalmente proibidos.
7a
Podemos pensar, então, que "pão nosso" é comida e, por extensão, tudo o que precisamos para sobreviver: pão, casa e saúde, nossas necessidades básicas. Jesus nos ensina a pedir por nossas necessidades básicas, que serão satisfeitas por Deus. Pão, portanto, é aquilo de que REALMENTE precisamos.
Pedir o pão não implica em não trabalhar pelo pão. Implica em pedir por ele, trabalhar por ele, sabendo que Deus é o provedor. O titulo que a edição Revista e Autorizada (SBB) dá para o salmo 127 define bem esta disposição de fé-confiança: "Todo bem procede de Deus". A oração do "Pai nosso" é a oração da dependência de Deus.
7b
Podemos ainda pensar que o pão nosso é o pão "nosso". É o pão de todos nós. É o pão que se compartilha; é o pão companheiro. Aliás, companheiro vem de Roma antiga onde se se chamava um amigo de "companio" (companheiro), vindo de "cum panis", aquele com que se reparte o pão.
Não podemos pedir pão só para nós, mas para todos os que precisam.
Não podemos nos contentar em ter, se tantos não têm. Entre os tantos que não têm, alguns não querem trabalhar, muitos não conseguem trabalhar, mas a razão principal é que não dividimos. Isto é verdade, no nosso dia-a-dia e no grande sistema. A fome no mundo não é encerrada porque os governantes (tanto dos países ricos quanto dos países famintos) não querem.
A desigualdade vem de muitas fontes, inclusive do nosso desperdício. Que adjetivo podemos dar para exclamar nosso sentimento quando, num restaurante, pratos de comida inteiros são deixados sobre a mesa e recolhidos ao lixo. Quantas fatias de pizza podemos comer e quantas comemos e o que fazemos com as porções que sobejam?
"Pão nosso" é um libelo contra o desperdício.
7c
O pedido do pão é feito para "cada dia".
"Cada dia" aqui salienta a dimensão da sobrevivência. É o pão para hoje. Não é o pão a ser acumulado. É o pão-maná (como no deserto, que não podia ser guardado). É o pão de quem depende de Deus. Orar assim é receber o pão, mesmo que granjeado com o trabalho, como um presente de Deus para nós.
7d
O que temos pedido a Deus?
Temos pedido o pão de cada dia?
Alguns temos pedido prosperidade.
Se prosperidade é a posse dos bens que nos permitem sobreviver, de modo digno, devemos pedi-la.
Se prosperidade é a posse dos bens que nos permitem sobreviver e nos dar o conforto adicional de uma casa bem grande, além de casas no campo ou na praia, automóveis de luxo que mostrem a nossa riqueza e dinheiro para comprar o que quisermos, não devemos pedi-la. Podemos pedir uma vida digna, não riqueza.
O ponto central é que o pão é pedido, não determinado. Nada determinamos. Apenas pedimos. Deus dará, se quiser.
No Antigo Testamento, as bênçãos são consequencias da obediência. Com Jesus, as bênçãos são frutos da graça de Deus. No Antigo Testamento, os sacrifícios que os fiéis realizavam resultavam em salvação. Com Jesus, é o sacrifício que Jesus fez que produz salvação.
Vou ler dois textos recentes escritos por um autor brasileiro e gostaria que merecessem a sua atenção.
No primeiro texto, o referido autor escreveu:
"O milagre que esperamos em nossa vida depende primeiro da atitude que tomamos em relação a Deus. (…) O milagre do novo nascimento ou da nova vida acontece em duas fases:
Primeiro: Atitude do homem para com Deus – Ninguém nasce de Deus sem primeiro se converter ou abandonar seus pecados. A conversão exige mudança de comportamento em relação a Ele. Mentiras, roubos, adultério, prostituição, enfim, as obras da carne são abandonadas. Gálatas 5.19. Isso é conversão.
Segundo: Atitude de Deus para com o homem — Quando o Espírito Santo vê o esforço da pessoa em substituir sua vontade pela de Deus, então Ele vem sobre ela e transforma sua vida, concluindo assim a Sua participação no milagre do novo nascimento". 1
Você concorda?
