BOM DIA: HISTÓRIAS DA GRAÇA — A DÁDIVA DO PERDÃO

Eram 5 irmãos, quatro de uma mesma mãe.
Os quatro detestavam o meio-irmão, filho da velhice, José, e que desfilava a preferência do pai.
Para se livrar do rapaz, contrataram um matador de aluguel. O contratado mentiu e soltou o rapaz 200 km depois, mas recebeu o dinheiro como se tivesse feito o serviço combinado.
O pai de José chorou o resto da vida o filho tido como morto num assalto. O pai lamentava também não haver um corpo a sepultar. 
José trabalhou de tudo: faxineiro, segurança, padeiro, secretário.
Acabou na casa de um homem muito rico, que se afeiçoou a ele, sobretudo pelas histórias que contava de sua terra e das orações que fazia, preces longas de quem realmente cria.
José mudou de hábitos.
Fez carreira e acabou diretor de uma das empresas do seu patrão e amigo. Contratava, despedia.
Tinha que se vestir bem, por causa das responsabilidades.
A secretária anunciou que quatro homens o procuravam. Queriam uma audiência.
— Estamos precisando, mas mando voltar?
José mandou que entrassem.
Encaminhou-os ao Recursos Humanos.
Foram aprovados. Só faltava, então, a entrevista final.
No dia marcado, entraram. Nenhum questionamento sobre suas habilidades e pretensões. José só fez perguntas sobre a família dos homens.
— O pai de vocês ainda vive?
— Está velhinho.
— Quero conhecê-lo.
— E as vagas?
— Quero conhecê-lo.
Foram buscar o velho. Voltaram alguns dias depois.
Tinha um jantar na sala de reuniões.
O diretor chegou por último enquanto comiam.
Aproximou-se do velho e sussurrou, baixinho:
— Eu sou José.
E abraçou o ancião, que começou a chorar convulsivamente.
José saiu da sala.
Os irmão cercaram o pai. Pensaram em correr. O pai:
— Agora, vocês vão ficar e pagar.
José voltou para a sala:
— Hoje é um dia de festa. Louvado seja Deus que trouxe meu pai de volta e me permitiu ver de novo meus irmãos.
— Perdão, meu irmão — soluçou o mais velho.
— Hoje eu entendo porque Deus me mandou para cá. A graça transformou o mal em bem. E nesse tempo todo Deus me deixou com muita saudade, mas não me deixou sentir ódio. Em nenhum momento. Nós reunidos aqui é um milagre que eu vou agradecer o resto dos meus dias. Agora, vamos festejar.
(Ficção baseada na história real de José do Egito)
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO