“Aproximando-se o dia de sua morte, Israel chamou seu filho José e disse-lhe: Se posso achar misericórdia diante de ti, põe a mão debaixo da minha coxa e usa de bondade e de fidelidade para comigo; peço-te que não me sepultes no Egito; mas, quando eu adormecer com os meus pais, tu me levarás do Egito e me sepultarás junto à sepultura deles. José respondeu: Farei conforme a tua palavra.” (Gênesis 47.29,30).
Jacó tinha uma tristeza muito grande: pensava que José, seu filho amado, havia morrido e ele nem tinha podido sepultá-lo. Seus outros filhos haviam inventado essa mentira. Venderam José como escravo e disseram ao pai que um animal selvagem o havia matado. Até apresentaram como prova suas roupas sujas de sangue. Não é bom que os filhos morram antes dos pais; sei disso pessoalmente, pois tive a tristeza de enterrar meu primeiro filho.
Quando soube que José estava vivo, Jacó recobrou sua alegria de viver. E recebeu do Senhor essa promessa: “Não temas descer ao Egito, porque ali farei de ti uma grande nação. Descerei contigo para o Egito e certamente te farei voltar; e José fechará os teus olhos.” (Gn.46.3,4). E, quando encontrou José, já no Egito, disse-lhe: “Agora posso morrer, já que vi o teu rosto e ainda vives” (Gn.46.30). Mas viveu ainda dezessete anos após isso. Quando morreu, José cumpriu sua palavra, e sepultou-o em Canaã, com as honras de um estadista.
Assim, restabeleceu-se a ordem natural da vida: os filhos é que devem sepultar os pais. Também tive essa experiência; estive com meus pais em suas últimas horas de vida e levei seus corpos até a sepultura. Aqueles momentos jamais saem da nossa retina. O sofrimento transforma-se lentamente em saudade, mas a lembrança permanece muito forte.
Enterrar os pais é mais que um dever, um costume, ou mesmo um ritual. É uma das experiências mais marcantes da existência. Os filhos precisam ter a honra de sepultar os pais, e estes precisam ter a certeza de que os filhos ficarão, para continuar cumprindo a missão. Cada geração deve ter a oportunidade de completar o seu ciclo.
Pr. Sylvio Macri