No segundo texto, o mesmo autor assim se expressou:
"Os favores de Deus não são adquiridos com dinheiro. Mas com a fé!… Só através da fé é possível relacionar-se com Ele e adquirir Seus benefícios. (…) Oferta é a expressão da fé. (…)
Assim como o verdadeiro amor une as pessoas através da entrega no altar, também no mesmo altar a verdadeira fé requer oferta. Como se sabe do amor de alguém se não há dedicação, entrega e sacrifício por ele? (…) Por isso, o Senhor ensina dar para então receber.
Ninguém contrata serviços de um médico, por exemplo, sem manifestar fé na sua competência. E a consulta que se paga reflete a confiança. Quando você dá a sua oferta, você está fazendo o mesmo: confiando em Deus, usando a sua fé.
Não há fé sem oferta, assim como não há oferta sem fé". 2
Concorda?
Os dois textos são de Edir Macedo, fundador e mentor da Igreja Universal do Reino de Deus.
O primeiro propõe a seguinte soteriologia: a conversão começa com o ser humano, que dá início ao processo da salvação. O papel do Espírito Santo é concluir o milagre do nascimento.
A fé, portanto, neste caso, é uma iniciativa humana. Eu gostaria de concordar, mas não posso, porque o apóstolo Paulo escreve outra coisa:
"Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos. (…) Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2.4,5,8-10).
Nada fizemos para ser salvos. A sequência e não ha outra. (1) Deus dá início à salvação. É o Espírito Santo que nos convence que estamos errados e que precisamos crer, como Jesus prometeu:
"Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque os homens não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais; e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado" (João 16:8-11).
Então, (2) cremos. Depois de crer, (3) somos chamados a viver de modo digno, com gestos dignos de nossa salvação.
O segundo texto propõe que podemos adquirir os favores de Deus por meio da fé, fé que se expressa na entrega de ofertas. Jesus não ensina que devemos dar para receber. Ele nos ensina que é melhor dar (isto é, dividir com o próximo) do que receber (do próximo). Podemos ampliar para dizer: é melhor dar a Deus do que receber dele. A fé deve ser desinteressada para receber este nome. Quem tem fé sabe que sua fé é uma resposta a Deus.
No caso da oferta, na igreja, quando a entregamos, estamos agradecendo a Deus e estamos disponibilizando nossos recursos para que ele alcance outras pessoas, como nos alcançou. As pessoas que estão sem Cristo estão mortas. Somos chamados a levar Cristo a elas e o fazemos através do testemunho que damos e da pregação que fazemos e outros fazem. Quando contribuímos, permitimos que outros também preguem.
Assim, pedir o pão de cada dia é viver pela fé, somente pela fé. Diz a Bíblia que o justo vive pela fé. Paulo diz isto (Romanos 1.17), citando o profeta Habacuque: "Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé" (Habacuque 2.4).
Vive pela fé quem sabe que a sua salvação vem de Deus e ele busca corresponder a este divino amor.
Vive pela fé quem sabe que tudo que tem provêm de Deus, que deixa instruções sobre como deve viver.
Vive pela fé quem nada exige de Deus e jamais se acha merecedor desta ou daquela bênção.
Vive pela fé quem não mede o amor de Deus pelas bênçãos materiais que recebe porque o que lhe importa é a fé, isto é, o relacionamento com Deus, não as bênçãos que ele dá.
Quem vive pela fé procura agradar a Deus, não para receber algo em troca, mas por amor. Numa comparação, o marido que leva o café para a esposa na cama e sai para o trabalho, feliz da vida, cometeu seu gesto por amor, apenas por amor. Quem ama a Deus procura agradá-lo apenas por prazer, não para receber um caminhão de coisas, sejam quais forem. A fé é um tipo completamente novo de relacionamento com Deus.
Quem vive pela fé pede confiantemente: "Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia".
Precisamos fazer esta oração todos os dias.
Quem ora assim não fica desesperado para agradar a Deus. Deus que espera serenamente que obedeçamos aos seus mandamentos. Ele não nos fica colocando metas, torcendo para que não as batamos.
A vida cristã é para ser vivida pela fé, sem medo, sem ansiedade.
8
Jesus nos ensina a pedir perdão.
"Perdoa as nossas dívidas (ὀφειλήματα),
assim como perdoamos aos nossos devedores".
Que dívidas são estas?
