SEJAM FIÉIS (Sylvio Macri)

À igreja de Esmirna, que recebeu uma das sete cartas do Apocalipse, Jesus disse: “Sejam fiéis, mesmo que tenham de morrer; e, como prêmio da vitória, eu lhes darei a vida” (Ap. 2:10 – Versão NTLH). As traduções mais usadas dizem: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida”. Seja qual for a versão, o significado e o ensino são claros: Jesus espera que suas igrejas lhe sejam fiéis, mesmo que isto implique em perseguição mortal.

Estas palavras foram ditadas a João por Jesus, perto do fim do primeiro século. Nessa ocasião a maioria dos apóstolos já havia morrido. A Bíblia diz, em Atos 12:2, que Tiago foi morto à espada. Segundo a tradição, Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo e Paulo foi decapitado, ambos em Roma. Provavelmente o destino dos outros líderes não foi muito diferente desse. Quando estavam sendo escritas essas sete cartas, havia uma perseguição generalizada na região em que ficavam as sete igrejas, durante o reinado do imperador Domiciano. As igrejas enfrentavam também um verdadeiro vendaval de heresias de todos os tipos. Falsos mestres negavam a divindade e a encarnação de Jesus, e ensinavam que era possível conviver em harmonia com a idolatria e a imoralidade reinantes na época.

A cena não é muito diferente hoje. Em muitas nações do mundo, crentes em Cristo estão sendo perseguidos até a morte e igrejas funcionam clandestinamente. De algumas outras nações fala-se que são “pós-cristãs”, isto é, onde outrora os cristãos eram maioria, agora são minoria. E em toda a parte os cristãos estão sendo ameaçados pelas mesmas heresias do passado. Acrescente-se a isso que o surgimento de um novo modelo de igreja: um empreendimento cujo sucesso é medido pela quantidade de pessoas que reúne, pela quantidade de bens materiais que arrecada, adquire e usa, pelo seu ativismo e pela visibilidade de seus líderes, e que é apresentado e vendido ao resto do mundo como se fosse um produto a ser consumido. 

A hora é de fidelidade ou vamos todos sucumbir, e “quando vier o Filho do homem não achará nenhuma fé na terra” (Lc. 18:8). A fidelidade é uma questão de vida ou morte para a igreja e também para o crente como indivíduo. E assim é, porque a medida com que seremos julgados por Jesus, na sua segunda vinda, é a nossa fidelidade. Na parábola dos talentos (Mt.25:14-30), esse é o critério pelo qual o senhor julga seus três servos. Isto também se dá nas parábolas dos Dois Servos (Mt.24:45-51), do Servo Vigilante (Lc.12:35-48), do Mordomo Infiel (Lc.16-1-13) e das Dez Minas (Lc.19:11-27). Em II Tm. 2:12, Paulo diz: “Se perseveramos, com ele também reinaremos; se o negamos, ele também nos negará”. Apocalipse 17:14, após afirmar que Jesus é o Senhor dos senhores e Rei dos reis, diz: “Vencerão também os que estão com ele, os chamados, e eleitos, e fiéis”. Podemos ser chamados e eleitos, mas temos também que ser fiéis. Só receberemos a coroa da vida se formos fiéis (Ap.2:10).    

Quando se fala de fidelidade a Cristo, em primeiro lugar, refere-se à relação que temos com ele: Ele é Senhor e nós somos escravos. Escravos não têm vontade própria, têm que estar sempre disponíveis para o seu senhor, como nas parábolas acima citadas. Como eles não sabem quando o senhor volta, a disponibilidade é de 24 horas por dia. Não há nenhum espaço para qualquer outra maneira de ser e proceder.  

Em segundo lugar, a fidelidade é devida à palavra de Cristo. Ele está sentado à direita de Deus, materialmente não está presente, mas deixou suas ordens, as Escrituras Sagradas. E quer que as obedeçamos, não que estabeleçamos nossas próprias regras e princípios. A igreja não precisa de filosofia, psicologia, técnicas de marketing, “revelações”, “apóstolos”, etc., mas somente das verdades bíblicas. Se abandonarmos a Bíblia seremos uma instituição qualquer, mas não a verdadeira igreja de Cristo.

Em terceiro lugar, a fidelidade é devida à igreja de Cristo. A figura mais usada na Bíblia para falar da igreja é o corpo. Somos membros uns dos outros; devemos fidelidade uns aos outros. Tem gente que pensa que pode ser fiel a Cristo, sem ser fiel à igreja. Grande engano, pois assim como nenhuma parte do corpo tem existência fora dele, também ninguém pode sobreviver como crente fora da igreja, contra ela ou indiferente a ela. A igreja não salva, mas é o corpo dos salvos. Sejamos fiéis ao Senhor Jesus, à sua Palavra e à sua Igreja.

Entretanto, a fidelidade faz parte do aperfeiçoamento dos crentes, pode e precisa ser cultivada. Realmente, a fidelidade é uma virtude adquirida a partir do momento em que o indivíduo é regenerado pelo Espírito Santo e justificado pela fé em Cristo. Na sua condição anterior de pecador não salvo, ele não tinha capacidade para ser fiel, porque estava em rebeldia contra Deus. Mas agora, que está reconciliado com Deus, tornou-se seu servo e foi inundado pela sua graça, ele adquiriu todas as condições de ser fiel e desenvolver cada vez mais a sua fidelidade.           

Em primeiro lugar o crente foi transformado pelo poder de Deus: quem antes mentia, cobiçava, invejava, era desonesto, desleal, malicioso, maledicente, etc., agora mudou completamente.  Agora os outros podem confiar nele e esperar dele atitudes de correção e justiça em tudo o que diz e faz. Isto é fidelidade.

Em segundo lugar, agora ele tem uma motivação verdadeira para ser fiel. O padrão do crente é Jesus, que, como diz a Bíblia, foi fiel em tudo (Hb. 3:1,2; 5:7-9). Assim como Deus disse: “Sejam santos porque eu sou santo” (I Pd.1:16), poderia também dizer: “Sejam fiéis porque eu sou fiel”.  O crente sabe que vale a pena ser fiel ao Senhor. Mesmo quando o crente falha Deus permanece fiel (II Tm.2:13). Não é por acaso que “Tu és fiel, Senhor” é um dos hinos que mais gostamos de cantar.       

Em terceiro lugar, Paulo diz na carta aos Gálatas 5:22, que a fidelidade, juntamente com várias outras qualidades, é fruto do Espírito. Portanto, quanto mais nos submetermos à direção do Espírito Santo, tanto mais seremos capacitados para a fidelidade. Por estar cheios do Espírito Santo, Pedro e João tiveram coragem de dizer diante do maior tribunal judaico que não poderiam deixar de falar daquilo tinham visto e ouvido, e que importava antes obedecer a Deus que aos homens (At. 4:20; 5:29).

Finalmente, Jesus diz que, à medida que formos capazes de provar nossa fidelidade, ao cuidar daquilo que ele coloca em nossas mãos, ele nos atribuirá maiores responsabilidades e, conseqüentemente, nos dará mais bênçãos e mais honra. Quer dizer, a fidelidade tem que ser observada nas pequenas coisas, para que possamos cuidar das grandes. Como diz Mt. 25:23:“Você foi fiel em administrar pequenos valores, então eu o encarregarei de grandes valores.” (Good News Bible).

Pr. Sylvio Macri