“Jefté, o gileadita, era um homem valente, porém filho de uma prostituta, o nome de seu pai era Gileade.” (Juízes 11.1).
Já dissemos aqui que a Bíblia não é um repositório de histórias lendárias sobre seus personagens, pelo contrário, sem nenhuma lisonja ou retoque, os descreve exatamente como são, com suas deficiências e virtudes. Assim ocorreu com Jefté, figura controvertida. Mesmo sendo filho bastardo, parece ter tido uma boa formação religiosa e moral, como demonstra na mensagem que enviou ao rei dos amonitas, na qual evidencia conhecimento da história dos israelitas e expõe, com fundamentação teológica, o erro das alegações inimigas para mover guerra contra o povo de Deus.
Foi a ele que os gileaditas procuraram na hora de aperto, pois, apesar de sua desqualificação como herdeiro legítimo de Gileade e sua consequente expulsão para outra cidade, Jefté era homem valente, exatamente quem precisavam para liderá-los na luta contra os midianitas, Não servia para ser herdeiro, mas servia para ser guerreiro, por isso, foram buscá-lo em Tobe. É claro que Jefté se aproveitou disso para, como se costuma dizer, “dar a volta por cima”. E deixou isso bem claro: “Se me levardes de volta para combater os amonitas, e o Senhor os entregar a mim, então serei o vosso chefe.” (Jz.11.9).
Tal condição foi aceita e legitimada diante de Deus, em Mispá, e Jefté partiu para confrontação com os amonitas, não sem antes fazer duas coisas, uma sábia e outra extremamente tola. A primeira foi promover uma tentativa diplomática de revolver a questão sem recorrer às armas, como dissemos acima. A segunda foi fazer um voto temerário a Deus que, diga-se de passagem, jamais foi desejado ou pedido pelo Senhor. Os vs. 30 e 31 dizem: “Jefté fez o seguinte voto ao Senhor: Se entregares os amonitas nas minhas mãos, qualquer um que sair da minha porta ao meu encontro, quando eu voltar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor. Eu o oferecerei em holocausto.”
A diplomacia não deu resultado e os amonitas partiram para a batalha, mas foram derrotados por Jefté, sobre quem veio o Espírito do Senhor, como aconteceu com outros juízes. Entretanto, para a desgraça de Jefté, a primeira pessoa que lhe saiu ao encontro ao chegar em casa, foi sua única filha, ainda solteira. Infeliz e triste, teve que cumprir o que prometeu, pois como disse, “fiz um voto ao Senhor e não posso voltar atrás.” (v.35). O Sábio Salomão ensina: “Não te precipites com a boca, nem seja o teu coração impulsivo para fazer promessa alguma na presença de Deus, porque Deus está no céu, e tu estás na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.” (Ec.5.2).
Hoje em dia é comum vermos líderes religiosos, dizendo-se tomados pelo Espírito do Senhor, e fazendo promessas temerárias, propostas temerárias e desafios temerários diante de Deus e do seu povo. Quando isso não se cumpre ou dá mau resultado, jogam a culpa sobre qualquer um, inclusive Deus, nunca sobre eles próprios. Assim trazem desgraça para o nome de Cristo e de sua igreja.
Pr. Sylvio Macri