Em algumas traduções, lemos também ofensas ou faltas, mas a versão de Lucas logo nos esclarece no caso de alguma dúvida:
"Perdoa-nos os nossos pecados,
pois também perdoamos a todos os que nos devem" (Lucas 11.4).
Dívidas aqui, portanto, são aquilo que devemos a Deus. Somos pessoas que pecam contra Deus. Esta é a nossa condição diante de Deus: devedores, somos todos devedores.
O apóstolo Paulo nos lembra que todos pecamos e estamos excluídos da glória de Deus. Adão nos ensinou a pecar e temos sido excelentes aprendizes.
Assim, "todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3.10-12). Isto diz Paulo citando o Salmo 14.3: "Todos se desviaram, igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem,
não há nem um sequer (Salmo 14.1-3).
Assim, estávamos naturalmente afastados da presença gloriosa de Deus. Esta é a nossa condição natural. Havia um uma sentença contra nós em fase de execução..
Para deixar tal condição, precisamos nos arrepender dos nossos pecados e pedir perdão. Então, somos perdoados, isto é, justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3.24). Fomos notificados da sentença, mas a graça de Jesus Cristo suspendeu seus efeitos para todos os que confessaram os seus pecados e pediram perdão.
Ainda continuamos pecadores, mas agora sabemos que este não é o ideal para as nossas vidas. Temos o Espírito Santo habitante em nós, mas mas não estamos completamente livres do poder do pecado.
Lemos uma afirmativa sobre o rei Davi que nos ajuda a entender o nosso drama:
"Samuel apanhou o chifre cheio de óleo e o ungiu na presença de seus irmãos, e, a partir daquele dia, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi. E Samuel voltou para Ramá.
Davi a Serviço de Saul" (1Samuel 16.13).
A paráfrase de Eugene Peterson é bastante nítida:
"O Espírito do Eterno veio sobre Davi como uma rajada de vento, apoderando-se dele para o resto da vida".
No entanto, Davi continuou pecando. O Espírito Santo habitava nele quando matou Urias para ficar com a sua esposa.
Quando fomos justificados, o Espírito Santo se apoderou de nós para sempre. No entanto, como Davi, ainda pecamos.
Se não apagamos o Espírito Santo dentro de nós, sua presenca em nós nos mostra o nosso pecado. Uma vez confrontados pelo Espírito Santo, nós nos arrependemos de ter pecado. Perdoados, pomo-nos vigilantes para não falhar mais.
Todo pecado é pecado contra Deus, seja cometido contra Deus (por meio da idolatria e ingratidão, por exemplo), seja cometido contra nós mesmos (como não cuidamos de nosso corpo e de nossa mente), seja cometido contra o próximo, já que, desde o Antigo Testamento, somos chamados a amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos:
"Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças" (Deuteronômio 6.5).
“Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor" (Levítico 19.18).
Jesus retoma o ensino, quando orienta:
“‘Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Lucas 10.27).
Pecamos quando não amamos ao Senhor com TODAS as nossas forças e quando não amamos o nosso semelhante na MESMA proporção com que amamos a nós mesmos.
Como entender esta proporção?
Incomodamente, após a oração vem um epilogo "terrível":
"Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas" (Mateus 6.14-15).
Na oração, temos "dívidas" (ὀφειλήματα) e na explicação temos "ofensas" (παραπτώματα). A palavra é empregada para indicar um pecado, uma falta ou desvio da verdade ou da justiça, mas também um ataque feito a um inimigo.
Pelo contexto da explicação, ofensa é o ato de ferir intencionalmente (com palavras ou gestos) alguém.
Na oração, somos orientados a pedir perdão a Deus. Na explicação, somos orientados a pedir perdão uns aos outros. De novo, deixamos o terreno da subjetividade, para alcançarmos o território da objetividade. Podemos pedir perdão a Deus e nos sentirmos perdoados. É coisa íntima. Deus no perdoa e espera que façamos o mesmo com aqueles que nos ofendem e com aqueles a quem ofendemos.
Jesus conta uma parábola em que as dívidas de um empregado foram canceladas, mas ele se recusou a perdoar de um amigo. A história continua assim:
"O patrão chamou aquele empregado e disse:
— Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você.”
O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida. E Jesus terminou, dizendo:
— É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão". (Mateus 18.32-35 — NTLH)
Um ideal, portanto, é posto: devemos perdoar o outro (que nos ofende) do modo como somos perdoados por Deus (a quem ofendemos). O padrão é elevado.
