AS QUESTÕES HOMOSSEXUAIS, 1: ENTENDENDO O ENSINO BÍBLICO



Na maioria das sociedades ocidentais, houve uma profunda transformação no modo como a homossexualidade passou a ser considerada. Sobretudo no século 21, tem sido irresistível o esforço para que as uniões entre pessoas do mesmo sexo recebam status similar ao do casamento tradicional.
 
O MOVIMENTO
 
Entre as pessoas em geral, cresce a convicção de que existe uma base biológica para o comportamento sexual, expressa na afirmação popular de que uma pessoa já nasce homossexual. A conclusão é que, sendo algo natural, deve ser permitido. Segundo ainda o discurso das ruas, o que importa é que as pessoas sejam felizes.
É raro o dia em que os meios de comunicação não apresentem reportagens sobre o assunto, sempre no mesmo tom de defesa dos chamados direitos civis dos homossexuais. Sucedem-se os depoimentos de pessoas, geralmente do mundo artístico, assumindo a sua homossexualidade e estimulando a que outros façam o mesmo. As manifestações em contrário não recebem divulgação, exceto nas páginas policiais quando algum homossexual é agredido fisicamente ou ameaçado verbalmente.
Praticamente todas as telenovelas brasileiras apresentam um homossexual ou uma dupla de homossexuais. Fica a impressão que o discurso mediático é homogêneo, fazendo lembrar alguns dos conselhos que dois autores homossexuais deram para que o movimento vencesse:
 
. "Fale sobre os homossexuais e a homossexualidade do modo mais alto e mais frequente que puder";
. "Retrate os homossexuais como vítimas, não como desafiadores agressivos";
. "Faça os homossexuais parecerem bons". 1
 
Na mesma linha, poderia ser acrescentado: ridicularize como conservador, retrógrado, rancoroso, fundamentalista, preconceituoso e racista todo aquele que se opuser aos direitos homossexuais.
O Conselho Federal de Psicologia proibiu, em 1999, que os psicólogos brasileiros ofereçam qualquer tipo de terapia capaz de levar um homossexual a deixar sua orientação ou opção sexual. 2 O órgão brasileiro seguiu a Associação Americana de Psquiatria que, em 1973, retirou a homossexualidade de sua lista de transtornos mentais.
Quanto aos cristãos, eles se dividiram. Há organizações cristãs, sobretudo nos Estados Unidos, que buscam oferecer ajuda para mudança e outras que estimulam a manutenção do status quo.
Na Europa e nos Estados Unidos, algumas denominações evangélicas estiveram entre as primeiras organizações a reconhecer a validade do relacionamento homossexual, algumas delas, inclusive, admitindo pessoas nesta condição ao pastorado. Em todos estes países, inclusive no Brasil, há igrejas que abertamente acolhem homossexuais como membros e pastores. No entanto, qualquer decisão, nos tribunais e nas igrejas, é sempre acompanhada de muitas discussões. No caso das igrejas que decidem ser inclusivas, no sentido de aceitar os homossexuais com suas práticas, isto raramente acontece sem divisões e desfiliações em massa.
A defesa da legitimidade do relacionamento homossexual impõe, portanto, uma séria reflexão aos cristãos. Uns se tornam militantes contra o movimento homossexual, outros se aliam aos seus defensores e outros preferem tocar suas vidas como se o problema não existisse.
Mais que uma questão a ser discutida, a homossexualidade é um território de muito sofrimento. Um poeta norte-americano anotou: "Como homossexual, eu tenho companheiros. O mais fiel de todos é a depressão". 3
 
IGREJAS BRASILEIRAS
 
Em todas as comunidades cristãs, o assunto é posto pela própria realidade, seja pelo comportamento de alguém da própria igreja ou de algum familiar. Algumas denominações já se manifestaram. A Igreja Anglicana no Brasil manifestou-se (2012) nos seguintes termos, entre outros:
 
. "Entendemos que [homossexualidade] se trata de uma condição da pessoa e não uma escolha, sendo assim parte da perfeita criação de Deus";
. De modo algum devem as pessoas homossexuais, bissexuais, transexuais ou travestis ser discriminadas ou afastadas do convívio na comunidade de fé";
. "As pessoas homossexuais, bissexuais, transexuais e travestis têm livre acesso aos três graus do Ministério Ordenado e ao Rito Sacramental do Matrimônio, com os mesmos direitos e deveres dos heterossexuais". 4
 
