DENTRO DO MUNDO, PERTO DE DEUS (Sylvio Macri)

Na Primeira Carta aos Coríntios Paulo diz o seguinte: “Na outra carta que escrevi a vocês, eu recomendei que vocês não tivessem nada a ver com gente imoral. Eu não quis dizer que neste mundo vocês devem ficar separados dos pagãos que são imorais, avarentos, ladrões ou que adoram ídolos. Pois, para evitar estas pessoas, vocês teriam que sair deste mundo.” (cap.5:9-10).

Também o Senhor Jesus orou assim, a respeito dos seus seguidores: “Eu lhes dei a tua mensagem, mas o mundo ficou com ódio deles porque eles não são do mundo, como eu também não sou. Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno.” (Jo.17:14,15).

Parece que há aqui uma contradição insolúvel. Os crentes não pertencem ao mundo, mas Jesus não queria que eles saíssem do mundo. Os crentes nada têm em comum com aqueles que vivem segundo os padrões do mundo, mas se quisessem evitar estas pessoas teriam que sair do mundo, o que não seria possível, segundo Paulo, pois teriam que morar em outro lugar.

Como resolver esse dilema? A resposta está no ensino de Jesus: “Vocês são a luz do mundo.” (Mt.5:14), o qual foi aplicado por Paulo justamente a esta questão, quando indagou: “Como é que a luz e a escuridão podem viver juntas?” (II Co.6:14). Isto é, a relação do crente com o mundo é igual à da luz com a escuridão. A primeira deve brilhar sempre, para que a segunda não prevaleça. Se a sua luz é fraquinha, as trevas o derrotarão, mas se brilha com intensidade (e para isto você tem que estar sempre conectado a Deus), as trevas ao seu redor desaparecerão.       

Há uma outra figura muito usada para explicar esta relação: é a do barquinho na água. O barquinho pode estar na água, mas a água não pode estar no barquinho, senão ele afunda. O crente é como um barquinho na água; ele pode estar no mundo, tão próximo dele como o barquinho está da água, mas o mundo não pode estar nele, senão será derrotado.

As grandes transformações econômicas e sociais fizeram com que este planeta se tornasse um lugar muito agitado, para não dizer tumultuado. A organização do trabalho e da educação formal leva as pessoas a gastarem muito tempo adicional se locomovendo para os locais onde exercem suas atividades. As invenções modernas também criaram novas necessidades, de modo que nos obrigamos a empregar um bom tempo da nossa vida vendo televisão, telefonando, ouvindo aparelhos de som, usando computadores, etc. Diante desse quadro, quanto tempo sobra para nos dedicarmos à comunhão com Deus? A resposta honesta é: muito pouco! Aliás, a impressão que fica é que estamos muito mais perto do mundo do que de Deus.

Temos que resolver essa situação, e uma boa medida é repensar o nosso conceito de comunhão. Será que é algo compartimentado, que podemos ter somente quando estamos num templo ou sozinhos em um quarto, meditando e orando? Aprendemos na Bíblia que comunhão não é propriamente uma atitude mística, mas um estado de união permanente do crente com o Senhor. Quer dizer, em qualquer situação da vida devemos estar em comunhão com ele, e não apenas num lugar e numa hora especiais.

Assim, quando você está no trabalho, na escola ou na condução a sua comunhão com Deus não foi desligada. Ao contrário, você continua na presença de Deus e conectado a ele. Estamos sempre, em todo o tempo, em comunhão com o Senhor. É através dessa comunhão que carregamos nossas baterias espirituais. Precisamos percebê-lo sempre perto e abrir-nos para uma comunicação constante com ele. Lembre-se: ele é onipresente!   

Por outro lado, precisamos, sim, de um tempo especial para a leitura da Palavra de Deus, para meditar e orar. Jesus mesmo deu exemplo a esse respeito. Apesar de sua tremenda missão e da pressão que as multidões e os discípulos exerciam sobre ele, achava ocasião para essas atividades. Precisamos fazer o mesmo que ele, porque essas coisas são absolutamente necessárias à vida cristã. Sem elas, somos crentes fracos e fáceis de derrotar.

Conseguir esse tempo é uma questão de vontade e de disciplina. E também de planejar melhor como usar o nosso dia. Apesar de toda a agitação, nossa vida é feita de rotina, e um tempo de comunhão com Deus deve ser parte dessa rotina. Comece com alguns minutos por dia e vá aumentando aos poucos o período. Ao sentir os excelentes resultados, você nunca mais vai querer abandonar essa prática.

Nenhum cristão verdadeiro sentir-se-á jamais à vontade dentro do mundo, pois este não é o seu habitat natural, mas se permanecer sempre ligado a Deus, será capaz de suportar vitoriosamente todas as pressões do mundo.
 

Pr. Sylvio Macri