ACADEMIA DA ALMA 8 — SEJA CORAJOSO (3/10)

 

ACADEMIA DA ALMA, 8
A vida em 10 atitudes, 3
SEJA CORAJOSO
 
PARA MEMORIZAR
"Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão". (Êxodo 20.7)
 
PARA PENSAR
"Sejamos vigilantes, para honrar Deus sem usar seu nome de forma leviana. O passo seguinte é pronunciar esse nome sagrado com precisão, tempo e, de preferência, dando glória a ele não apenas com nossas palavras, mas com nosso viver". 
(William DOUGLAS   )
 
PARA VIGIAR
RENUNCIAREI à oração como uma tentativa de manipular a Deus, porque isto é magia. Também rejeitarei fazer da oração uma forma de controlar a Deus, porque isto é idolatria.  
 
PARA ALCANÇAR
VIVEREI de modo a honrar o nome de Deus
 
 
1. O NOME DE DEUS 
Quando temos um problema para resolver num órgão público, muitas vezes apelamos para uma pessoa que nos encaminhará a outra pessoa a quem conhece. Quase sempre a recomendação é a seguinte:
— Pegue o processo, vá ao setor próprio, procure por FULANO. Encontrando-o, use o meu nome. 
Quase sempre o assunto é resolvido. A menção de um determinado nome abre portas e gavetas, faz processos desemperrarem, resolve pendências antigas.
Até mesmo, quando a pessoa citada sequer sabe do que se trata, o uso do seu nome pode funcionar.
Há muitos anos um diretore da Visão Mundial Internacional se chamava Manfred Kohh, na mesma época em que o primeiro-ministro da Alemanha também era Kohl, Helmuth Kohl. Aconteceu que, algumas vezes, para resolver um problema difícil, ele dava um telefonema ambíguo para um empresário ou político, apresentando-se assim:
— Aqui, é Kohl, falando de Bonn.
Do outro lado, depois da surpresa, imaginando estar falando com o todo-poderoso primeiro ministro Helmuth Kohl, a pessoa atendia ao pedido que lhe fazia Manfred Kohl.
Em todas as épocas, o nome de certas pessoas tem um grande poder.
Por isso, muitas vezes, os nomes podem ser mal-usados, até mesmo falsamente.
 
No campo da religião, é forte o perigo da falsidade, isto é, do uso indevido do nome de Deus. É disto que trata o terceiro mandamento que estabelece: "Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão" (Êxodo 20.7). Proibição que pode ser traduzida literalmente assim: "Não deves tomar o nome de Yahweh, o teu Deus, por uma coisa vã, pois Yahweh não desculpa quem toma Seu nome por uma coisa vã".
O mandamento tem a ver com votos. Na Antiguidade do Antigo Testamento não era proibido fazer votos, mas era obrigado cumpri-los.
O mandamento tem a ver com os juramentos. Na antiguidade, não era proibido jurar em nome de Deus. Era proibido jurar falsamente. Um hebraísta judeu traduz assim o terceiro mandamento: "Não mencione o nome de YHWH, teu Deus, numa falsidade, porque YHWH não fará inocente quem usa o Seu nome numa falsidade". 
Usar o nome de Deus para justificar a raiva ou a violência, por exemplo, é algo terrível. Lamentavelmente muitos discursos e atos de violências usam o nome de Deus, apaixonada e indevidamente.
Lembremos também que, se o mandamento de honrar aos pais contém uma promessa, este traz explícita uma advertência contra os que falham.
 
2. QUANDO NÃO USAR O NOME DE DEUS
Devemos manter diante de nós a certeza que os Dez Mandamentos não foram criados para gerar culpa e tristeza em nós, "mas para nos conduzir ao Cristo que gera harmonia e equilíbrio, conforme a boa medida do Deus que nos conhece profundamente".  
Eis algumas atitudes que devemos evitar no caminho de atentar com reverência para o terceiro mandamento:
 