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil reconhece que não existe consenso sobre a questão homossexual, mas afirma (2001) sobre a liderança:
 
"Não negamos que pessoas homossexuais, que vivem a sua condição sem causar escândalo, podem realizar um trabalho abençoado na comunidade, ao colocarem a serviço do Evangelho os dons que Deus lhes deu. Mas constatamos também que, no momento atual da Igreja, não há condições de uma pessoa homossexual praticante assumir o exercício público do ministério eclesiástico na IECLB". 5
 
A Igreja Metodista do Brasil emitiu (2000) a seguinte orientação:
 
"O homossexual é, em muitos casos, uma tendência de ordem orgânica e/ou emocional, também, e como tal deve ser considerada.Ter homossexualidade não é pecado em si mesmo, o pecado é a prática desta tendência.A Igreja pode e deve contribuir para a reversão desta tendência da homossexualidade, por ser ela contrária ao padrão bíblico cristão da moral. 6
 
A Convenção Batista Brasileira anunciou (2013) também uma declaração, em que defende os seguintes valores:
 
. "Promover políticas públicas que deixem subentendido que todas as práticas sexuais são igualmente corretas e desejáveis, representa absoluta contradição ao ensino bíblico relativo ao matrimônio, base da família, célula mater do Estado";
 
. "O matrimônio biblicamente instituído por Deus é uma união integral de corpo e mente (Gn 2.18,23-24), baseado em um compromisso de permanência e exclusividade entre o sexo masculino e o sexo feminino, e selado pelo ato sexual. (…) Não concordamos com a criação de um novo modelo de casamento contrariando a Bíblia, a própria Constituição (Art. 226) e o Código Civil (Art. 1521). Por sinal, quebrada a normatividade do casamento heterossexual, os mais diferentes modelos poderiam ser propostos, tais como: casamento aberto, casamento incestuoso, casamento temporário, casamento poligínico, casamento poliândrico etc;
 
. "Ministros religiosos não podem ser forçados a realizar e reconhecer uniões homoafetivas e devem ser respeitados em seus direitos humanos". Também "defendemos que ministros religiosos e profissionais liberais devem ter assegurado o direito de ministrar tratamento a homossexuais que assim o desejem".
 
. "Quanto à homofobia, somos contra qualquer tipo de discriminação, desrespeito, abuso ou violência, seja ela contra quem for. Todavia, nos reservamos o direito constitucional (liberdade religiosa) de discordar da prática homossexual, por entender que é biblicamente pecaminosa e viola o padrão original de Deus para os seres humanos. O Antigo e o Novo Testamento desaprovam severamente práticas homossexuais (Lv 18.22; 20.13; Is 3.9; Rm 1.24-27; 1 Co 6.9-10; 1 Tm 1.9-10). Consequentemente, não aprovamos tais práticas". 7
 
Estes pronunciamentos, embora necessários e relevantes, têm pouca eficácia interna e nenhuma externa. A pressão vai aumentar, numa guerra que, mesmo perdida, deve ser lutada.
 
AS QUESTÕES
 
Permanecem as questões (muitas questões), quatro das quais serão discutidas agora.
 
1. A QUESTÃO BÍBLICA — Como a Bíblia considera a prática homossexual? Seus ensinos sobre a prática da homossexualidade são válidos hoje?
2. A  QUESTÃO CIENTÍFICA — É a homossexualidade determinada biologicamente?
3. A QUESTÃO LEGAL — Podemos os cristãos impor padrões morais para os não-cristãos?
4. A QUESTÃO PASTORAL — Como devemos amar os homossexuais?
 
 
A QUESTÃO BÍBLICA
 
Comecemos pela questão bíblica: 
 
. Como a Bíblia considera a prática homossexual? 
 
Há uma pergunta preliminar subjacente e que precisa ser feita: 
 
. existe uma autoridade externa sobre as nossas vidas?
 
Boa parte dos cristãos aceita que existe uma fonte última a partir da qual devem derivar a teoria e a prática de suas vidas. Boa parte dos cristãos vê a Bíblia como contendo os princípios sobre os quais deve orientar suas vidas como palavra final, porque Palavra revelada de Deus.
A visão secularizadora prefere pugnar pela ideia da absoluta autonomia do ser humano.
Na visão secularizadora, não tem importância o que Bíblia descreve ou prescreve sobre o comportamento homossexual, porque cada pessoa pode fazer livremente suas escolhas sem qualquer orientação apriorística.
Para um cristão que considera a Bíblia o seu livro principal, a pergunta é indispensável: 
 
. qual é o ensino bíblico sobre a homossexualidade?
 