Em Deus, perdoar-nos implicar numa humilhação que custou a vida do seu Filho. Conosco, perdoar implicar em nos humilhar diante do outro, mas não nos custa a vida; ao contrário, evita-nos a morte, traz-nos vida.
A comparação não sugere que para ser perdoados, temos que estar limpos. Antes, a séria advertência é que toda vez que pedimos perdão a Deus, devemos passar em revista os nossos relacionamentos e ver se tem alguém ainda esperando o nosso perdão. Se houver, devemos ir até ele e pedir ou conceder perdão.
É clara, em outro lugar, a orientação que Jesus nos deixa:
“Portanto, se você estiver apresentando sua oferta [isto é: adorando a Deus] diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali [ou seja: pare de adorar, seja dizimando, orando ou cantando], diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta [em outras palavras: volte a cultuar a Deus] (Mateus 5.23-24).
Sem dúvida, aquelas pessoas cujos corações ardem em rancor "não podem oferecer a verdadeira adoração". 3
Todos sabemos disto. A questão é como perdoamos como Deus nos perdoa?
Precisamos cuidar para desenvolver algumas atitudes nesta caminhada:
1. Precisamos DESEJAR ter o mesmo SENTIMENTO que houve em Jesus, que, para perdoar, chegou a morrer. Precisamos desejar amar como Jesus amou, a perdoar como Jesus perdoou. É difícil? É, mas deve ser a meta de todo o coração em quem o Espírito Santo habita. Estamos em dívida com o Pai e ele nos compreende e perdoa. Se alguém está em dívida conosco, devemos compreender e perdoar, com Deus faz conosco.
2. Precisamos TER a CORAGEM de admitir nossos erros, tanto os contra Deus, quanto os contra o seu próximo, more ele em nossa casa ou conviva conosco no trabalho ou encontre-se conosco algumas horas por semana. Não gostamos quando reconhecem os erros que cometeram contra nós? A coragem de admitir nossos próprios erros começa com a coragem de nos perceber como realmente somos. Se fomos grossos, precisamos admitir que fomos grossos. Se gritamos, de xingamos, se ofendemos, se levantamos a mão contra alguém, precisamos ter a coragem de perceber que agimos assim e precisamos ser abençoados com a coragem de admitir que erramos.
3. Precisamos SABER que o perdão não é algo que vem da lei, mas da graça. Perdoar não é ser justo. Perdoar é ser gracioso. Perdoar a quem merece ser perdoado qualquer um faz. Perdoar a quem não merece é algo profundamente espiritual, e só o Espírito Santo nos conduz para esta disposição. Só há perdão com muita oração. Precisamos pedir a Deus este dom, insistentemente, se for o caso.
4. Precisamos estar prontos a PAGAR O PREÇO para perdoar. Se pedir perdão tem um preço, peçamos ajuda a Deus para pagar este preço. Se conceder perdão tem um preço, roguemos a Deus ajuda para pagar este preço.
***
Devemos continuar ouvindo o Evangelho, que nos ensina que pedimos perdão para sermos salvos, para que a nossa redenção aconteça.
Devemos ter em mente que, segundo Evangelho, pedimos perdão para permanecermos em comunhão com Deus. Nosso pecado nos consagra (separa) para o pecado. Nosso pedido de perdão nos consagra (separa) para Deus. A quem queremos consagrar as nossas vidas?
9
"E não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal" (Mateus 6.13).
Jesus nos ensina a pedir força para resistirmos à tentação, de modo a ficarmos livres das armadilhas do mal.
A tentação (no singular ou no plural) é algo real.
A tentação é um esforço de Satanás para derrubar os cristãos, levando-os a pecar. Ela acontece nas três áreas mais críticas da vida: aquelas em que exercitamos o poder, ganhamos dinheiro e praticamos o sexo.
Todas as tentação estão mergulhadas nestas três áreas. Conforme a história de cada um, a força da tentação variará. Para alguns, não vêm no exercício do poder, talvez por terem poucas oportunidades. Para outros, não vêm na prática da sexualidade, talvez por serem poucas as oportunidades. Para outros, não vêm na busca do dinheiro, talvez por faltaram oportunidades.
