A SEGURANÇA DE FANNY CROSBY

Pode uma pessoa se destacar numa área na qual começou aos 44 anos de idade?
A história de Fanny Crosby mostra que sim.
Fanny Crosby escreveu milhares de poemas, seculares e evangélicos, populares e patrióticos, tendo deixado quase 9 mil hinos, para os quais usou mais de 200 pseudônimos, tanta a sua produção. Seu primeiro hino foi escrito, quando estava com 45 anos de idade.
 
 
UMA  VIDA MARCADA PELO SOFRIMENTO E PELA  GRATIDÃO
 
Nascida Jane Frances Crosby em 24 de março de 1820, logo enfrentou um problema de saúde que seria para sempre em sua vida. Com seis semanas, teve uma gripe que deixou seus olhos inflamados. O remédio usado danificou o nervo ótico e ela nunca mais enxergou.
Seu pai, John, morreu no ano em que a filha nasceu; ela foi criada pela madrasta e por uma avó, que morreu quando a menina tinha 11 anos. Formada desde cedo na fé cristã, participou da John Street Methodist Episcopal Church em Nova York. 
Aos dez anos, ela memorizava cinco capítulos da Bíblia por semana. Aos 15, sabia de cor os quatro evangelho, o Pentateuco, Provérbios, Cânticos dos Cânticos e muitos salmos.
Começou a estudar música aos 12 anos. 
Ela depois se tornaria membro da Sixth Avenue Bible Baptist Church no Brooklyn, Nova York, além de outras comunidades. Os pastores disputavam sua presença por causa do modo como se envolvia como voluntária no serviço cristão.
Menina, estudou desde os 15 anos numa instituição para cegos em Nova York, onde conheceria, aos 38 anos, seu futuro marido. Alexander Alstyne, a quem ela chamava de Alex, era professor na mesma escola, na qual permaneceu por 23 anos, primeiramente como aluna e depois como professora. Tiveram uma menina que morreu ainda bebê e sobre a qual Fanny nunca falou e fez mergulhar o marido numa longa depressão.
Com 23 anos foi ao Congresso americano falar em defesa da educação dos cegos, quando leu um poema. Foi a primeira mulher a falar no Parlamento daquele país.
Quando houve uma epidemia de cólera, ela permaneceu na cidade para servir como enfermeira, quando muitos desistiram. Nessa época, ela compreendeu que precisa conhecer mais a Deus.
Ela se envolveu também na luta contra a escravidão, diretamente e compondo músicas. Apoiou Abraham Lincoln na causa abolicionista. Muito envolvida com o resgate dos pobres de New York, especialmente imigrantes, pregou para eles, escreveu pensando neles, inclusive nos prisioneiros.
Envolveu-se com a defesa das mulheres, apoiando o movimento de emancipação feminina.
Foi influenciada pelo movimento de santificação, iniciado por John Wesley.
Por causa deste trabalho, ela se mudou, em 1896, para uma área pobre do Brooklin, em Nova York, perto da casa do músico Ira D. Sankey, que atribuía aos hinos dela parte do sucesso das campanhas evangélicas de Dwight Moody. Foi amiga da esposa dele, Fannie, e de Phoebe Palmer Knapp, compositora e esposa de um milionário americano.
Recebia muito pouco pelos hinos que compôs e deu muito do pouco que lhe pagavam.
Enganada por seus editores, sempre foi pobre e sempre quis ser pobre. Morava de aluguel. Sempre morou de aluguel.
Ao final da vida, sua capacidade de escrever diminuiu, mas para ela continuou ativa falando em encontros ligados à obra missionária entre os pobres urbanos.
Seu marido morreu em 1902. Ela morreu no dia 12 de fevereiro de 1915, após uma enfermidade de seis meses.
 
 
O PROCESSO CRIATIVO

Dela George C. Stebbins disse:
 
"Provavelmente não exista atualmente algum escritor que apele mais à legítima experiência da vida cristã ou que expresse mais claramente os profundos anseios do coração humana que Fanny Crosby".
 
Fanny Crosby (que manteve o nome de solteira a pedido do marido, coisa rara naquela época) escrevia vários hinos por dia. 
Embora soubesse música muito bem, Crosby não compunha as melodias dos seus hinos. Ela escrevia vários hinos num mesmo dia. Ditava a letra para alguém e depois a entregava a um compositor.
Ela mesma conta como começou a escrever hinos. Apresentada ao compositor William Bradbury, em 1864, foi recebida cordialmente, com as seguintes palavras: "Por muitos anos, desejei que você escrevesse para mim, mas me faltou a oportunidade de conversar com você sobre o assunto. Quero que você comece, agora mesmo". Crosby escreveu em sua autobiografia que sentiu que a grande obra da sua vida tivesse realmente começado. Então, deu início à "deliciosa tarefa", da qual jamais se afastou.
 