Há sete textos diretos sobre a questão, sendo dois narrativos e cinco prescritivos. 
 
Os textos narrativos estão em Gênesis 19 e Juízes 19.
 
1. Gênesis 19.1-9 narra a destruição de Sodoma e Gomorra, nos seguintes termos:
 
"Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Ló estava sentado à porta da cidade. Quando os avistou, levantou- se e foi recebê-los. Prostrou-se, rosto em terra, e disse:
— Meus senhores, por favor, acompanhem-me à casa do seu servo. Lá poderão lavar os pés, passar a noite e, pela manhã, seguir caminho.
— Não, passaremos a noite na praça, — responderam.
Mas ele insistiu tanto com eles que, finalmente, o acompanharam e entraram em sua casa. Ló mandou preparar-lhes uma refeição e assar pão sem fermento, e eles comeram. Ainda não tinham ido deitar-se, quando todos os homens de toda parte da cidade de Sodoma, dos mais jovens aos mais velhos, cercaram a casa. Chamaram Ló e lhe disseram:
— Onde estão os homens que vieram à sua casa esta noite? Traga-os para nós aqui fora para que tenhamos relações com eles.
Ló saiu da casa, fechou a porta atrás de si e lhes disse:
— Não, meus amigos! Não façam essa perversidade! Olhem, tenho duas filhas que ainda são virgens. Vou trazê-las para que vocês façam com elas o que bem entenderem. Mas não façam nada a estes homens, porque se acham debaixo da proteção do meu teto.
— Saia da frente!” — gritaram. E disseram: — Este homem chegou aqui como estrangeiro, e agora quer ser o juiz! Faremos a você pior do que a eles.
Então empurraram Ló com violência e avançaram para arrombar a porta". (Gênesis 19.1-9 — NVI)
 
2. Seis séculos depois, conforme a narrativa de Juízes 19, ocorreu algo muito próximo.
 
Dois homens conversavam no interior de uma moradia. "Quando estavam entretidos, alguns vadios da cidade cercaram a casa. Esmurrando a porta, gritaram para o homem idoso, dono da casa:
— Traga para fora o homem que entrou em sua casa para que tenhamos relações com ele!”
 O dono da casa saiu e lhes disse:
— Não sejam tão perversos, meus amigos. Já que esse homem é meu hóspede, não cometam essa loucura. Vejam, aqui está minha filha virgem e a concubina do meu hóspede. Eu as trarei para vocês, e vocês poderão usá-las e fazer com elas o que quiserem. Mas, nada façam com esse homem, não cometam tal loucura!
Mas os homens não quiseram ouvi-lo. Então o levita mandou a sua concubina para fora, e eles a violentaram e abusaram dela a noite toda. Ao alvorecer a deixaram". (Juízes 19.22-25– NVI)
 
Alguns defensores do movimento homossexual preconizam que o pecado dos moradores das cidades gêmeas não foi a homossexualidade, mas a violência ou a falta de hospitalidade contra os visitantes. Um desses autores defende que os Gênesis 19 e Juízes 19 contam as histórias de pessoas que não viveram de modo reto e justo; não vivendo segundo a aliança com Deus, degradaram as outras. As narrativas não tratam de relações sexuais, mas versam de atitudes impróprias de pessoas que raptaram outras. "O foco é o poder e o abuso do poder". 8
No entanto, conquanto os textos possam indicar a quebra da hospitalidade, seu foco foi mesmo a vergonha que os anfitriões experimentaram diante da fúria homossexual dos seus conterrâneos. Os dois grupos que assim procedem são condenados. As duas histórias mostram como Israel considerava a homossexualidade. 9
 
3. Há ainda um terceiro texto narrativo, este indireto. É o que conta a história da amizade entre Davi e Jônatas, usada também como uma demonstração do amor entre dois homens. Ao lamentar a morte do amigo, Davi canta:
 
“Como caíram os guerreiros no meio da batalha!
Jônatas está morto sobre os montes de Israel.
Como estou triste por você, Jônatas, meu irmão!
Como eu lhe queria bem!
Sua amizade era, para mim, 
mais preciosa que o amor das mulheres!
(2 Samuel1.25b-26 — NVI)
 
Nem os biblistas homossexuais ousam tratar como de natureza erótica a amizade dos dois guerreiros, que implicaria incorrer em anacronismo, que é atribuir sentidos do presente ao passado e ignorar o próprio significado das palavras. Nada, no texto, indica amor sexual. Sem dúvida, "o fato de que Davi teve muitas esposas e concubinas mostra que o seu problema não eram as tentações homossexuais mas a luxúria heterossexual que não era satisfeita (que foi a razão pela qual cometeu adultério com Bate-Seba, a despeito de ter muitas mulheres)". 10
 
4. Os outros dois textos são prescritivos, com instruções expressas e dizem praticamente a mesma coisa, referindo-se à homossexualidade masculina:
 
. “Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante".
(Levítico 18.22) 11
 
. “Se um homem se deitar com outro homem como quem se deita com uma mulher, ambos praticaram um ato repugnante. Terão que ser executados, pois merecem a morte".
(Levítico 20.13)
 
Segundo outro defensor, "essas proibições visavam manter uma sociedade rígida e dominada pelo macho, que era distinta daquelas que a circundavam, para delinear claramente os papéis e as regras sociais". Por isto, "utilizar esses versos como armas de condenação contra as pessoas que foram feitas à imagem e semelhança de Deus é um desserviço ao texto, um mal-uso da Torá e um insulto contra a palavra de Deus como ela se fez conhecer. A palavra de Deus não deve ser congelada no tempo, mas ouvida hoje e vista a partir de uma perspectiva renovada e com uma compreensão baseada no mundo que está ouvindo estas palavras agora". 12
Segundo um defensor da causa homossexual, "quando interpretadas à luz dos contextos culturais e religiosos em que o texto foi escrito, fica claro que as passagens de Levítico não pronunciam que a atividade sexual homossexual masculina seja inerentemente imoral. Antes, foi somente devido à sua associação com a adoração de ídolos que foi condenada no código levítico, como o texto estabelece". Resulta, então, que "os mandamentos do código levítico não se aplicam aos cristãos". 13
 
Sabemos que o livro de Levítico deve ser lido com cuidado, porque causa confusão até nos ouvintes de Jesus, que foi sempre claro, abolindo as regras ligadas às cerimônias e ao culto, nunca os mandamentos de santidade. As regras de Levítico para a vida podem ser divididas em três grupos: regras de santidade, regras cerimoniais e regras litúrgicas. Neste caso, o contexto das proibições de práticas homossexuais sugere claramente que pertencem às regras de santidade moral, 14 não apenas aos cuidados cerimoniais e litúrgicos. Levítico proíbe a prática homossexual porque ela torna outro macho um parceiro sexual, como se fosse uma mulher. 15
"As proibições ocorrem no contexto atos outros atos sexuais que continuam proibidos hoje (incesto, adultério, bestialidade) e não estão relacionadas ao tema do sacrifício de crianças". 16 Rejeitar as prescrições levíticas neste caso implica em rejeitar as outras sobre a santidade do sexo.
 
Em resumo, "não há uma única peça de evidência em qualquer lugar do Antigo Testamento que contenha o menor traço de atitude favorável a qualquer tipo de relacionamento homossexual. As narrativas de Davi e Jônatas não são exceções. Não surpreende, então, que o testemunho do judaísmo antigo seja de inequívoca oposição ao intercurso entre pessoas do mesmo sexo, num rigor não encontrado em qualquer outra cultura da bacia do Mediterrâneo". 17
 
No Novo Testamento não é diferente. Há três textos claros a respeito.
 
5. O primeiro é Romanos 1.26-27:
 
"Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza.
Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão". (Romanos 1.26-27 — NVI)
 
Diante deste texto, os defensores da legitimidade do relacionamento homossexual interpretam que o apóstolo Paulo está condenando a idolatria, que incluía, naquele tempo, a orgia sexual. Nesses cultos, homens e mulheres heterossexuais participavam de atividades homossexuais como parte de sua adoração. 18 Como no século 21, a atividade homossexual nada tem a ver com idolatria, "a descrição da prática homossexual como vil e imprópria, embora relevante na cultura de Paulo, está agora obsoleta". 19
 
Quando se lê o texto com atenção e respeito, soa evidente que o apóstolo Paulo está orientando os romanos sobre o pecado, pondo ênfase nas suas consequências. Diante do fato que a filosofia e a religião do seu tempo abraçavam com facilidade todo tipo de superstição e imoralidade, Deus permitiu ao homem o exercício do seu livre arbítrio. Livre, decidiu entregar-se aos seus desejos, inclusive do sexo ilícito, que degrada o ser humano.   Diante do pecado, "Deus confirma a decisão que o próprio indivíduo tomou e o entrega às consequências dessa decisão". 20
Entre as práticas sexuais ilícitas, o apóstolo Paulo menciona o homossexualismo feminino (verso 26) e masculino (verso 27), que são contra o que Deus estabeleceu ("relações naturais"). "Ao criar a natureza, criou macho e fêmea; Deus instituiu o casamento como uma união heterossexual; e o que Deus uniu, nós não temos o direito de separar". Assim, o único contexto em que Deus espera que haja a experiência de "uma só carne" é na monogamia heterossexual, uma vez que uma parceria homossexual (mesmo que monogâmica) "nunca pode ser vista como uma alternativa legítima ao casamento" heterossexual. 21
Assim, devemos, com toda a franqueza, reconhecer que, em Romanos 1, Paulo retrata a a atividade homossexual como um sinal vívido e vergonhoso da confusão e da rebelião da humanidade contra Deus; logo, devemos formar nossas escolhas morais sobriamente à luz deste retrato". 22
 
6. O segundo texto do Novo Testamento (sexto na Bíblia) é 1 Coríntios 6.9-11:
 
. "Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus".
 
A tradução mais usada entre os evangélicos no Brasil (ARA) traduz assim o mesmo texto:
 
"Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus".
 
Assim, as palavras que importam para a nossa questão são em português: 1. imorais/impuros, 2. homossexuais passivos/efeminados e 3. homossexuais ativos/sodomitas. No grego, como o debate é intenso, são, respectivamente: 1. πορνοι, 2. μαλακοι e 3. αρσενοκοιται.
 
A exegese pro-homossexual reconhece que o texto lhe é difícil. Um desses estudiosos, no entanto, entende que a perícope trata do poder e a violência e da satisfação do desejo sexual por uma pessoa de alta posição na sociedade contra uma pessoa em baixa posição. O foco de Paulo não é um relacionamento mútuo, amoroso, monogâmico e todo baseado na mutualidade, no respeito e no amor. Por isto, "o texto não pode ser usado contra o relacionamento homossexual como ele existe no século 21". 23
 
Vamos às palavras:
Quando a "imorais/impuros/πορνοι", não há grande discussão. A preferência mais consensual, para a tradução, é "imorais", significando o substantivo "imoralidade" todo tipo de comportamento sexual fora do casamento. 
A palavra μαλακοι designa os que abusam de si mesmos com homens. Literalmente significa "homens suaves", no sentido de machos efeminados que fazem o papel sexual de fêmeas. 24
Por sua vez, αρσενοκοιται conecta duas palavras gregas à tradução que a Septuaginta faz de Levítico 18.22 e 20.13: "arsen" (macho) e "koitê" (deitar-se). A palavra, portanto, designa, o parceiro homossexual ativo. 25
Assim, na mente do apóstolo Paulo, "o intercurso macho-macho é errado não apenas porque favoreça à exploração, mas porque se contrapõe à única união válida para a expressão sexual, que é a união entre um homem e mulher. 26
 
7. O terceiro texto novitestamentário é 1 Timóteo 1.9-10:
 
. "Também sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina". (NVI)
 
. "Tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina". (ARA)
 
Novamente, temos impuros/imorais/πορνοισ e, agora, homossexuais/sodomitas/αρσενοκοιταισ.
Os argumentos são os mesmos. A clareza do apóstolo também é a mesma.
Neste texto, estamos, na verdade, diante de uma ilustração sobre a validade da lei, tanto a lei de Deus como a dos homens, se esta estiver em acordo com aquela. A lista de 1Timóteo de práticas a serem evitadas segue os Dez Mandamentos, do quinto ao nono (conforme Êxodo 20): 
 
Os profanos e irreverentes (ímpios e profanos) são os que não levam Deus a sério, contariando o quartamento mandammento: "Não tomarás o nome de Deus em vão".
Os parricidas e matricidas são os que não honram pai e mãe (Mandamento 5: "Honra teu pai e tua mãe").
Os homicidas quebram o sexta mandamento: "Não matarás".
Os imorais (incluídos os homossexuais) violam o sétimo mandamento: "Não adulterarás".
Os sequestradoress/raptores de homens desobedecem ao oitavo mandamento: "Não furtarás". 
Os mentirosos e que juram falsamente (perjuros) riscam das suas vidas o nono mandamento: "Não darás falso testemunho contra o teu próximo".
 
Antigo e Novo Testamentos se conectam. É bom termos isto em mente porque alguns se perguntam por que Jesus não condenou explicitamente a prática homossexual. 
Quando Jesus trata do casamento, ele valida o que chama de "Moisés", isto é, a lei mosaica, mesmo que preferisse os tempos primeiros, quando não havia qualquer lei que favorecesse o divórcio, diante do desejo de Deus que fosse/seja para sempre.
Quando é acusado, ele apela para o código mosaico, que ele chama de "nossa lei" e o elogia por mandar ouvir as testemunhas antes de as condenar. Na sequência, quando é chamado para julgar a mulher acusada de adultério, que, segundo o código de santidade do Levítico, devia ser apedrejada, Jesus não questiona a prescrição, apenas lamenta a hipocrisia dos acusadores, tão culpadas quanto a acusada (João 7.51-8.11).
A propósito, não discutiu a bestialidade, mas não significa que a aprovasse.
Jesus tratou do tema da sexualidade humana, quando falou sobre o divórcio. Ele citou Gênsis 1-2 para nos recordar que o plano de Deus era que o casamento fosse entre um homem e uma mulher. Quando se referiu ao Antigo Testamento, ensinou que não veio abolir a lei e os profetas (Mateus 5.17). E isto certamente inclui o ensino do Antigo Testamento sobre as  questões homossexuais.
Como escreveu um estudioso, "o Novo Testamento clara e inequivocamene afirma que a prática homossexual é pecado e inaceitável  para Deus". 27
 
 
O que está em jogo também
 
1. Existe uma fonte de autoridade sobre o ser humano, ou cada um pode fazer o que entende ser-lhe melhor?
Boa parte das pessoas entende que não existe nenhuma fonte de autoridade. 
Os cristãos cremos que existe. Esta fonte é o próprio Deus, de quem emana a sua Palavra, escrita por homens inspirados por ele. 
 
2. Esta Palavra — ou Bíblia Sagrada — deve ser levada a sério no que diz sobre a vida em geral e a sexualidade em particular?
Boa parte das pessoas não leva em conta o que a Bíblia diz ou por desconhecê-la e/ou por achar que ela está ultrapassada ou tenha valor apenas para os cristãos.
Os cristãos cremos que sim. Não nos é facil seguir os seus preceitos porque são elevados e contrariam a nossa orientação sobre as coisas.
 
3. O que devemos fazer diante do fato que a Bíblia claramente condena a prática homossexual?
Alguns simplesmente ignoram o que a Bíblia diz, por acharem que suas vidas devem seguir outros valores.
Outros procuram reinterpretar a Bíblia de modo que autorize seus pensamentos e ações. Assim se orientam alguns defensores da homossexualidade, como não contrária aos mandamentos de Deus.
Os cristãos bíblicos não temos alternativa, senão ficar com a Bíblia, mesmo que preferíssemos que ela dissesse outra coisa.
Também não não temos alternativa porque não queremos ter alternativa, uma vez que cremos que todo o conselho de Deus está na Bíblia; quem a leva a sério é feliz, sobretudo porque ela traz palavras de vida eterna, que é uma vida com qualidade que começa enquanto vivemos aqui.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
ANDERSON, Kerby. A biblical point of view on homosexuality. Eugene: Harvest, 2008.
 
BAILEY, Kenneth E. The New Testament and Homosexual Practice. Disponível em <http://www.pfrenewal.org/issues/300-new-testament-and-homosexual-practice>
 
DYER, John F. Those 7 references; a study of 7 references to homosexuality in Bible. Kindle Edition, 2007.
 
HAYS, Richard B. Relations natural and unnatural: response to John Boswell's exege de Romans I. Disponível em <http://www.dennyburk.com/Stuff/1986-Hays-Nature.pdf>
 
KIRK, Marshall & MADSON, Hunter. After the Ball — How America will conquer its fear and hatred of Gays in the 1990s". Plume, 1990.
 