Para a maioria das pessoas, no entanto, numa área ou em outra, elas são reais, tao reais que é um dos três pedidos da oração ensinada por Jesus. Ele nos ensina a pedir por pão, perdão e livramento das tentações.
SOMOS FRÁGEIS
Nós podemos vencer as tentações, como Jesus venceu as suas.
A propósito, seu ministério só foi realmente inaugurado depois de uma sessão em que foi extraordinariamente tentado por Satanás (como lemos nos quatro evangelhos). Por isto, o autor aos Hebreus nos lembra que o nosso Salvador foi "alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado" (Hebreus 4.15).
Ao longo do Novo Testamento, 4 somos lembrados da força da tentação.
A palavra, no grego, é πειρασμόν, também traduzida como provação. A escolha da palavra (provação ou tentação) dependerá do contexto em que aparecer. A confusão é boa porque para nós, tanto faz se estamos sendo provados ou tentados. O peso é o mesmo. A diferença é só de origem: Deus nos prova, jamais nos tenta, porque quer nos fazer mais santos. Satanás nos tenta, não nos prova, porque quer nos enredar no pecado, com a intenção de matar, roubar e destruir.
Tiago deixa isto bem evidente, quando adverte:
"Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: ‘Estou sendo tentado por Deus’. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta . Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte" (Tiago 1:13-16).
Portanto, a tentação ativa em nós o desejo de pecar.
Sem a tentação, o desejo de pecar fica em estado latente. Não sai do coração.
Tentação é, assim, a oportunidade que o desejo espera.
Em resumo, o pecado entrou no mundo por causa de uma tentação. O pecado entra no mundo por causa da tentação, uma ação de Satanás. Ela não chega como emissária oficial (bem identificada), mas é precisamente isto o que ela é. Por isto, na tentação, a mentira parece verdade; o erro parece acerto; a lei parece graça; o ódio parece justiça; o mal parece bem.
AS ARMADILHAS DE SATANÁS
O mal tem armadilhas.
É contra elas que devemos vigiar. Quando Jesus nos ensina a orar, mostra que devemos pedir que Deus nos ajude a evitar o mal que podemos evitar. A tentação é o mal que podemos evitar.
Se eu sei que tem confusão numa praça próxima, serei sábio se me desviar. A tentação de ir conferir (e talvez arcar com as consequências) tem uma face clara, mas nem sempre é assim. Nem sempre um lugar de prostituição tem luz vermelha anunciando que ali é o lugar do sexo fácil.
As tentações são de todo tipo.
Organizei-as em dois grupos, sem nenhuma intenção de se exaustivo.
Começo por aquelas mais claramente identificadas como tentações.
São as TENTAÇÕES EXTRAORDINÁRIAS, que surge como oportunidades que se apresentam diante de nós. Exemplifico, mas outras situações podem surgir, quando menos esperamos.
1. Alguém nos convida para participar de um esquema fraudulento para ganhar dinheiro e somos tentados a participar, tomando um dinheiro a que nao temos direito, mas o dinheiro é certo e todo mundo desvia. Por que não posso fazer o mesmo e resolver minha vida? A corrupção (ativa ou passiva) começa com uma tentação.
2. Alguém nos seduz ou se deixa seduzir para um momento (ou vários) de sexo fora do casamento. Somos tentados a entregar nosso corpo. Temos justificativas: "está fácil", "estamos carentes", "sexo é um dom de Deus"; "ninguém tem nada a ver com o que eu faço com o meu corpo". Neste caso, fazemos com Davi: ele olhou pela janela e no terraço uma linda mulher tomava banho. Deve ter se justificado: "Não tenho culpa se o marido dela viajou. Ela devia saber que daqui dá para ver. Ela se ofereceu. O que posso fazer, senão corresponder? Ninguém ficará sabendo". Tentação!
3. Alguém nos ofende, verbal ou fisicamente, e somos tentados a revidar. Muitas vezes, com uma força desproporcionai ao ataque (real ou imaginado) que recebemos.
4. Oramos por uma causa e quando Deus atende, tendemos a achar que a vitória foi nossa. Como gostamos dos aplausos humanos. Tentação.
5. Num momento tormentoso da vida, oramos a Deus, pedindo-lhe algo. Ele não nos dá e somos tentados a duvidar do seu amor ou mesmo da sua existência. Tentação. Às vezes, como os antigos hebreus, vamos atrás de outros deuses, numa autêntica fé-do-tipo-quem-dá-mais.
