DEVERES IGUAIS, DIREITOS IGUAIS (Sylvio Macri)

“A lei e as regras são as mesmas para vós e para o estrangeiro que peregrinar convosco.” (Números 15.16).
 
Apesar de este versículo, como indica o contexto, se referir primariamente a diversos sacrifícios anteriormente mencionados, podemos perfeitamente descobrir nele um princípio geral com respeito ao tratamento a ser dado aos estrangeiros que habitavam com os israelitas. Assim como os estrangeiros tinham deveres iguais aos dos israelitas quando se tratava dos atos de culto, também tinham direitos iguais quando se tratava de cidadania. Aliás, por serem minoria, tinham até alguns direitos especiais, como o de colher os cereais que sobravam nos campos por ocasião da colheita.
 
É admirável esse tratamento dado aos estrangeiros pela lei mosaica há mais de três mil anos atrás, quando presenciamos tanta xenofobia nas modernas nações ocidentais. Jornais brasileiros relataram, em anos recentes, que autoridades espanholas discriminaram sistematicamente centenas de cidadãos brasileiros que desembarcaram em seu país, sendo alguns simples turistas em trânsito para outros países. Após o atentado terrorista de Nova York, os Estados Unidos aprovaram leis de exceção quando à entrada de estrangeiros em suas fronteiras. Por isso, agentes da lei americanos têm cometido muitos abusos contra estrangeiros.
 
No livro de Levítico, o Senhor dá as motivações para que os estrangeiros sejam tratados de maneira igualitária. A primeira razão está em Levítico 19.33,34: ”Quando um estrangeiro viver por um tempo na vossa terra, não o maltratareis. O estrangeiro que viver entre vós será como um natural da terra. Devereis amá-lo como a vós mesmos, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.” A segunda razão está em Levítico 25.33: “A terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos.” 
 
Esta última razão é mencionada várias vezes no Novo Testamento. Pedro diz que somos “peregrinos e estrangeiros” neste mundo (1Pd.2.11). Paulo diz que “a nossa pátria está no céu, de onde aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Fp.3.20). A Carta aos Hebreus diz que os heróis da fé que viveram no passado “declararam ser estrangeiros e peregrinos na terra”, e completa: “Não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que virá.” (Hb.11.13; 13.14). Somos cidadãos da terra em que nascemos e vivemos, mas de fato ela pertence ao Senhor (Sl.24.1). Então, por que não dividi-la com todos?
 
Pr. Sylvio Macri