“Então os filhos de José falaram a Josué: Por que me deste como herança apenas uma só parte, uma porção de terra? Somos um povo numeroso, e até aqui o Senhor me tem abençoado.” (Josué 17.14).
A expressão “de mão beijada” tem uma história interessante: na Idade Média, nas audiências com os papas, os fiéis católicos mais ricos ofereciam à igreja terras, palácios, joias e outros bens, apenas em troca da bênção papal. Nessa cerimônia sempre se beijava a mão do pontífice. O papa Paulo IV, num documento de 1555, aludiu a essa prática, dizendo que a igreja recebia doações “de mão beijada”. Desde então, a expressão vem sendo usada para significar que alguma coisa está sendo entregue sem nenhum custo para o recebedor.
Os filhos de José acima mencionados são a meia tribo de Manassés e a tribo de Efraim, que receberam terras a oeste do rio Jordão, mas, como pode se ver no texto, não ficaram satisfeitas e queriam mais, porém sem esforço. Isto é, queriam receber uma área maior do território já conquistado pelos israelitas. Isso porque, como diziam, eram um povo numeroso e precisavam de mais espaço. Josué apontou-lhes a solução: “Se és povo numeroso, sobe ao bosque e corta para ti lugar ali na terra dos perizeus e dos refains.” (Js.17.15).
Foi então que ficou claro porque eles queriam mais espaço no território já conquistado, pois responderam a Josué que, para conquistar novas áreas, teriam que enfrentar e derrotar exércitos cananeus bem armados. Diziam: “Os cananeus que habitam na terra têm carros de ferro.” (Js.14.16). Josué replicou: “És um povo numeroso e tens grande força; (….) expulsarás os cananeus, ainda que tenham carros de ferro e sejam fortes.” (Js.14.17,18). Mas era isso que eles não queriam: o desgaste, a luta, o trabalho de desbravar o território.
Em nossas igrejas há muita gente que gosta muito de tudo o que puder obter sem nenhum esforço, de mão beijada. Gosta de participar de um bom culto, com boa música, bons sermões, em um prédio confortável e equipado com os mais modernos recursos, mas não contribui com um centavo sequer para cobrir os custos de tudo isso. Gosta de ser bem recebida e bem tratada, quer receber assistência pastoral, mas não se integra às atividades da igreja nem se interessa por elas. Está sempre pronta a tudo receber, desde que seja de mão beijada.
Mas, quando Jesus disse que edificaria a sua igreja, imediatamente advertiu que essa construção teria o custo da cruz. Para ele (Mt.16.21), e para nós (Mt.16.24).
Pr. Sylvio Macri