1. Não se esconda atrás do nome de Deus.
Para os ocidentais modernos, o nome é apenas um nome. Para os israelitas, o nome de uma pessoa é a pessoa. É mais que uma representação. É por isto que, em muitas experiências religiosas, sobretudo nas teofanias, Deus muda os nomes das pessoas. Abrão ("pai destacado") se torna Abraão ("pai de uma multidão"), Jacó ("suplantador") se torna Israel ("aquele que foi capaz de lutar com Deus"), Saulo ("desejado") se torna Paulo ("pequeno") e Simão ("deserto") se torna Pedro ("rocha"). Algumas preferem ser chamadas por outros nomes, como Noemi ("doçura"), que se via como Mara ("amargura"). 
O nome se confunde com a pessoa. É a sua identidade. É por isto que os cristãos aprenderam que devem orar a Deus "em nome de Jesus". Orar em nome de Jesus é orar confiante no poder de Jesus.
Aqui, no entanto, a traição pode ocorrer. Uma pessoa pode orar ao nome de Jesus por achar que este nome abre todas as portas, independentemente de quem diz (o ser humano) e independentemente de quem ouve (Deus) a oração. A expressão pode ser apenas um apelo à magia, que o terceiro mandamento rejeita. 
A expressão pode representar o uso do nome com o um ídolo, como se o nome de Deus tivesse existência livre de Deus. Um ídolo é uma infeliz representação de Deus, com a qual Deus não tem nenhum compromisso. 
A expressão pode ser apenas mais um gesto ritual no mar da hipocrisia. A pessoa pode ter aprendido que deve orar "em nome de Jesus", mas não confia em Jesus, não vive como discípulo de Jesus, não tem compromisso com Jesus. Sua fala tem o mesmo valor de um "bom dia" vazio do desejo que o dia do ouvinte seja realmente bom.
Na expressão "em nome de Jesus" e em tantas outras com o nome de Deus, podemos mencionar os nomes do Pai, do Filho ou do Espírito Santo, pode haver fé firme e neste caso, o uso será legítimo; nesta menção, pode não haver fé nenhuma; neste caso, o uso será em vão. 
Não se esconda na religião.
 
2. Não tire proveito do nome de Deus.
Em maio de 2015, um jornal paraense estampou o seguinte anúncio na sua página de classificados:
 
"BABÁ — Casal evangélico — Precisa adotar uma menina de 12 a 18 anos que resida, para cuidar de uma bebê de 1 ano que possa morar e estudar. Ele empresário e ela também empresária…".
Por que o casal se diz "evangélico"? Para dizer que, sendo evangélico, isto é, crente em Deus, vai tratar bem a adolescente que pretende escravizar. Em última análise, o casal está tomando o nome de Deus em vão.
Uma empresa que põe um versículo bíblico numa placa ou anúncio pode estar testemunhando de sua fé em Deus ou apelando para o nome dele a fim de obter clientes e, assim, melhorar o seu negócio. Se seu objetivo for comercial, estará tomando o nome de Deus em vão.
Uma pessoa religiosa que usa a sua condição de vinculação religiosa para convencer alguém a confiar nela está tomando o nome de Deus em vão.
Uma pessoa que sempre saúda as outras com "a paz do Senhor" ou as despede com um "Deus te abençoe" estará usando o nome de Deus em vão se, de fato, não deseja a paz para as outras e não tem desejos de paz para elas. Se estas frases forem usadas apenas como uma forma de autoidentificação e desprovidas de envolvimento, serão usos indevidos.
Se um líder religioso não crê no que prega, mas prega porque as pessoas creem e lhe pagam (com dinheiro ou aplauso) por isto, está tomando o nome de Deus em vão. Se um líder religioso trata os recursos de uma igreja como se fossem seus, desviando-os de sua finalidade, usa o nome de Deus em vão. Na verdade, "os escândalos dos líderes religiosos perpetuam a ideia errada de que a religião é hipócrita e que todas as pessoas religiosas também o são. A prisão de um ministro (…) por ter cometido fraude contra seus seguidores (…) é um ato de blasfêmia porque rebaixa a Deus e aliena não somente aqueles que o cometem mas também a todos seus seguidores, bem como as pessoas que perdem sua fé como resultado de sua desilusão com o líder que cometeu o delito".   
Creia, sem hipocrisia. Saiba que "professar uma crença de maneira hipócrita, participar em rituais vazios, chamar-se membro de uma religião sem pretender seguir suas diretrizes santas, participar de uma igreja ou sinagoga como se fosse um clube campestre social, pode ser uma fuga do dever sagrado, numa forma de idolatria, já que praticar a religião se converte em um fim em si mesmo".
 