Em segundo lugar, podemos pensar nas TENTAÇÕES ORDINÁRIAS, que são aquelas que decorrem de nosso jeito de ser, de nossas características pessoais.
1 . Se temos paixão por controlar, mais facilmente seremos tentados em julgar o outro e a falar mal dele, até mesmo sem ouvi-lo. É pecado querer ter sempre a última palavra. É pecado não aceitar uma derrota, como se tivéssemos que vencer sempre. Quantas vezes uma derrota é uma vitória.
2. Se somos legalistas, facilmente cederemos à tentação de querer fazer justiça com as próprias mãos. Para estes, a vingança pertence ao Senhor (Deuteronômio 32.35), mas são eles que a executam no seu tempo e com as suas armas.
3. Se gostamos de levar vantagem no que fazemos, muito facilmente seremos tentados a furtar ou a enganar o próximo. Enganar não é ser esperto: é pecar.
4. Se em nós o prazer está em primeiro lugar, não importando o preço cobrado, muito facilmente seremos tentados a adulterar ou a exagerar no alimento. Pecar contra o nosso próprio corpo é pecar contra o Espírito Santo.
5. Se o nosso temperamento é o senhor de nossas vidas, bem facilmente cairemos na tentação de ofender. Se o nosso temperamento nos domina, temos outro senhor; somos idólatras.
Essas tentações um dia foram extraordinárias, mas depois foram incorporadas, passando a integrar tristemente ao nosso jeito de ser.
LIDANDO COM AS TENTAÇÕES
Precisamos aprender a lidar com a tentação, para diminuir sua força sobre nós. Temos uma caminhada constante a percorrer, para que o desejo de Jesus se torna efetivo em nossas vidas.
1. Devemos desejar não cair.
Sabemos que o pecado tem conseqüências, as quais não queremos para nós. Sabemos que pecado nos afasta de Deus. Se caímos, não temos desculpas.
Por isto, precisamos desejar não cair. Desejamos não cair quando não desejamos a vida de pecado do nosso próximo, porque não nos espelhamos nele, mas em Jesus. Esta tem que ser a nossa primeira e permanente escolha.
2. Devemos pedir por livramento.
Todos os dias devemos orar, como Jesus ensinou: "Senhor, não nos deixes cair em tentação. Mesmo quando ela viver, livre-nos de cair nela, livra-nos das suas armadilhas".
Sabe quando oramos assim? Quando reconhecemos que somos fracos e que podemos cair.
Orando, podemos cair em tentação. Não orando, certamente cairemos.
3. Devemos pedir sabedoria para discernir.
Nem sempre vemos a tentação como ela é: uma emissária de Satanás, o rei dos disfarces.
Precisamos de discernimento. Se soubermos que determinado caminho nos leva à morte, não o seguiremos. Bem, pelo menos, não devíamos seguir por ele. Tentacoes são ciladas de Satanás (Efésios 6.12).
Por isto, precisamos de sabedoria para discernir a mentira como mentira, o erro como erro, a lei como lei, o ódio como ódio, o mal como mal.
Precisamos saber, por exemplo, quando a necessidade de ganhar dinheiro se torna uma paixão. Paulo nos ajuda, nesta tarefa:
"Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram- se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos" (1Timóteo 6.9-10).
4. Devemos vigiar para não cair
Os discípulos de Jesus demorar a aprender o pedido de Jesus, numa hora difícil de sua vida:
“Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26.41).
. Já que a tentação vem pelo olhar, devemos vigiar o nosso olhar. Não somos tão fortes assim. Ah se soubéssemos que somos fracos…
. Já que a tentação encontra terreno fértil em nosso coração, devemos vigiar para que a nossa inclinação natural para o pecado não nos leve a pecar. Somos inclinados a pecar, desde Adão, mas não somos obrigados a pecar.
. Já que o nosso temperamento nos leva a desejar e a fazer o que não queremos fazer (ou dizemos não querer fazer), devemos vigiar para que o nosso temperamento não nos afunde.
