Josué 7.2-9 — Na trilha da autossuficiência (Claudair Godoi)

Josué 7.2-9

Josué foi um grande guerreiro. Treinado para liderar tropas e executar estratégias de guerra. Tornou- se um exemplo a ser seguido. Altamente respeitado por sua família, entretanto, precisou provar sua confiança aos israelitas, mesmo tendo sido escolhido por Deus para substituir o grande e admirado Moisés.
A tarefa de Josué nos parece ser fácil. Lemos no capitulo 1 deste mesmo livro, as instruções para que fosse bem sucedido em seu novo e emocionante modo de vida. Diz o versículo 5 deste mesmo capitulo: "Você nunca vai ser derrotado. Eu estarei com você como estive com Moisés. Nunca te abandonarei".
Foi nestes termos, que Josué segue com o povo para conquistar a terra prometida. Atravessam o rio Jordão, numa experiência idêntica à do rio Vermelho. Lutou bravamente com exércitos inimigos, destruiu cidades e avançou rumo ao objetivo de todo povo de Israel. Mas em algum momento, algo dá errado e a "promessa" de Deus não se cumpre.

Quero convida-lo a lerJosué 7.2-9:

"Sucedeu que Josué enviou homens de Jericó a Ai, que fica perto de Bete-Áven, a leste de Betel, e ordenou-lhes:
— Subam e espionem a região.
Os homens subiram e espionaram Ai.
Quando voltaram a Josué, disseram:
— Não é preciso que todos avancem contra Ai. Envie uns dois ou três mil homens para atacá-la. Não canse todo o exército, pois eles são poucos.
Por isso, cerca de três mil homens atacaram a cidade; mas os homens de Ai os puseram em fuga, chegando a matar trinta e seis deles. Eles perseguiram os israelitas desde a porta da cidade até Sebarim, e os feriram na descida. Diante disso o povo desanimou- se completamente.
Então Josué, com as autoridades de Israel, rasgou as vestes, prostrou-se, rosto em terra, diante da arca do Senhor, cobrindo de terra a cabeça, e ali permaneceu até a tarde. Disse então Josué:
— Ah, Soberano Senhor, por que fizeste este povo atravessar o Jordão? Foi para nos entregar nas mãos dos amorreus e nos destruir? Antes nos contentássemos em continuar no outro lado do Jordão! Que poderei dizer, Senhor, agora que Israel foi derrotado por seus inimigos? Os cananeus e os demais habitantes desta terra saberão disso, nos cercarão e eliminarão o nosso nome da terra. Que farás, então, pelo teu grande nome?”

Você nunca vai ser derrotado. Eu estarei com você como estive com Moisés. Nunca te abandonarei". Lembram?

Como interpretar esse texto diante desta promessa?

Josué, em algum momento, trilhou o caminho da autossuficiência. Tantas vitórias e conquistas levaram-no ao pensamento de que era fortes demais, inteligente demais, suficiente em seus conhecimentos, técnicas e recursos. Logo após ouvir o chamado de Deus para suceder Moisés e ouvir suas orientações, Josué inicia os preparativos os três grandes desafios iniciais.
O rio Jordão, na sua maior cheia, representava os desafios humanamente impossíveis de vencer, e ele foi superado, porque Deus, representado pela Arca da Aliança, foi à frente do Seu povo. A cidade de Jericó, com seus muros, representava os desafios humanamente difíceis, mas, possíveis de vencer, e ela foi superada, porque Deus, representado pela Arca da Aliança, foi no meio do Seu povo. A cidade de Ai, aparentemente um desafio mais fácil do que os outros dois, impôs uma derrota sobre o povo de Deus. Por quê?
Deus tinha sido colocado de lado, a vaidade tomou conta do povo de Deus, eles quiseram enfrentar a batalha sem Deus e sem esforço, esqueceram-se das vitórias que Deus já lhes dera e tomaram do anátema (coisa proibida por Deus) desobedecendo às ordens divinas. O caminho da autossuficiência nos leva a derrocada. Faz-nos perder o sentido do propósito de Deus. 

Trilhamos o caminho da autossuficiência quando…

Primeiro, seguimos pelo caminho da ignorância (v. 2)

Diferentemente das últimas batalhas, Josué não consultou a Deus sobre o que deveria fazer. A promessa de vitórias e presença constante de Deus no meio do povo estava condicionada ao desempenho espiritual do povo, sobretudo à fidelidade em:
1)    ser cuidadoso, astuto;
2)    conhecer o livro da Lei, meditar nele e seguir seus mandamentos; e
3)    ser forte, corajoso e não ficar desanimado diante das dificuldades.