 
3. Não espiritualize o que é não realmente espiritual.
Seguimos por vias opostas. Por vezes, negamos a dinâmica espiritual das coisas, pensando que tudo é o resultado das forças da natureza ou a consequência das leis sociais, havendo, no máximo, coincidências. Por vezes, ao contrário, atribuímos tudo a Deus: nossos esquecimentos, nossas falhas, nossos erros. Coisas ruins são castigos de Deus, não consequências de nossos erros ou de outros. Procuramos até justificar nossos equívocos.
Certa vez, fui pregar numa cidade e precisava retornar de avião para atender a outro compromisso de pregação. Para ir, buscaram-me de carro. Para retornar, tomaria um avião. Acordei cedo e fui para o aeroporto. Chegando lá, notei que esqueci todos os meus documentos; só tinha cartões de banco e cópias no celular. Mostrei as cópias das identidades, mas só serviam as originais. Fui a uma delegacia, mas a impressora estava quebrada. Tive que voltar de ônibus e emendar com o outro compromisso. 
Cheguei a pensar: será que Deus não está me livrando de algo pior? 
Depois, pensei: Deus está no controle.
O avião no qual não vim não caiu. Deus não queria dizer nada como aquilo. Ele nada fez para que eu esquecesse meus documentos.
Deus estava no controle, mas eu estava fora de controle. 
Meu gesto não teve nada de espiritual. Foi esquecimento mesmo. Paguei com o cansaço, que poderia ter poupado, se fosse mais atento.
Quando um erro nosso é explicado por uma ação de Deus, estamos tomando o seu nome em vão.
Do outro lado, quando atribuímos a Satanás os nossos erros, estamos agindo covardemente, tirando a responsabilidade de quem a tem: nós mesmos. O papel de Satanás é o de tentar: o nosso é de cair ou resistir. No final, nós somos responsáveis.
Quando não prestamos atenção às leis de Deus, confiados que, por cremos nele, estamos livres das suas leis, tomamos o seu nome em vão. Por crermos assim, queremos que isto nos seja uma vantagem que nos livre de cumprir as regras.
 
4. Não use o nome de Deus como um argumento falacioso.
Numa discussão, que queremos vencer, podemos usar o nome de Deus como uma espécie de "argumentum ab auctoritate" (ou "argumentum ad verecundiam"). 
Uma discussão se vence, se for o caso, com argumentação, que vem do uso da razão que Deus nos deu. 
Para as questões da salvação, a razão é insuficiente, mas não deve ser desprezada. Se queremos expor um texto bíblico, por exemplo, temos que fazê-lo racionalmente; se não, o texto dirá o que nós quisermos, mas não o que ele diz.
Nosso uso da Bíblia, num debate, deve ser cuidadoso, para não fazermos Deus dizer o que ele não fala. Os versículos não podem ser escolhidos fora do seu contexto, apenas porque parecem nos favorecer. Quando nos faltarem argumentos, não podemos apelar para algum texto bíblico como golpe final, como Deuteronômio 29.29 ("As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei"). O que o versículo diz, à luz dos outros que lhe estão próximos, é que ninguém pode ser hipócrita, falando uma coisa e vivendo outra, e achar que Deus não está vendo.
Mesmo as ações que ficam "encobertas" das outras pessoas são vistas por Deus. Jesus prometeu que as coisas por um tempo ocultas acabariam sendo reveladas (Lucas 8.17). A verdade anunciada neste texto não é uma desculpa para a falta de estudo, mas para que haja mais aplicação ao estudo, de modo que o conhecimento de Deus ilumine a nossa prática.
Se entramos numa discussão, entramos com a razão; ai sair, devemos continuar com ela. A nossa esperança é racional, porque vem da razão de Deus; é coisa certa e garantida, organizada e definida.
Se não podemos idolatrar a razão, não devemos sacralizar a ignorância.
 
5. Não seja irreverente.
O nome de Deus deve ser reverenciado, porque o nome de Deus é Deus.
Assim, devemos usar o nome de Deus sempre numa perspectiva santa. Este cuidado se aplica à sua Palavra, a santa Bíblia, e a oração, nossa forma de comunicação com Deus.
Não devemos brincar com a oração.
Não devemos brincar com a Palavra de Deus.
Não devemos prometer que oraremos por uma pessoa, se não vamos. 
Não devemos banalizar a Palavra de Deus, porque esta atitude nos impede de ver as promessas e advertências ali contidas.
Devemos tomar cuidado com nossas palavras sempre e sobretudo quando o nome de Deus está presente. "A linguagem é sagrada. Todas as palavras são sagradas. Mas, quando são arrancadas da história que Deus cria e, em seguida, usadas independentemente de Deus, a linguagem é profanada".  
 
