“Então o rei Davi entrou, sentou-se perante o Senhor e disse: Quem sou eu, Senhor Deus, e quem é minha família, para que me tenhas trazido até aqui?” (2Samuel 7.18).
Apesar de seus esporádicos rompantes de soberba e de eventuais abusos de poder, a visão que temos de Davi é a de um homem verdadeiramente humilde. O interessante é que, nesta oração, a posição física em que ele se encontra não é a usual, de joelhos, e com o tronco inclinado, mas sentado. Contudo, em seu espírito estava plenamente prostrado diante do Senhor, como convém aos servos humildes.
Após ter conquistado Jerusalém e tê-la feito capital do seu reino, Davi levou para lá a arca da aliança e instalou-a numa tenda. Também construiu para si um palácio. Tudo ia bem com Davi, mas ele sentiu-se incomodado e chamou o profeta Natã para uma conversa, pois desejava construir um templo digno de abrigar a arca. Disse ele ao profeta: “Estou morando num palácio de cedro, ao passo que a arca de Deus continua numa tenda.” (2Sm.7.2).
Natã aprovou o projeto de Davi e assegurou-lhe que o Senhor também o aprovava, mas naquela mesma noite Deus mandou o profeta voltar a Davi, “seu servo”, e dizer-lhe que o tinha tirado do campo onde cuidava das ovelhas para fazê-lo príncipe de Israel, e ainda o faria tão famoso como os poderosos da terra, mas não seria ele que construiria o templo de Jerusalém, mas seu filho e sucessor. E mais ainda: estabeleceria o seu trono para sempre.
Ao ouvir esta palavra por meio de Natã, Davi exclamou: “Quem sou eu?” E reconheceu a graça soberana do Senhor: “De acordo com a tua palavra e a tua vontade é que fizeste esta grandiosidade e a revelaste ao teu servo.” (2Sm.7.21). Aliás, ele usa a expressão “teu servo” dez vezes nesta oração. E assim Davi renunciou humildemente àquilo que seria uma glória pessoal: construir um templo para o Senhor em Jerusalém.
Diferentemente de Saul, Davi reconheceu humildemente seu papel de servo. Por isso aceitou a repreensão e arrependeu-se quando errou, sendo perdoado e restaurado. Para ele era mais importante honrar o Senhor do que preservar seu poder e reputação. É como ele diz, no Salmo 63.3: “A tua graça é melhor que a vida.”
Quem sou eu? “Pela graça de Deus, eu sou o que sou.” (1Co.15.10).
Pr. Sylvio Macri