COMO DIZ O ADESIVO, DEUS É FIEL, MAS… (Sylvio Macri)

“Nenhuma palavra falhou de todas as boas coisas que o Senhor prometera à casa de Israel! Tudo se cumpriu!” (Josué 21.45).
 
Há uns anos atrás, estava eu numa plataforma do Metrô, quando, sem querer, ouvi parte de uma conversa entre duas senhoras relativamente jovens. Não quero parecer preconceituoso, mas as duas eram, visivelmente, trabalhadoras domésticas a caminho do local de serviço. Num jargão “evangélico” uma dizia à outra: “O que a gente precisa é ter fé. Se eu pedir com fé, Deus pode me dar até um apartamento na Vieira Souto.” Deus não deixará de dar o que a gente pedir, por isso o adesivo: “Deus é fiel”. Para quem não sabe, Vieira Souto é uma avenida do bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. É onde fica o metro quadrado residencial mais caro do Brasil. 
 
Temos a tendência de tomar eventos históricos da Bíblia e a partir deles produzir princípios doutrinários duvidosos. O triunfalismo que caracteriza a pregação e o ensino de certos grupos “evangélicos” dos tempos atuais vem daí. Se Deus fez assim e assim no passado, fará exatamente do mesmo modo hoje. Só muda a geografia. Aliás, por falar em geografia, se dermos um pulinho nas antigas terras bíblicas e trouxermos de lá, por exemplo, água do rio Jordão, as coisas podem até acontecer mais facilmente. O ritual também é importante: se entronizarmos uma réplica da arca do propiciatório em nosso templo, nenhum inimigo nos vencerá. E por aí vai.
 
Quando cheguei ao versículo acima transcrito, confesso que fiquei em dúvida, pois em Josué 13.1 é declarado textualmente que “ainda há muitíssima terra para se possuir”, e na sequência (vs.2-7), essas muitas terras são relacionadas, inclusive citando os povos que deveriam ser delas expulsos. Em Josué 18.2 lemos que “restavam sete tribos que ainda não tinham repartido a sua herança.” Daí até o capítulo 21 não há evidência de que a posse tenha acontecido, apesar de ter ocorrido a divisão. E finalmente, Josué, na sua palavra final ao povo diz: “Vede que vos reparti por sorte as nações que restam, para serem herança das vossas tribos, desde o Jordão até o Mar Grande, do lado do pôr do sol, juntamente com todas as nações que destruí. E o Senhor, vosso Deus, as impelirá e as expulsará de diante de vós; e possuireis a terra deles, como vos disse o Senhor, vosso Deus.” (Js.23.4,5). 
 
Como entender, então, o versículo acima? Na minha humilde opinião, temos aqui referência a duas situações: 1. Com respeito à entrada na terra prometida e aos territórios já conquistados, Deus cumpriu tudo o que prometeu, tendo em vista a liderança obediente de Josué. Portanto, que o Senhor é capaz de cumprir o que promete, já ficou amplamente provado; 2. As mesmas promessas continuam de pé com respeito às conquistas restantes, se o povo obedecer às ordens do Senhor. 
 
Parafraseando o ditado popular, nada como um livro da Bíblia depois do outro, pois logo no livro de Juízes vemos como o povo se desviou dessas ordens e, como consequência, foi dominado várias vezes pelos próprios povos que deveria ter expulsado, e não o fez. Como diz Paulo, Deus “não pode negar a sua própria natureza (2Tm.2.13 –J.B.Phillips). Ele permaneceu fiel, o povo é que foi infiel e sofreu por isso. 
 
Voltando ao adesivo, recentemente parei atrás de um carro que fazia referência à fidelidade de Deus, porém, com um pequeno acréscimo. Dizia assim: “Deus é fiel. E você, é fiel a ele?”
 
Pr. Sylvio Macri