3. USANDO CORRETAMENTE O NOME DE DEUS
Tomar o nome de Deus em vão é ato de covardia. Usá-lo corretamente é ato de coragem.
Devemos aceitar que "a coragem não é uma virtude nem um valor entre os valores do indivíduo, como o amor ou a fidelidade". Antes, "é o alicerce que suporta e torna reais todas as outras virtudes e valores. Sem ela, o amor empalidece e se transforma em dependência. Sem a coragem, a fidelidade é mero conformismo".  
A coragem não deve ser confundida com teimosia. Teimoso é quem, contra todas as possibilidades, insiste num projeto, só para provar que está certo. E se estiver certo, não fará a menor diferença. Absalão não era corajoso; era teimoso e perdeu a vida.
A coragem não deve ser confundida com temeridade. Age temerariamente aquele que não examina os lados da questões, os perigos do empreendimento, os riscos dos projeto. O fato de Deus estar conosco, conforme a sua promessa, não quer dizer que lute todas as nossas lutas; ele luta as batalhas que ele aprova. Se o queremos conosco, devemos consultá-lo antes, como Davi tantas vezes vez fez antes de ir para as guerras. 
O terceiro mandamento nos sugere algumas atitudes corajosas.
 
1. Tenha a coragem de viver de modo coerente com a sua fé.
Quando Deus proíbe de tomar o nome dele em vão, a quem pretende proteger?
A ele mesmo? Sim. Ele não quer ser alvo de trapaças. Ele nos lembra que não cai em trapaça. Ele não se deixa seduzir por palavras. Ele não está em campanha para ser eleito ou querido. Ele está dizendo: não esqueça (porque esquecemos) que eu vejo tudo. Eu sei quando o som não vem do coração. Eu sei quando os elogios querem apenas comprar bênçãos.
Por isto, hipocrisia é o nome certo para a nossa religião quando usamos o nome de Deus e não vivemos como Deus quer que vivamos.
Procure fazer aquilo em que você diz crer.
Tenha a coragem de falar a verdade. Tenha a coragem de viver a verdade.
Não diga o que não pensa, apenas para agradar. Tenha a coragem de dizer a verdade, mesmo que não venha a lucrar com a verdade. Quando for dizer a verdade, cuide apenas para não causar dano.
Viva de modo digno de merecer confiança. "Se você ainda não é digno de confiança, comece a ser a partir de agora. Cumpra suas promessas. Cumpra seus prazos. Não fale em nome de Deus sem a certeza de que está agindo de boa-fé. Não se apresente como alguém que crê em Deus sem agir da maneira que o agrada".  
 
2. Tenha a coragem de ser sincero no que promete.
O que leva uma pessoa sincera a usar o nome de Deus para prometer que cumprirá um compromisso. Se for sincera, estará trazendo o testemunho de Deus para a sua promessa, porque tem a intenção de realizá-la. 
Assim, em ambos os casos, o uso do nome de uma pessoa ou de Deus tem a ver com falta de coragem. E será um uso indevido.
O mandamento quer, então, nos dizer: viva de tal modo a não precisar jurar, mas, se jurar, jure lealmente.
Quando for jurar, jure com coragem. Jure pelo nome de Deus porque tem certeza que pode invocar o seu testemunho. Esta certeza vem de que ele vai ajudar a cumprir o seu voto porque é seu desejo cumpri-lo.
 
3. Tenha a coragem de confiar.
O que leva uma pessoa honesta a usar o nome de outra? Ela precisa ser autorizada a fazê-lo. Será um uso devido. Mesmo assim, pode ser que o uso seja motivado pelo medo. Assim, uma razão é a falta de coragem de se apresentar diretamente com seu próprio nome, que considera fraco.
Tenha a coragem de confiar em si mesmo. Lembre-se sempre de sua identidade de criado por Deus e amado por Deus. Nosso sucesso depende da autoconfiança.
Tenha a coragem de confiar nos outros. A sociedade depende da confiança mútua para prosperar. O economista, Kenneth Arrow, prêmio Nobel, garante, após longos estudos, que "a maior parte do atraso econômico do mundo pode ser explicada pela falta de confiança mútua".   Isto pode ser aplicado aos relacionamentos pessoais, bem como às organizações, às famílias e as empresas.
A pior crise é a de confiança. Superá-la exige coragem. Como confiar em quem falhou? 
Confiar no outro é uma maneira de respeitar o outro.
 
