Sim, estou cansado deste sistema religioso voltado para a centralidade do homem e a posição periférica de Deus Pai. Esgotado de cultos barulhentos, com músicas em ritmos acelerados, letras vazias de significado bíblico-teológico. Não se canta mais hinos com letras profundas, feitas por homens e mulheres que sofreram e que descansavam na fidelidade de Deus. Cultos à imagem do homem, especialmente dos líderes megalomaníacos, que apreciam o pódio e as bajulações. Enojado com a hipocrisia, a falsidade de homens e mulheres que usam da Palavra para falar ao povo. Temos tido encontros irracionais, pois a vida não corresponde, não é coerente com a presença e o caráter de Deus. Observamos ajuntamentos de pessoas com ressentimentos, invejas, discórdias, amarguras, vivendo na imoralidade, e outros sentimentos perniciosos e facciosos sem arrependimento. O Senhor não tolera a maldade com ajuntamento solene (Is 1.13). Estou cansado das conversas, da falta de reverência e da desatenção durante os cultos, especialmente na hora da pregação. Encontros movidos por interesses escusos e regado a teologia da prosperidade e manifestações esquisitas. O Senhor está farto de promessas, de copos com água a ser “ungida”, do vale de sal, dos saquinhos com terra de Israel e recipientes com água do rio Jordão. Por meio do profeta Isaias, o Senhor indaga: De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos e carneiros e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. (Is 1.11).
Estou farto de religião voltada para as práticas judaicas dentro de igrejas chamadas evangélicas. Fico exausto ao ver pastores trazendo festas judaicas para dentro dos templos, aliciando o povo, levando a congregação às práticas religiosas já superadas pela suficiência de Cristo Jesus revelada nas Escrituras. Estou cansado do uso indevido da Palavra na prática da teologia da prosperidade. Enojado de líderes que sacrificam o povo, usando-o como massa de manobra. Esses líderes utilizam seu “carisma” para ludibriar as gentes que entram e saem dos santuários. São artificiais, interesseiros e exploradores do povo. Conseguem tirar dinheiro dos incautos para satisfazerem seus mimos, luxos e manter seu alto padrão de vida. Líderes inescrupulosos utilizando seus impérios de comunicação, tecnologia e uma rede viciada para enganar as pessoas sofridas, que vão às suas igrejas buscando esperança para o seu desespero.
Cansado estou dos que usam a Bíblia como instrumento profissional e não como livro devocional. Que utilizam os textos fora do contexto como pretexto para amedrontar, produzir medo no povo, causar subserviência. É triste ver a utilização da Palavra de Deus como troca pela oferta e não como doação em amor. Encontro-me estafado vendo pregadores utilizando as Santas Escrituras de forma desrespeitosa, ensinando erradamente o povo. Usam a Bíblia como amuleto. As Escrituras foram transformadas em literatura comum, ordinária num contexto de gente religiosa, despida de temor e tremor diante do Espírito Santo que revelou a Palavra de Deus. A Bíblia se tornou um livro usado para apoiar práticas religiosas, sem vida. Pregadores que não têm formação adequada, não têm temor diante da Revelação. Há uma tradição religiosa – oral e escrita – que interpreta a Palavra de Deus. São as cartilhas dos líderes que são usadas para “interpretar” as Escrituras. Usam uma hermenêutica viciada, distorcida e enganosa, voltada para o apoio de suas práticas danosas. Não alimentam o povo e não o apascentam com ciência e inteligência (Jr 3.15).
Confesso de coração que estou cansado do sistema religioso que usa a oração como amuleto, como instrumento de petição e não de adoração e deleite em sua prática. O sistema religioso transformou a oração num instrumento que exige de Deus respostas imediatas. Que O coloca na parede. Não é uma oração de adoração, confissão, quebrantamento e intercessão misericordiosa, mas que se arroga em reivindicar de Deus bênçãos, prosperidade e curas. É a oração da troca e da determinação, que se paga para receber “bênçãos” do alto. Intercessão forte. Oração meritória e não de misericórdia. Sim, estou muito cansado de ver uma adulteração na vida de oração. Sabemos que na oração devemos pedir ao Senhor espírito de sabedoria e de discernimento (Ef 1.17). Orar não é barganhar, mas fazê-lo no espírito da vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita (Rm 12.1,2). Foi assim que o Senhor Jesus orou no Getsêmani (Mt 26.41). Estou cansado deste movimento religioso porque já fizeram uma separação de oração forte no monte e fraca fora do monte. Podemos notar claramente que há uma estratificação da oração. A religião tem transformado o monte em plataforma da “verdadeira” oração que “move” o coração de Deus.
Confesso mais uma vez que estou triste e muito cansado de religião, mas, por outro lado, desejando viver a cada dia no descanso do Evangelho genuíno, que é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê (Rm 1.16). É este Evangelho que almejo viver e pregar. Este evangelho enseja a mensagem do Senhor ao Seu povo por meio do profeta Isaias: Lavai-vos e purificai-vos; tirai de diante de meus olhos as vossas obras más; parai de praticar o mal; aprendei a praticar o bem; buscai a justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Vinde e raciocinemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve, ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã.” (Is 1.16-18). Aqui está a mensagem do Evangelho na contramão da religião.