Na percepção divina, os israelitas ignoraram suas orientações e, sobretudo, seus mandamentos. Não foram cuidados, conheciam o livro da Lei, mas não seguiram seus ensinamentos, sobretudo o "não roubarás"… Certamente receberia um NÃO como resposta… Josué ignorou as orientações de Deus, não o buscou,

Se Deus nos conhece tão bem, por que duvidar que ele sabe o que é melhor para nós? Além do mais, nosso Deus é sábio. Ele vê tudo, enxerga mais a fundo do que qualquer humano e conhece de antemão o desfecho das coisas. Entender esses conceitos e não aplica-los em nossa vida, diante dos desafios do dia-a-dia, é trilhar o caminho da ignorância. Confúcio, filosofo e pensador do século VI a.C., disse que “existem coisas que são tão claras que não as percebemos. E que certa vez, conta ele, um homem ignorante saiu com uma tocha na mão procurando fogo”

Ignorante é todo aquele que acha que sabe tudo;
Ignorante é todo aquele que acha que seu conhecimento é suficiente;
Ignorante é todo aquele que ignora a lei de Deus, que acha que já sabe tudo sobre Ele;
Ignorante é todo aquele que age por impulso;
Ignorante é todo aquele que acha que as experiências do passado serão garantias de sucesso no presente e no futuro.
Ignorante é todo aquele que, mesmo conhecendo os conselhos bíblicos, prefere agir conforme os padrões mundanos.

Trilhamos o caminho da autossuficiência quando…

Segundo, seguimos pelo caminho do menosprezo (v. 3).

Josué foi um dos 12 espias enviados por Moisés. Ele, juntamente com Calebe, viu o quanto parecia difícil derrotar aqueles gigantes, mas preferiu acreditar na força do Senhor que estava com eles. Diferentemente do episódio anterior, este foi positivo, todos os seus espiões disseram a mesma coisa "eles são poucos e fracos. Será muito fácil derrotá-los".

Na primeira experiência de espionagem, Josué confiou na força do Senhor; na segunda, preferiu confiar na fraqueza do inimigo. Achou que eram fortes, tanto quanto o Senhor.
Menosprezar o poder do inimigo é muito perigoso! Isto nos deixa vulneráveis e completamente em suas mãos.

Menosprezamos o inimigo, quando brincamos com o pecado;
Quando agimos de igual modo que aqueles que não temem a Deus;

Menosprezamos o inimigo, quando mentimos, mesmo sabendo que é pecado;

Menosprezamos o inimigo, quando olhamos maliciosamente para a mulher alheia;

Menosprezamos o inimigo, quando buscamos enriquecer a custa de sonegação e exploração do próximo;

Menosprezamos o inimigo, quando não conseguimos controlar nossa língua e falamos além do que deveria;

Menosprezamos o inimigo, quando, impulsionados pela ação do hedonismo (prazer aqui e agora) e consumismo desenfreado, compramos e não pagamos.

Trilhamos o caminho da autossuficiência quando…

Terceiro, trilhamos o caminho da desvalorização da santidade (v.12).

Josué conduziu o povo com bravura, desde a travessia do Jordão, até a queda dos muros de Jerico, era perceptível a ação de Deus no meio do povo. No capitulo 1, Josué recebe as orientações para ele, de igual modo, o povo deveria segui-las. Meditar na Lei do Senhor, estuda-la e falar sobre ela entre o povo, significava conhecer o caráter de Deus a cada dia. À medida que fosse dissolvida, seria possível saber que o Senhor abominava o pecado. Josué, o grande líder, era o responsável por fazer isso funcionar.
Não sabemos ao certo como isso aconteceu, mas o fato é que algo deu errado. Um único israelita resolveu não levar a sério as recomendações de Deus. Um único homem trouxe desgraça a sua família e toda a comunidade… Diz o texto bíblico em Gênesis 1.26-27 que fomos criados parecidos com Deus, em sua imagem e semelhança. No livro de Levitico 1.9, o Senhor nos faz uma recomendação: seja SANTO porque eu sou SANTO.

Quando não agimos do mesmo modo que Deus agiria em nosso lugar, não estamos seguindo sua recomendação. Não estamos valorizando uma vida santificada.

Desvalorizamos a santidade quando…
Deixamos praticar a justiça de Deus;

Desvalorizamos a santidade quando…
Impulsionados pela ganância, agimos maldosamente, sem pensar nas consequências;

Desvalorizamos a santidade quando…
Estudamos a Palavra de Deus, mas a praticamos;

Desvalorizamos a santidade quando…
Não valorizamos nossa família;

Desvalorizamos a santidade quando…
Sabemos que nosso irmão esta em dificuldade e não oferecemos ajuda;

Desvalorizamos a santidade quando…
Percebemos, por exemplo, que uma nova pessoa adentrou nossa comunidade, e que ela precisa de referência, apoio e atenção, mas, mesmo assim, preferimos ignora-la e nos refugir em nosso egoísmo e individualismo.

Conclusão

Diante desta trágica história de ignorância, menosprezo e desvalorização da Santidade, tenho algumas sugestões…

1. Nossas experiências passadas e nossos conhecimentos devem ser usados para aprimorar os conceitos bíblicos em nós;
2. Diante dos desafios impostos por uma sociedade corrompida, devemos nos impor como aqueles que são portadores de uma verdade que liberta;
3. Se temos que ser gananciosos, que sejamos em buscar a aprovação de Deus em nossos vidas, diante de nossa fala, atos e procedimentos;
5. Se temos que ser desobedientes, que sejamos com as propostas indecentes e perigosas;
6. Se temos que agir desvalorizando algo, que seja a vida mesquinha e “farisaica” que, muitos vezes, buscamos insistentemente.