MEDO E ESPERANÇA (Sylvio Macri)

Às vezes tenho medo do futuro. Não do meu futuro pessoal, mas do futuro das crianças. De todas as crianças em geral, mas principalmente daquelas que a gente vê diariamente soltas pelas ruas, daquelas que estão em casa escravizadas a um aparelho de TV ou de videogame, daquelas que estão o dia inteiro envolvidas – além da escola – em outras atividades que não escolheram praticar, e daquelas muitas outras que, de alguma maneira, não estão tendo os seus direitos assegurados.     

Temo pelo futuro de todas as crianças em geral por causa do mundo que estamos deixando de herança para elas. É um mundo poluído por todas as formas, no qual a vida física se tornará cada vez mais difícil. Um mundo dominado pela ganância capitalista globalizante, em que predomina a busca de lucro e de vantagens pessoais, em que prevalece o consumismo e a valorização das coisas materiais. Um mundo onde o mais importante é a busca do prazer individual a qualquer custo, sem pudor, sem ética e sem compromisso.     

Mas temo mais ainda pelo futuro daquelas crianças que estão abandonadas à própria sorte, cujos pais renunciaram ao direito e ao dever de educá-las e, por isso, ou as entregam às ruas onde são educadas de maneira marginal, ou as submetem ao poder escravizador de um aparelho eletrônico que as distrai com uma subcultura de competição e violência e com informação própria para formar imbecis.

Temo especialmente também pelo futuro das crianças que estão gastando a sua infância sem o direito de ter um tempo livre, sem poder brincar, sem poder dar asas à sua imaginação, pois têm que aprender um monte de coisas o dia inteiro, a fim de chegar aos objetivos que seus pais frustrados traçaram para elas. Pais frustrados porque, como dizem, querem que seus filhos tenham aquilo que eles não tiveram. É pena que não se deem ao trabalho de perguntar aos filhos se também é isso que eles querem.

Mas o meu maior medo quanto ao futuro diz respeito àquelas crianças que estão crescendo sem qualquer noção de Deus, sem jamais ouvir de seus pais uma palavra sequer sobre o Criador. Trata-se de um ateísmo instintivo: elas simplesmente ignoram a existência de Deus, porque não recebem nenhuma informação sobre ele. Por isso é que estou convencido de que a nossa maior missão é a evangelização das crianças, para que elas tenham um verdadeiro futuro.

Mas também tenho esperança no futuro. Esperança é uma palavra sempre presente no vocabulário do cristão. É uma das três principais virtudes citadas por Paulo em praticamente todas as suas cartas: “Fé, Esperança e Amor”. Esperança foi o que passamos a ter quando recebemos Jesus. Antes estávamos sem ela e sem Deus no mundo (Ef. 2:12), mas agora temos a esperança que “não nos deixa decepcionados, pois Deus derramou o seu amor em nosso coração, por meio do Espírito Santo, que ele nos deu” (Rm. 5:5).         

Esperança é o que podemos e devemos ter em relação às nossas crianças. Quando muitos de nós éramos pequeninos não havia as vacinas que hoje praticamente eliminaram as doenças epidêmicas. Também não havia as oportunidades para estudar que as nossas crianças têm hoje. A tecnologia não era tão adiantada como é hoje. Nossos filhos e netos estão crescendo em um mundo de oportunidades. E isto nos anima a esperar um mundo melhor para eles, se isso tudo for usado com sabedoria e fizermos umas outras tantas coisas..

Para que nossas crianças vivam em mundo melhor no futuro é preciso que elas mesmas sejam ensinadas a construir e preservar esse mundo. Infelizmente estamos ensinando nossas crianças a poluir o planeta exatamente como nós mesmos fazemos. Estamos ensinando-as a desperdiçar a água, os alimentos e as fontes de energia da mesma maneira que o fazemos. E temos também lhes dado mau exemplo de como consumir coisas inúteis e que fazem mal à saúde.
 
Para que nossas crianças sejam no futuro pessoas honestas, trabalhadoras e cumpridoras da lei, precisamos ensiná-las a não mentir, não transgredir as regras estabelecidas e não desrespeitar o próximo. Precisamos ensiná-las a não serem violentas; a serem competitivas apenas quando for absolutamente necessário e correto. Precisamos incutir nelas o desejo de aprender cada vez mais e treiná-las na disciplina do trabalho.

Para que nossas crianças no futuro possam ser úteis à sociedade precisamos ensinar a elas o amor ao próximo, precisamos dar-lhes exemplo de ações exercidas a favor dos outros. Precisamos gerar nelas uma atitude de compromisso com a comunidade e a coletividade em geral. Precisamos deixar bem claro a elas que, apesar dos seus valores pessoais, não devem discriminar ninguém. Precisamos criar nelas um adequado senso de justiça e o desejo de lutar pela mesma. 

Para que possamos manter a esperança quanto ao futuro de nossas crianças, é preciso dar-lhes a oportunidade de viverem a infância como deve ser vivida, a não gastarem os seus dias com coisas inúteis e nocivas e com tarefas que lhes impomos, e que elas não escolheriam, se pudessem. Assim elas aprenderão a gastar melhor o seu tempo e aproveitar melhor a vida.

Entretanto, esperar apenas quanto a esta vida é, segundo a Palavra de Deus, uma atitude miserável e infeliz (I Co.15:19). Precisamos ensinar nossas crianças a buscar as riquezas infinitas da graça de Deus. Para que elas possam ter um futuro muito além desta vida e deste mundo, precisamos ensinar a elas os valores eternos da Palavra de Deus.

Para que possamos manter a esperança quanto ao futuro de nossas crianças, e para que elas mesmas possam ter essa esperança, é preciso trabalhar duro e diariamente na formação de suas personalidades e na sua evangelização, através da Palavra de Deus, para que sejam verdadeiros discípulos de Cristo e produzam em suas vidas o fruto do Espírito Santo. Dessa maneira o mundo poderá ser transformado e haverá esperança para ele.
  
Pr. Sylvio Macri