Sobre seu trabalho como autora, ela refletiu:
 
"Penso que fui levada, aos poucos, em direção ao meu trabalho. Creio que o mesmo acontece na vida daquele que cultiva suas habilidades como
 presentes de Deus e, então, corajosa, tranquila e persistentemente, faz seu trabalho quando ele lhe vem às mãos".
 
O objetivo de Fanny Crosby, na vida e na poesia, era muito claro: levar pessoas a receberem Jesus como o Salvador e Senhor. 
Seu processo criativo revela o valor que dava à sua arte:
 
"Pode parecer um pouco fora de moda, começar o trabalho com uma oração, mas eu nunca começo um hino sem primeiro pedir ao bom Senhor para ser minha inspiração".
 
 
ALGUNS HINOS
 
Entre seus hinos mais conhecidos no Brasil, estão o "Exultação"  (15 CC, 228 HCC), "Louvai" (126 CC),  "Segurança" (375 CC, 417 HCC), Vitorioso (471 CC) e "Trabalho Cristão (422 CC)", e também alguns que começam assim:
 
1. "Conta-me a história de Cristo, Grava-a no meu coração… (hino 196 CC).
*Desde menina, Fanny apreciava literatura, sobretudo poesia. Ela nunca se cansava de ouvir, gastando horas escutando sua avó contar as histórias da Bíblia. Dona de uma memória fenomenal, aos dez anos de idade sabia de cor livros inteiros da Palavra de Deus. Para ela, a melhor história era a de Jesus.)
 
2. "Cristo te chama com mui terno amor, oh pecador vem atender…" (hino 210 CC).
(Quando trabalhava voluntariamente nas missões em Nova York, Fanny se empenhava em ouvir as pessoas presentes e aconselhá-las a aceitar a Jesus como Salvador e Senhor das suas vidas.
 
3. "Oh, Não consintas tristezas dentro do teu coração…" (hino 346 HCC, 339 CC)

(Para entendermos o sentido deste hino, ouçamos o que nos diz Fanny Crosby sobre sua cegueira: "Parece ter sido uma intenção da providência de Deus que eu fosse cega toda a minha vida e eu lhe agradeço esta dispensação. Se uma perfeita visão terrestre me fosse oferecida amanhã, eu não iria aceitá-la. Pode ser que não tivesse hinos cantados para o louvor de Deus, se eu ficasse distraída pelas belas e interessantes coisas em torno de mim. (…) Quando eu chegar ao céu, o primeiro rosto que alegrará meus olhos será o do meu Salvador".
 
4. "É tempo, é tempo, o mestre está chamado já…" (hino 450 CC)
(Aos 60 anos de idade, Fanny se dedicou ao  trabalho missionário local em Nova York. Ela pregava, cantava e tocava piano nos encontros, ajudando ainda no que pudesse. Aconselhava as pessoas, o que era incomum naquela época para as mulheres. Ela continuou neste trabalho até aos 85 anos de idade.)
 
5. "Quero o Salvador comigo e com ele vou andar… " (hino 347 HCC)
6. "Perto de ti almejo estar, perto, sim, bem perto… " (hino 288 CC)
7. "Meu Senhor, sou teu, tua voz ouvi a chamar-me com amor…" (hino 361 HCC, 292 CC), 
8. "Quero estar ao pé da cruz donde rica fonte corre franca salutar do Calvário monte…" (hino 395 HCC, 290 CC)
 
9. "Salvo por Jesus Cristo, tenho perfeita paz…" (hino 374 CC)
(Deste hino  — "Safe in the Arms of Jesus", no original — o mais conhecido no mundo, ela disse:  "Creio que foi ditado pelo Espírito do Senhor e que nasceu para uma missão". O hino foi escrito depois que sua filha única, do seu casamento com Alexander van Alstyne, morreu ainda bebê enquanto dormia". 
 
10. "Se eu tiver Jesus ao lado e por ele auxiliado…" (hino 484 HCC, 308 CC).
(Ela o escreveu quando ajudava na recuperação de prisioneiros em Nova York.)
 
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Para Fanny Crosby, "os hinos mais duradouros nascem nos silêncios da alma e nada deve se intrometer entre eles até tomarem a forma da linguagem. Algumas das mais doces melodias do coração jamais verão a luz da página impressa. Muitas vezes, as canções sem palavras têm significado mais profundo do que as combinações mais sofisticadas de palavras e música".
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARTER, L. Ruth. This is my story, this is my song. 2014 (Kindle edition). [Recomendo este livrinho, em forma de peça teatral.]
CROSBY, Fanny. Life-Story. 1903. (Kindle edition)