Era noite, por causa do inverno.
Apressado, eu atravessava as travessias, pés firmes.
Era uma noite fragilmente iluminada.
Apressado, cada um alcançava seu compromisso, para malhar o corpo, a alma ou o coração.
Era uma noite que marcava o fim do dia de trabalho, de estudo ou de desejo.
Apressado, cada um carregava seu sonho.
Antes que eu pudesse ver, um homem alvejava encontrar suas filhas.
Antes que eu pudesse perceber, duas meninas, 4 e 8 anos suponho, almejavam chegar em casa, vindas das aulas, de balé imagino.
Antes que eu notasse, o homem foi em direção delas.
Antes que eu sentisse, as meninas notaram o pai em pé na esquina. Correram e se jogaram em seus braços, com um sorriso que não poderei esquecer. O pai também correu e se abaixou, sorriso puro, para as receber. Também não esquecerei.
Se disseram palavras, não ouvi.
Mas as cenas sublimes que vi ainda se repetem diante de mim, como num filme em câmera lenta.
O pai, cansado talvez, abre os braços e se inclina, absorto num magnífico sorriso.
As filhas, animadas certamente, abrem os braços e se jogam, seguras de serem amadas.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO