”Dirás aos israelitas: Se morrer um homem, e não tiver filho, dareis sua herança à sua filha.” (Números 27.8).
A nação israelita era uma sociedade patriarcal, assim como todas as nações daquela parte do mundo naqueles tempos. Por patriarcal queremos dizer que a estrutura social era determinada pela linhagem masculina. E isso incluía, é claro, a transmissão da propriedade da terra. No capítulo 26 de Números temos a recontagem do povo, cujo resultado final foi de “seiscentos e um mil setecentos e trinta israelitas” (Nm.26.51), entre os quais seria repartida a propriedade quando tomassem posse da terra prometida. Mas o termo “israelitas” aqui quer dizer homens de vinte anos para cima (Nm.26.2,4). Mulheres, crianças e jovens abaixo dessa idade não eram contados. Nessa circunstância é que cinco mulheres corajosas resolveram defender seus direitos.
Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirza, filhas de Zelofeade, pediram uma audiência com Moisés e Eleazar, e diante dos demais líderes do povo e de toda a comunidade, apresentaram seu argumento: “Nosso pai foi um dos que morreu no deserto e não teve filhos, somente filhas. Por que se extinguiria o nome da sua família, por não ter tido um filho? Dêem-nos uma propriedade entre os irmãos de nosso pai.” Moisés poderia ter sido inflexível e respondido que o Senhor havia determinado que somente homens teriam o direito de propriedade, mas com grande sabedoria e humildade levou o assunto ao Senhor, o qual lhe disse que a reivindicação das mulheres era justa e a elas deveria ser dado também o direito propriedade (Nm.27.1-11).
Da luta dessas mulheres resultou um estatuto de direito permanente para os israelitas, tratando da sucessão quanto ao direito de propriedade. É também o primeiro caso de “inclusão” da Bíblia. E, na maneira como Moisés tratou a questão, temos uma grande lição para nós nestes tempos de tanta inflexibilidade por parte de muitos irmãos: em vez de adotar posições rígidas quando aqueles que se sentem prejudicados reclamam seus direitos, consultemos ao Senhor, o verdadeiro e justo juiz, e esperemos pelo seu veredicto. É provável que nos surpreendamos com sua resposta.
Pr. Sylvio Macri