. Já que influenciamos e somos influenciados, devemos prestar atenção no que estamos lendo e no que estamos vendo sobretudo na televisão e isto inclui fontes ditas cristãs. Há muitas práticas pagãs que não deixam de ser pagãs porque entraram em nossas igrejas. Vejamos o trecho desta letra desta canção contemporânea, entoada em alguns cultos:
"Quem estava em guerra era eu
Saqueando o inferno com o meu louvor a Deus
Enquanto eu adorava o inimigo covardemente
Acertou um dos meus…
Mas eu não me dei por vencido
Não pensei em pedir trégua nem paz
Não baixei a minha guarda, estava decidido
Levantar bandeira branca, jamais
Não me rendo, não me entrego
Não me quebro, não desisto
Continuo a serviço do Rei
Não é chorando pelos cantos
Mas é de cabeça erguida
Que aguardo a providência de Deus
Ai daquele que tocar nos bens de um ungido
Melhor seria ele não ter nascido
Agora quem vai fundo nessa guerra fria
Pra acabar de vez com essa covardia é Deus… 5
Esse canto de guerra nos seduz, mas é um canto de guerra, não de entrega. Pode ser hebreu, mas não cristão. No fundo, é pagão.
. Já que podemos ser seduzidos e, depois, facilmente tentados, precisamos estar em dia com nossas disciplinas espirituais, que devem ser regulares, sobretudo a da leitura da Bíblia, da oração e da adoração em comunidade (culto público, como se dizia). Não somos fortes o suficiente para dispensar a igreja reunida.
Os nossos recursos nesta batalha espiritual, travada dentro dos nossos corações, estão listados em vários textos da Bíblia. Num deles, o apóstolo Paulo nos convida:
"Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos" (Efésios 6..11-18).
5. Devemos confiar que Deus nos protegerá.
E como Deus nos protege. O apóstolo Paulo dá o roteiro:
"Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar" (1Coríntios 10.13).
Algumas entendem que este texto diz que Deus não permite que tenhamos problemas mais pesados que podemos suportar. No entanto, o texto é sobre tentação.
Nele aprendemos que todos somos tentados. Os que crêem são mais tentados dos que os que não crêem. Os que crêem não estão livres das tentações.
Nele aprendemos também que Deus continua no controle, mesmo quando somos tentados. Ele velará por nós, como fez com Jó. A régua que nivela o que podemos e o que não podemos suportar está nas mãos deles, não nas nossas.
Nele aprendemos ainda que, vinda a tentação, mesmo aquela mais forte, Deus dará um jeito para que escapemos. Em outras palavras, "Deus conhece conhece os limites de uma pessoa com relação à tentação e não permitirá que alguma tentação supere a sua capacidade de resistir a ela. Ele providenciará os recursos espirituais necessários para se manter firme. Ademais, quando somos tentados, buscar o caminho que Deus estabeleceu. Quando a fumaça de tentação é grossa e o fogo está furioso, devemos olhar para os avisos de saída que nos leva para onde há ar fresco e segurança". 6
Então, se confiamos, oramos.
Oremos hoje para estarmos fortes amanhã quando a tentação chegar. Como no futebol, os trancos são do jogo da vida.
Oremos para que, quando tentados, Deus nos nos deixe cair. Oremos para que, tendo caído, sejamos logo levantados por ele.
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Qual é o nosso desejo?
Estamos orando para não cairmos em tentação?
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
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1 MACEDO, Edir. Fé e sacrifício. Disponível em <http://www.bispomacedo.com.br/2011/10/21/fe-e-sacrificio/>
2 MACEDO, Edir. Oferta não é dinheiro, Disponível em <http://www.bispomacedo.com.br/2008/11/02/oferta-nao-e-dinheiro/>
3 KAPOLYO, Joe. Mateus. Em: ADEYEMO, T., ed. Comentário Bíblico Africano. São Paulo: Mundo Cristão, 2010, p. 1148.
4 Cf. Mateus 26.41; Lucas 4.13; Lucas 8.13; Lucas 12.28, 40 e 46; 1Coríntios 10.13; Gálatas 4.14; 1Timóteo 6.9; Hebreus 3.8; Tiago 1.2; 1Pedro 1.6; Apocalipse 3.10, entre outras.
5 "Covardia", de Léa Mendonça. Disponível em ≤http://letras.mus.br/lea-mendonca/1900746>
6 BARGERHUFF, Eric. The most misused verses in the Bible. Minneapolis, Minn.: Bethany, 2012, p. 98.