O EXÉRCITO DOS DESESPERADOS (Sylvio Macri)

“Ajuntaram-se a ele todos os que se achavam em dificuldades, todos os endividados e todos os insatisfeitos. Ele se tornou chefe deles; cerca de quatrocentos homens o acompanhavam.” (1Samuel 22.2).
 
Davi tinha fugido para não ser morto por Saul. Perdeu sua mulher e seu posto de comandante do exército israelita. Passou a viver escondido em cavernas e outros esconderijos nas montanhas. Frequentemente era denunciado por habitantes dos lugares onde se escondia, sempre se mudava de um lugar para outro, devido à perseguição implacável que Saul lhe movia. Vivendo assim à margem da sociedade, tido como usurpador e conspirador, não é de admirar que a ele se juntassem outros na mesma condição. Inicialmente, foram cerca de quatrocentos, depois esse número cresceu para seiscentos.
 
As traduções da Bíblia variam quanto à caracterização desse exército de desesperados. Na transcrição acima usamos a Almeida Século 21, mas gostamos também da Almeida Revista e Atualizada, que diz que o que se juntaram a ele eram homens que se achavam em aperto, endividados e amargurados de espírito. De qualquer maneira era um bando de renegados, vivendo à margem da sociedade organizada, em virtude da opressão, das dívidas, e da convicção de que era preciso mudar as coisas, e de que elas não mudariam sem luta. Por isso se identificaram tanto com Davi.
 
Davi acolheu a todos por três razões: primeiro, porque por ser um simples camponês, cuidador de ovelhas, conhecia muito bem as dificuldades que assolavam o povo pobre e humilde. Portanto, não seria ele que iria discriminar essa gente. Segundo, porque foi esse grupo que se ofereceu para ser seu pequeno exército. Quer dizer, ele também não tinha alternativa. Terceiro, porque essas pessoas precisavam de um líder que os organizasse, treinasse e restaurasse a sua dignidade e integridade. Nos capítulos seguintes vemos que ele foi bem sucedido nessa tarefa.
 
Nos evangelhos vemos que Jesus também foi tratado como um usurpador e conspirador. Que foi julgado como um criminoso, condenado e executado.  E que igualmente atraiu um exército de desesperados, como diz Lucas: “Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se dele para o ouvir. Mas os fariseus e escribas o criticavam, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles.” (Lc.15.1,2). O termo “pecadores” não traduz toda o desprezo que está original, Ham Aretz, que se referia ao povo pobre, sem religião, sem cultura e imoral. Mas Jesus respondeu que tinha vindo justamente para buscar e salvar os desesperados (Mc.2.16,17).
 
Pr. Sylvio Macri