Contam os Evangelhos que Jesus fez muitos milagres, alterando a ordem natural das coisas. Assim, muitas pessoas tiveram suas saúdes restauradas, tendo de volta a alegria de viver.
No entanto, alguns milagres Jesus não realizou.
Quando estava cansado, Jesus não dizia ao seu corpo "esteja descansado", nem orava para que seu esgotamento se dissipasse. Ele procurava um lugar e dormia, para acordar inteiro de novo.
Quando estava com fome, Jesus não transformava pedras em pães, nem dava ordem ao seu estômago que se acalmasse, nem orava para que a sua fome cessasse. Ele procurava comida e se alimentava.
Quando precisava passar a noite, Jesus não determinava que um abrigo surgisse do nada, nem orava para que não tivesse essa tão humana limitação. Ele entrava na casa de um amigo e se recolhia.
Quando Jesus precisava passar de um lado para o outro do lago de Kinneret, ele não voava até a outra margem, nem orava para que a distância diminuísse. Ele tomava um barco para atravessar.
Ele foi como nós somos.
Além destes, Jesus não realizou os milagres essenciais, capazes de mudar as vidas de bilhões de pessoas.
Jesus não se concebeu no ventre de Maria. Como lhe disse o anjo, "o que nela foi gerado procede[u] do Espírito Santo" (Mateus 1.20 — NVI). A concepção de Jesus não teve participação humana. Foi milagre que o Espírito Santo efetuou. A divindade de Jesus salta do ventre de Maria e sorri na manjedoura.
Jesus não evitou sua própria morte. Quando estava amarrado e pendurado sobre a cruz, seus algozes duvidavam de que ele fosse capaz de salvar a si mesmo ("As autoridades o ridicularizavam. `Salvou os outros’, diziam; ‘salve-se a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Escolhido’" — Lucas 23.35 — NVI). Não foi e morreu. O perdão que nos faz amigos de Deus outra vez desce da cruz porque Jesus não desceu dela.
Jesus não se ressuscitou a si mesmo. Os primeiros cristãos bem cedo compreenderam, segundo a interpretação de Pedro que a tudo testemunhou menos a ressurreição, da qual não houve olhos que o vissem: "Deus ressuscitou seu Filho e o enviou para abençoar vocês, um a um, para que se convertam dos seus maus caminhos” (Atos 3.26 — A Mensagem). Um morto não ressuscita. Jesus estava morto desde a tarde da sexta-feira anterior. Ele nada fez para voltar a viver. Nenhum outro homem participou deste milagre. Deus o Pai é que o ressuscitou, agindo assim também para fortalecer os discípulos atordoados com a morte do Filho e para mostrar a avenida que iremos percorrer até chegarmos, conduzidos pelo Ressuscitado, à praça da apoteose.
Jesus não se elevou aos céus. Quando sua missão se completou, Jesus foi puxado para os céus, não por uma ação própria, mas pelas mãos do Pai. Ele foi como veio: enviado.
Nós nascemos porque funcionaram as leis biológicas. Ele veio porque as leis biológicas receberam um sopro diferente para funcionar de outro modo.
Ele morreu porque não quebrou as leis naturais da vida.
Ele foi ressuscitado quando as leis da morte foram suspensas.
Ele não teve o túmulo como seu jazigo perpétuo, porque foi guinchado (e muitos olhos se admiraram) para a casa eterna, da qual a porta está aberta.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO