O porta retrato de Deus (André Flores)

Sou pastor e professor. Também trabalho auxiliando o judiciário a promover a justiça. Sei que os homens serão sempre responsáveis pelos erros que cometeram, independente do perdão de Deus. Perdão é uma coisa e consequência do pecado é outra.

Mas, e a dor decorrente da consequência do pecado? Que Deus é este que perdoa, regenera, ressuscita, mas não se propõe a remover a dor dos inconsequentes que se arrependeram?

A dor da consequência de um erro é a melhor ferramenta existente na vida daquele que verdadeiramente se prontifica a não cair no mesmo erro. Essa ferramenta é importante e será grande responsável por nos manter no caminho que levará ao céu.

A prisão, cuja razão foi perdoada por Deus, talvez seja a ferramenta que manterá vivo aquele que perdeu o rumo. A ferida, cuja causa foi perdoada por Deus, talvez seja a ferramenta que exibirá uma cicatriz responsável por manter longe do pecado o pecador arrependido. A enorme dívida talvez seja a lembrança responsável por trazer responsabilidade ao gastador compulsivo, porém arrependido.  A dor da distância de um filho, de uma esposa ou de um marido talvez seja a erva amarga na vida daquele que se arrependeu por ter sido irresponsável na hora de decidir seus relacionamentos, que serão muito bem medidos dali pra frente.

O bom nisso tudo é que Deus perdoa. Perdoa o arrependido. E a dor faz parte e não significa falta de misericórdia. Sabemos qual é o único pecado sem perdão.

Mas como Deus pode nos perdoar? Como Deus pode perdoar aquele que causou tamanho sofrimento a outro? Tentarei chegar perto de uma explicação precisa.

Certa vez vi a foto de um menininho. Ele apresentava um belo sorriso, um cabelo tipicamente resultante de uma mão paciente que o penteou. Ele também tinha umas bochechas fofas com aquele furinho nos cantos da boca. Sua risada parecia ser lançada ao céu por causa da inclinação do seu rosto para cima. Parece que quando queremos gargalhar a melhor posição é apontando o rosto para cima, porque assim nosso riso não encontra quinas e se desprende mais facilmente. A roupinha era daquelas roupas maravilhosas de uma criancinha que merece ser guardada para sempre, para ser mostrada aos netos. As dobrinhas, ah, as dobrinhas. Dobrinhas merecedoras de uma bela mordida! Seus dedinhos pareciam querer escalar o ar e podia-se ver nos olhos daquela criança uma vontade enorme de cair nos braços daquele que estava do outro lado da lente, responsável por congelar aquele momento.

Momentos depois desta foto vi outra. Nesta outra foto havia um adulto. Adulto acusado de ter cometido um crime. E esse adulto tinha aquela típica cara de “bandido”, conforme nós muitas vezes tipificamos.

Ocorre que eram a mesma pessoa, com alguns anos de diferença entre a data da primeira fotografia para a segunda fotografia.

Quando nos arrependemos Deus rasga a segunda foto.

E Ele faz isso por mais que tenhamos ao nosso redor especialistas em “quebra cabeças” sempre prontos para montar a foto rasgada.

E a dor da consequência do erro que agora tem que ser enfrentada? Primeiro, se arrependa. Segundo, deixe Deus se encarregar de resgatar à memória a sua primeira foto. Terceiro, sinta a dor, mas saiba que você está no porta retrato da cabeceira do seu Deus. E toda vez que Deus olhar para esta primeira foto um pouco da sua dor será diluída pelo anseio de Deus em vê-lo face a face, quando Ele, então, enxugará suas lágrimas. Maranata.

André Jorcelino Lopes Flores

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