(Sermão baseado em João 20:19-23)
Introdução
Deus não tem outro plano para evangelizar o mundo, senão pela instrumentalidade de sua igreja. O que sempre esteve na sua mente foi explicitado na oração sacerdotal: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.” (Jo.17:18). Nesta passagem de João 20:19-23, temos uma espécie de resumo do movimento que Jesus fundou e que se chama Igreja de Cristo. Jesus concebeu a igreja como uma continuação de si próprio, sendo ele a cabeça, e a igreja, o resto do corpo. Portanto, temos, como missão, exatamente a mesma que Jesus tinha. Somos enviados ao mundo por Jesus, assim como ele foi enviado ao mundo pelo Pai (v. 21). E para cumprir essa missão de modo pelo menos satisfatório, precisamos preencher quatro requisitos básicos.
1. Para cumprir essa missão, precisamos ter uma “visão objetiva” de Jesus.
(E, por que não, também uma “relação objetiva” com ele?)
O texto nos diz que os discípulos, medrosos, estavam reunidos a portas fechadas, quando Jesus apareceu. Apesar de Maria Madalena ter-lhes levado o seu recado, eles duvidaram da sua ressurreição. Ele então lhes mostrou as marcas dos pregos e da lança. O evangelista Lucas diz que nem assim eles acreditaram, por isso ele pediu algo para comer, mostrando-lhes que estavam tendo uma visão objetiva.
A. Os evangelhos nos mostram freqüentemente não só a oposição dos inimigos a Jesus, como também as dúvidas de seus próprios discípulos. E tanto a oposição como as dúvidas evidenciavam incredulidade (Jo.6:60,66; 14:8-11; 20:9, 19,26; 21:2,3).
B. A visão do Jesus ressurreto logo ao entardecer do próprio dia da ressurreição visava mudar radicalmente a visão dos discípulos. De um Jesus terreno, visível, temporal, limitado, físico, para um Jesus ressuscitado, invisível, eterno, onisciente, onipresente, onipotente, espiritual. O Jesus que antes era visto como uma pessoa humana, com existência histórica, agora é também visto como o Senhor, uma pessoa divina e digna de culto, uma presença constante em todos os momentos.
Os discípulos passaram de seguidores medrosos a corajosos, de espectadores a testemunhas, de fracos e sem poder a cheios do Espírito, de vacilantes a decididos, de tímidos a audaciosos.
2. Para cumprir essa missão, precisamos viver como se Jesus vivesse a nossa vida.
O verbo apostello (= “enviar”) usado por João aqui (v.21), apropriou o sentido da palavra hebraica saliah, também usada para significar “enviar”. A idéia que está contida no termo hebraico é de que a pessoa enviada deve ser considerada como igual à pessoa que a enviou.
A. Precisamos morrer como Jesus morreu (Jo.12:24,25).
B. Precisamos estar onde Jesus está (Jo.12:26).
C. Precisamos fazer o que Jesus mandar (Jo.15:14).
D. Precisamos ser unidos uns com os outros como Jesus o é com o Pai (Jo.17:21).
E. Precisamos amar uns aos outros como Jesus nos ama (Jo.13:34).
F. Precisamos sofrer como Jesus sofreu (Jo.15:18-20).
3. Para cumprir essa missão precisamos da mesma capacitação que foi outorgada a Jesus
O verbo “soprar” mencionado no v. 22 é o mesmo que foi usado para descrever a criação de Adão. O “sopro” de Jesus sobre os discípulos é mais uma evidência de que ele está vivo e é capaz de transmitir vida. Esta experiência é uma antecipação da promessa de Atos 1:8.
A. O Espírito Santo esteve o tempo todo enchendo Jesus e capacitando-o para o seu ministério
(Jo.1:32-34; 3:34)
B. Jesus havia prometido este mesmo Espírito àqueles que cressem (Jo.7:38-39).
C. A missão do Espírito é ficar conosco para sempre (Jo.14:16), é ensinar-nos todas as coisas e lem-
brar-nos o que Jesus disse (Jo.14:26), é guiar-nos a toda a verdade e anunciar-nos a palavra de
Jesus (Jo.16:13-15).
4. Para cumprir essa missão precisamos ministrar às pessoas do mesmo modo como Jesus ministrava
O sentido do v. 23 é que a função da igreja é ministrar salvação e juízo. As pessoas que procuravam Jesus, ou que ele procurava, eram permanentemente confrontadas com a necessidade de tomar uma decisão a seu respeito. Ele não se negava a curar doentes ou libertar oprimidos, mas buscava sempre, e principalmente, salvar a alma (Jo.3:17-21; 12:44-50). A nossa ação como igreja de Jesus deve levar as pessoas a decidir claramente se querem:
A. Nascer de novo ou permanecer na velha natureza (Jo.3:3).
B. Alimentar-se da água e do pão da vida ou morrer de sede e fome espiritual (Jo.4:14; 6:35)
C. Andar na luz ou viver nas trevas (Jo.8:12).
D. Ser ovelhas do bom pastor ou ser pastoreadas pelo pastor ladrão que mata, destrói e rouba
(Jo.10:10,11)
E. Conhecer a verdade e ser libertadas ou permanecer escravas do pai da mentira (Jo.8:32,44).
F. Ter a vida eterna e passar da morte para a vida ou permanecer sob a ira de Deus (Jo.5:24; 3:36)
Conclusão
Estaremos nós entre os bem-aventurados mencionados por Jesus em João 20:29 ou precisamos de uma segunda chance, como Tomé? Os que duvidam são tão incrédulos como os que se opõem.
Pr. Sylvio Macri