“Quando o povo voltou ao acampamento, os anciãos de Israel disseram: Por que o Senhor nos feriu hoje diante dos filisteus? Tragamos a arca da aliança do Senhor que está em Siló, para que ela venha ao nosso meio e nos livre da mão de nossos inimigos.” (1Samuel 4.3).
Os israelitas saíram à batalha contra os filisteus e foram fragorosamente derrotados. Quatro mil de seus guerreiros foram mortos pelos filisteus. Os conselheiros do povo, então, acharam melhor levar a arca da aliança para o campo de batalha, para usá-la como amuleto da sorte, numa atitude francamente pagã. A reação dos filisteus, quando souberam disso, nos dá a medida desse paganismo, pois disseram: “Os deuses vieram ao acampamento. (….) Ai de nós! Quem nos livrará da mão desses poderosos deuses? Estes são os deuses que feriram aos egípcios com todo tipo de pragas no deserto.” (1Sm.4.7,8). Concluíram que contra tal amuleto tão poderoso só lhes restava lutar desesperadamente.
Entretanto, para sua surpresa, eles derrotaram os israelitas e capturaram arca. O “amuleto da sorte” não funcionou, porque simplesmente não era um amuleto. Ao instruir Moisés quanto à construção da arca, o Senhor nunca pretendeu que ela fosse um amuleto, mas apenas o repositório das tábuas de pedra da lei que lhe entregara no monte Sinai. E também deveria ser a base sobre a qual seria colocado o propiciatório usado no sacrifício anual pela expiação dos pecados do povo. Por isso a arca ficava guardada no Santo dos Santos, onde somente o sumo sacerdote entrava, no Dia da Expiação, e de onde não poderia ser retirada, a não ser quando o tabernáculo tivesse que ser transportado para outro lugar.
Os israelitas não deveriam ter nenhum amuleto, porque o seu não era um culto pagão, mas o culto àquele que chamou a si mesmo de Eu Sou, o Deus eterno, o único que deveria ser adorado, e do qual jamais se faria nenhuma imagem, porque jamais tivera qualquer forma física. Por isso, Israel recebeu ordem expressa de erradicar todos os cultos pagãos da terra que receberia das mãos do Senhor. Tais religiões eram animistas, atribuindo poderes mágicos a objetos e rituais, ao contrário do culto israelita. Contudo, em vez de eliminar tais cultos, Israel, passou a conviver amistosamente com eles e a ser influenciados por eles. Essa a razão do uso desastroso da arca nesse episódio.
Hoje vemos uma prática semelhante no nosso meio. São Bíblias colocadas em um lugar estratégico da residência, abertas exatamente na página onde se encontra o Salmo 91. É o uso de óleo especial para a cura de doenças. É água “ungida”, rosa “ungida”. É a “entronização” de pretensa réplica da arca da aliança nos templos. É o uso de rituais específicos para que sejam recebidas determinadas bênçãos. Em suma, muitos dos cristãos atuais estão praticando um culto pagão, que nada tem a ver com o evangelho simples praticado pelos que oferecem “sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo”, pelos que são “a morada Deus no Espírito” (1Pd.2.5;Ef.2.22).
Pr. Sylvio Macri