4. Tenha a coragem de assumir compromissos.
Uma das facetas do medo, que leva as pessoas a tomarem o nome de Deus em vão, é a falta de coragem para firmar compromissos, como se a vida pudesse ser vivida sem eles.
O medo da crítica mata a ousadia. Por isto, soa ainda necessário recordar um dos discursos do presidente norte-americano Theodore Roosevelt em 1910:
 
"Não é o crítico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homem tropeçou ou como o autor das façanhas poderia ter feito melhor.
O crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; que erra, que decepciona, porque não há esforço sem erros e decepções; mas que, na verdade, se empenha em seus feitos; que conhece o entusiasmo, as grandes paixões; que se entrega a uma causa digna; que, na melhor das hipóteses, conhece no final o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar, ao menos fracassa ousando grandemente".  
 
Aquele que sabe que faz parte da família de Deus, e não é mais estrangeiro e peregrino (Efésios 2.19), pode firmar compromissos.
Os fortes se comprometem. Os fracos se escondem.
O cronista bíblico registra a atitude de Saul. Escolhido rei, quando foi procurado para tomar posse, estava escondido entre a bagagem (1 Samuel 10.22).
Há muitas pessoas escondidas na bagagem. Creem em Deus, mas não o suficiente para confiar nele. Creem em Deus, mas não têm o poder de Deus, porque não o pedem para serem fortalecidos segundo a riqueza da glória de Deus (Efésios 3.14-16).
 
5. Tenha a coragem de enfrentar seus problemas.
Pessoas que creem não experimentam o poder de Deus em suas vidas, porque se recusam a enfrentar os seus problemas, alguns vindos da infância ou mesmo recebidos como padrões vindos através de gerações em suas famílias.
Pessoas assim vivem repetindo o nome de Deus, em orações, canções e mesmo atitudes, mas não têm coragem de pedir a Deus que as ajude a lutar com suas fraquezas.
Casais se dilaceram porque não admitem suas fragilidades.
Organizações (inclusive empresas) fecham os olhos para as suas vulnerabilidades, que têm poder suficiente para liquidá-las.
No entanto, "se desejamos uma clareza maior em nossos objetivos ou uma vida espiritual mais significativa", o reconhecimento e o enfrentamento de nossa vulnerabilidade nos põem num bom caminho.  
Não devemos "abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto, porque esta atitude nos afasta do significado da vida". Na verdade, "nossa rejeição da vulnerabilidade deriva com frequência da associação que fazemos entre ela e as emoções sombrias como o medo, a vergonha, o sofrimento, a tristeza e a decepção – sentimentos que não queremos abordar, mesmo quando afetam profundamente a maneira como vivemos, amamos, trabalhamos e até exercemos a liderança". Não podemos nos esquecer que, quando estamos vulneráveis é que nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade".  
Não é quando estamos vulneráveis que oramos mais?
Duas metáforas (máscaras e armaduras) nos ajudam neste esforço de superação pela verdade acerca de nós mesmos. "Com as máscaras nos sentimos mais seguros, mesmo quando elas nos sufocam. Com as armaduras nos sentimos mais fortes, mesmo quando ficamos cansados de carregar tanto peso nas costas".  
Há riscos em nos desnudarmos, mas o prejuízo é maior em nos escondermos. Um estudo acadêmico mostra o valor de jogarmos fora os nossos segredos. Segundo a pesquisa com pessoas que experimentar traumas como estupro e incesto, quando as vítimas compartilhavam suas histórias, "sua saúde física melhorava, as visitas aos médicos eram menos frequentes e elas apresentavam uma queda significativa em seus hormônios do estresse".  
Não precisamos ignorar nossas emoções. Antes, precisamos compreendê-las e, quando estão além de nossa capacidade de equilibrá-las, buscar quem nos ajuda a por em ordem nosso mundo interior.
 