STOTT, John. Romanos. São Paulo: ABU, 1994.
 
VIA, Dan O. & GAGNON, Robert. Homosexuality and the Bible; two visions. Minnneapolis: Fortress, pos. 111. Kindle edition.
 
WEEKLY, R.D. Homosexianity. Raleigh: Judah First, 2011.
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
 
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
_________________________________

1  KIRK, Marshall & MADSON, Hunter. After the Ball — How America will conquer its fear and hatred of Gays in the 1990s". Plume, 1990.
2  A resolução do CRP estabelece, "CONSIDERANDO que a homossexualidade não constitui", que 
"Art. 2º – Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas;
Art. 3º – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados".
Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades". Cf. <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf>
3  BROWN, Ray. Citado por MONTJOY, Paul Mountjoy. Em <http://communities.washingtontimes.com/neighborhood/steps-authentic-happiness-positive-psychology/2013/apr/14/homosexuality-choice-modern-science-says-no/#ixzz2SwTRaSzK>
4  Resolução reformada e aprovada na Reunião Ordinária do Segundo Sínodo da Igreja Anglicana do Brasil – IAB (2012). Disponível em <http://anglicanchurch.weebly.com/uploads/7/8/6/9/7869677/3_resoluo_sobre_sexualidade_-_posio_oficial_da__igreja_anglicana_do_brasil.pdf>
5  Cf. http://www.sinodoparanapanema.com.br/arquivos/uploads/files/Homosexualidade_e_ordenação.doc?PHPSESSID=9e78c9516e1a6473310f860075e5aec1
6  Cf. <http://brasillivreedemocrata.blogspot.com.br/2009/06/carta-pastoral-da-igreja-metodista.html>
7  Declaração aprovada em janeiro de 2013. Disponível em ≤http://mantenedordafe.org/blog/?p=17036>
8  DYER, John F.Those 7 references; a study of 7 references to homosexuality in Bible. Kindle Edition, 2007, p. 20.
9  VIA, Dan O. & GAGNON, Robert. Homosexuality and the Bible; two visions. Minnneapolis: Fortress, pos. 111. Kindle edition.
10  ANDERSON, Kerby. A biblical point of view on homosexuality. Eugene: Harvest, 2008, pos. 1047.
11  A versão Almeida Revisada e Atualizada (ARA) traz: "Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação".
12  DYER, J.F., op. cit., p. 39.
13  WEEKLY, R.D. Homosexianity. Raleigh: Judah First, 2011, p. cit., p. 23. 
14  ANDERSON, Kerby, op. cit., pos. 755. 
15  VIA, Dan O. & GAGNON, Robert, op. cit., pos. 1101.
16  VIA, Dan O. & GAGNON, Robert, op. cit., pos. 726.
17  VIA, Dan O. & GAGNON, Robert, op. cit., pos. 716.
18  WEEKLY, R.D., op. cit., p. 32.
19  WEEKLY, R.D., op. cit., p. 34. Veja igual defesa em DYER, J.F., op. cit., p. 56. 
20  MOO, Douglas. Romanos. Em: CARSON, D.A., ed. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 1689.
21  STOTT, John. Romanos. São Paulo: ABU, 1994, p. 85.
22  HAYS, Richard B. Relations natural and unnatural: response to John Boswell's exege de Romans I. Disponível em <http://www.dennyburk.com/Stuff/1986-Hays-Nature.pdf>. Hays faz uma exegese detalhada de Romanos 1. Uma defesa da visão de que Romanos 1 condena a homossexualidade é largamente discutida por BAHNSEN, Greg L. Homosexuality: a biblical view. 2011, pos. 914. O livro de John Boswell e "Christianity, Social Tolerance, and Homosexuality" (1980).
23  DYER, J.F., op. cit., p. 68.
24  VIA, Dan O. & GAGNON, Robert, op. cit., pos. 917.
25  VIA, Dan O. & GAGNON, Robert, op. cit., pos. 928.
26  VIA, Dan O. & GAGNON, Robert, op. cit., pos. 977.
27  BAILEY, Kenneth E. The New Testament and Homosexual Practice. Disponível em <http://www.pfrenewal.org/issues/300-new-testament-and-homosexual-practice>