Mãe e filha voltavam do hospital.
De um hospital particular, retornavam, indignadas por causa da longa espera. Tiveram que aguardar durante horas para saber o nível das plaquetas.
Trafegavam por uma rua movimentada, muito aborrecidas, por causa da dengue e da demora no resultado.
Foi então que a menina viu uma senhora tropeçando e caindo espalhafatosamente no chão, pernas para o ar, buquê de flores esparramado, óculos lançados longe, rosto de dor.
A menina gritou:
— Para, mãe. Para, mãe.
A mãe relutou, com o foco ainda na filha.
— Para, mãe. Para, mãe. Temos que socorrer.
As pessoas passavam ao largo.
A mãe e a filha conseguiram parar.
Desceram, levantaram a mulher e a convidaram para entrar no carro.
A mulher relutou, mas atendeu. Tinha caído, ao se apressar para pegar um ônibus. Tinha descido para comprar flores. Junto com uns amigos, ia visitar outra amiga, que fraturara o ombro depois de uma queda.
— Para onde a senhora vai?
A mulher tentou não dar trabalho. Estava já satisfeita com o socorro.
A mãe insistiu. Começaram a conversar.
A mãe contou o drama de ter que verificar periodicamente as plaquetas da filha.
Ela morava ao lado de um grande hospital estatal, mas não foi até lá. Se num particular, era aquela dificuldade, imagine num público.
A mulher socorrida, então, lhe disse:
— Meu marido é farmacêutico exatamente no hospital público perto da sua casa. Ele vai receber sua filha e dar o resultado das plaquetas na hora. Vou ligar para ele agora.
E ligou.
Pouco depois, o carro fez uma curva, parou e a mulher desceu, ainda mancando, na porta da igreja, onde os amigos a esperavam de carro.
Chegaram à casa da amiga, sem as flores, que tinham sido entregues, como um gestão de gratidão, à filha e à mãe do socorro.