6. Tenha a coragem de se importar com os outros.
Uma das facetas mais sombrias da religião é a produção da indiferença. Devia ser uma contradição estarem juntas as palavras fé e indiferença.
Contudo, há pessoas de fé que não têm interesse pelos outros, que não se importam com os outros. Eles sabem que "a intimidade requer coragem, porque o risco é inevitável".   Sabendo disto, acovardam-se.
Devemos sempre nos lembrar que "o relacionamento entre o compromisso e a dúvida não é, modo algum, antagônico. O compromisso mais saudável não é o que está livre de dúvidas, mas o que existe apesar delas".  
 
Pessoas assim tomam o nome de Deus em vão. Dizem ao outro "Deus te abençoe", mas não perguntam como podem ser usados por Deus abençoar o outro.
Pessoas assim repetem o "Pai Nosso" e amam ouvir o "Venha a nós o teu Reino", tomado bênçãos a serem recebidos por elas e, no máximo, seus familiares.
Perguntaram a um senhora com cidadanias brasileira e americana pelas diferenças e semelhanças entre as culturas. Ela, que já viveu em outros países, preferiu falar de traços entre duas. Os americanos não querem contato. Se você começa a contar a sua história, ele os interrompem. Eles dizem claramente que não querem ouvir a sua história e lhe pedem para ir direto ao ponto. Na verdade, eles não querem se envolver.
Talvez o traço seja distintivo entre as sociedades dos dois países, mas talvez o fosso esteja diminuindo. Cada vez mais, também no Brasil, as pessoas não querem ouvir as histórias dos outros. Cada um que fique com os seus problemas – eis a mensagem.
Pessoas assim conhecem apenas o verbo "receber" e ignoram o verbo "dar".
Importar-se é para os corajosos. Os corajosos não tomam o nome de Deus em vão.
Generosidade é filha da coragem. Não tem a ver com dinheiro, tem a ver com o coração.
Uma família fez uma reforma em sua casa. Os operários traziam sua comida, mas a famílias lhes provia de água, café, bolo e frutas, que podiam comer livremente. Nunca abusaram, mas um comentou:
– Nesta casa tem fartura porque vocês sabem dividir.
Quem dá não dá porque tem hoje, mas porque confia amanhã Deus dará mais.
 
7. Tenha a coragem de viver de modo profundo.
A superficialidade é uma doença, que se alimenta da preguiça e do medo.
É mais fácil usar o nome de Deus do que amá-lo, porque amá-lo implica num relacionamento, que pode ser exigente. É sedutor usar o nome de Deus para deixá-lo distante, de modo que não incomode.
Dois pastores conversavam. Tinham 20 antes de diferença, mas o mais novo se considerava jovem. Ele narrou a conversa que tivera com o pastor principal de sua igreja.
— Nós o amamos, mas foi duro dizer a ele que as pessoas não querem sermões bem elaborados, que são longos e demanda reflexão. As pessoas querem mensagens curtas, com palavras de efeito, mesmo que rasas. 
— Qual foi a reação dele?
— Ele está pensando.
Se a questão é apenas quanto à forma de comunicação, não há perda. Se o conteúdo é prejudicado, a vida é prejudicada.
Viver de modo profundo demanda coragem. 
A coragem de quem crê se mostra no interesse que tem em conhecer a Deus profundamente. Ele se revela na Palavra que deixou. Muitos cristãos amam a Bíblia, mas muitos não a conhecem. Quem não a conhece não conhece a Deus. O conhecimento de Deus implica em estudo, que exige tempo e dedicação. A superficialidade é uma sedução.
A coragem de quem crê se mostra na disposição em mudar. Quem crê não se esconde atrás de uma frase como esta: "Deus me fez assim". Nunca podemos saber, mas podemos saber o que ele quer que sejamos e é nesta direção que devemos nos mover, o que está longe com o conformismo.
A superficialidade é sedutora, mas é completamente inútil para uma vida que vale a pena, tanto nas vitórias quanto nas provas. Os superficiais vencem e acreditam que foi o seu braço que conquistou o triunfo. Quando perdem, os superficiais se revoltam. Os profundos vencem e agradecem a Deus pelo triunfo. Quando perdem, os profundos agradecem a Deus pela derrota e, como Saulo, perguntam: "Senhor, que queres que eu faça?" (Atos 22.10).
 
8. Tenha coragem de colocar os valores acima dos benefícios.
Na moral de muitas pessoas, os fins justificam os meios.
Se o resultado da mentira é o lucro, elas mentem.
Se para subirem, a bajulação funciona, elas bajulam.
Se o errado se torna certo, elas se alegram com o erro.
Colocar os valores acima dos benefícios demanda coragem.
Ninguém deve preferir ficar com os valores pelos benefícios que possam trazer. Fazer assim é como tomar o nome de Deus em vão. É parecer bom, quando não se é.
Se for o caso, disponha-se a sofrer pelos valores ensinados por Deus. Fique bem com Deus, mesmo que tenha que ficar mal com o mundo. Alegre-se por ser considerado digno de sofrer afrontas pelo nome de Deus (Atos 5.41).
 
9. Tenha a coragem de criar.
Deus, na verdade, não é um nome, mas um título genérico para o Criador e Sustentador da Vida.
Os autores bíblicos foram criativos em nomear a Deus Pai e a Jesus. Eis alguns desses nomes, entre tantos outros: 
 
Adonai, Advogado, Alfa e Omega, Amém, Bom Pastor, Chefe de todas as coisas, Emanuel, Estrela da Manhã, Eu sou o que sou, Leão de Judá, Libertador, Messias, Mestre,  Noivo, Pão dos Céus, Pedra de Esquina, Príncipe dos Reis da Terra, Porta, Princípio e Fim, Raiz de Davi, Redentor, Rei dos reis, Salvador do Mundo, Santo, Senhor.
 
Se "toda profissão pode exigir e exige coragem criativa",   a profissão de fé em Deus também.
Quando examinamos a Bíblia, vemos que ela usa milhares de metáforas para descrever a experiência do encontro entre homem e Deus. Suas orações estão plenas de poesia. Há livros inteiros de poesia. A poesia é a marca dos poetas e mesmo dos epistológrafo, como o apóstolo Paulo.
Deus, o supremo Artista, espera que sejamos criativos também. Não temos que nos referir a ele com as mesmas palavras, não temos que lhe cantar canções com os mesmos ritmos.
Deus é criativo e espera que suas criações também criem.
 
10. Tenha coragem de tomar decisão.
Precisamos de coragem para decidir.
Nossos problemas podem nos envolver de tal modo que procrastinemos nossas decisões.
Os modismos podem decidir por nós, embora nós mesmos arquemos com as consequências.
A fé em Deus precisa nos nutrir de coragem para vivermos a vida que ele espera que tenhamos, sem que nos escondamos.
 
 
4. PARA NÃO TOMAR O NOME DE DEUS EM VÃO
Coragem é coisa que vem do coração. Precisamos dela para usar santamente o nome de Deus.
 
1. Use o nome de Deus, mas sempre como uma oração. Antes de dizer "Deus" ou qualquer dos seus sinônimos, pense, ore, para que seja sempre um ato de adoração a ele.
 
2. Tome o nome de Deus como sendo o seu sobrenome. Saiba que tomar o nome de Deus indica o seu pertencimento a família de Deus. Não envergonhe o seu sobrenome.
 
3. Porte o  nome de Deus, mas não engane com o nome de Deus. Não faça deste nome um amuleto, para enganar a si mesmo.
 
4. Relacione-se com Deus como você é, desejando ser o que ele deseja que você seja.
 
5. Se invocar o nome de Deus numa promessa ou num juramento, vá até o fim para cumprir o que voluntariamente anunciou que faria.
 
 
ACORDE
 
PARA EXERCITAR (ACORDE)
1. Quem é o Deus como quem você se relaciona? Se for o Deus da tradição religiosa da sua família ou igreja ou o Deus da cultura de sua época, pare de usar o seu nome em vão. Se for o Deus revelado na Bíblia, procure conhecê-lo mais. (AUTO-CONHECIMENTO).
2. CONFESSE que é difícil ir além do nome de Deus e se relacionar com o Deus que não se esgota em seu próprio nome, porque ele é maior. 
3. ORE, pedindo que lhe mostre quem Ele é.
4. REFLITA sobre o privilégio de ser parte da família de Deus, de quem você herda o nome.
5. DECIDA corajosamente que você não se conformará com uma vida superficial, de conceitos vagos, de relacionamentos vazios, mas que buscará a plenitude da vida, como Deus quer.
6. EMPENHE-SE em amar a Deus e as pessoas.
 
Israel Belo de Azevedo