“Agora, não vos entristeçais, nem guardeis remorso por me terdes vendido para cá; pois foi para preservar vidas que Deus me enviou adiante de vós.” (Gênesis 45.5).
Se fizéssemos uma faxina em nossa vida, uma das coisas que jogaríamos fora, com certeza, seriam o sofrimento, a provação, a dor. Não gostamos de sofrimentos. Por isso nos consolamos tanto com Apocalipse 21.4: “Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porque as primeiras coisas já passaram.” Nossa esperança, melhor, nossa certeza, é que um dia não haverá mais sofrimentos. Mas, por enquanto os temos conosco e não devemos descartá-los; ao contrário, devemos tirar proveito deles. Foi o que José fez.
Certamente José encheu-se de tristeza e desespero ao ser vendido como escravo, mas tirou proveito disso e resolveu ser o melhor de todos os escravos. Mas nem sempre fazer o que é correto é garantia de sucesso. A infelicidade caiu sobre José novamente e ele foi preso. Mas também tirou proveito disso; resolveu ser o melhor de todos os presos. E na condição de preso, ao ter a revelação divina, através do sonho do faraó, do desastre que se projetava sobre aquela que chamou de “terra da sua infelicidade”, preocupou-se, solidarizou-se e apresentou ao faraó um plano de salvação para a nação egípcia.
Deus usou José porque esse era o seu plano, como o próprio José disse (Gn.45.5-8). Mas não esqueçamos que o usou também porque José não jogou fora seus sofrimentos. Talvez num primeiro momento não entendesse que eles vinham de Deus, mas entendendo ou não, utilizou tais sofrimentos como estratégia de vitória e não como trincheira de desespero. Atrai-me muito a ideia de que, desde a primeira hora no cargo de governador do Egito, José soube claramente que isso seria para o bem de sua família, como ele mesmo disse: “Deus enviou-me adiante de vós, para vos conservar descendência na terra e para vos preservar a vida com um grande livramento.” (Gn.45.7). E teve certeza disso quando seus irmãos chegaram ali.
Diante dos sofrimentos precisamos ter a mesma lucidez de José.
Pr. Sylvio Macri