Ela vivia cantando.
Ela cantava enquanto costurava.
Ela cantava enquanto arrumava a casa.
Ela cantava enquanto lavava ao tanque.
Ela cantava enquanto preparava a comida.
Ela cantava enquanto esperava a chegada dos filhos.
Ela continuou o cantar quando o canário da casa ficou ferido num acidente doméstico e parou de cantar. Desaprendeu. Depois de um tempo, de tanto ouvi-la, reaprendeu.
Ele parou de cantar outra vez. Foi quando ela ficou seriamente doente. Desde o momento em que a ambulância parou à porta para levá-la, o pássaro parou de piar. Quando, dias depois, o veículo retornou para trazê-la, restaurada, o canário voltou a encantar a casa.
Como todas as pessoas, ela passou por problemas, principalmente a perda precoce do pai dos seus pequenos, que, pelo resto de suas vidas, vão se lembrar dela como uma mulher que cantava.
Felizes as pessoas que podem ser lembradas assim.
(Em homenagem a dona Iracy Ferreira Lota, mãe de Cidelli, Diné, José Francisco, Rubens e Urgel, falecida no dia 17 de agosto de 2014, aos 85 anos de idade.)
ISRAEL BELO DE AZEVEDO