PIJAMA OU MACACÃO? (Oswaldo Jacob)

Esta é uma pergunta que deve calar no coração do homem idoso e da mulher idosa. A tendência daquele ou daquela que trabalhou muito tempo é vestir o pijama e não o macacão. Aquele pode ser sinal claro de acomodação, cansaço, entrega, falta de objetivos, de metas na vida. Este é prova de que é preciso continuar trabalhando, produzindo a partir de metas arrojadas. Quando trabalhamos e produzimos diminui a tendência à reclamação, à murmuração, melhorando a nossa saúde emocional e física. Sabemos que o trabalho não mata, mas a ansiedade e o stress, sim. O trabalho dignifica o homem, pois ele se sente útil à família e à sociedade, ao País. Nos países desenvolvidos, os idosos se aposentam mais tarde. No Brasil, muitos se aposentam muito novos e ficam sem expectativas.

Não é possível colocar pijama, ficar na frente da TV vendo novelas, jogar cartas, dominó com os amigos todos os dias. Diante de tantas necessidades, de tanta demanda, de voluntariado, de prestadores de serviço com experiência, não é possível ficar parado. Quem põe pijama cedo tende a morrer cedo. O pijama está ligado à improdutividade, enquanto que o macacão está atrelado à utilidade, produtividade. O pijama é roupa de dormir e ficar em casa à toa. Macacão é indumentária de trabalho, de atividade terapêutica. Quem busca a excelência usa o macacão. Aiden Wilson Tozer, apreciado pregador e escritor, por muitos anos nos Estados Unidos e no Canadá, quando chegava ao seu gabinete, tirava o terno e colocava o macacão para orar ao Senhor de forma intensa. Ele considerava a oração como um trabalho muito sério.   

Li em algum lugar que na Inglaterra uma senhora 104 anos estava cursando o seu doutorado. O Doutor John Oswald Sanders, também inglês, começou a escrever o seu primeiro livro com 70 anos, e com os seus 89 anos já estava no seu 19º livro. Produzia um livro por ano. Não nos esqueçamos: O nosso Deus trabalha para aqueles que nEle esperam (Is 64.4). Somos filhos de um Pai que trabalha em todo o tempo e no não-tempo. Temos no Brasil um exército de aposentados que ficam em casa sem nada fazer. Precisamos de voluntários em casas de repouso, creches, hortas comunitárias, escolas e em tantas outras atividades nobres e terapêuticas. Há um exército numeroso de idosos descansando.

Precisamos estimular e dar trabalho para os nossos amigos e irmãos da terceira idade. Eles são preciosos para nós. É necessário que aproveitemos essa mão de obra qualificada. Devemos fazer uma campanha nas igrejas deste país para aproveitarmos os nossos anciãos no trabalho de ajuda às comunidades carentes, de risco. Motivá-los a ocuparem o seu tempo de forma qualitativa. Não permitamos que os nossos pais e avós fiquem ociosos. Devemos dar a eles o devido valor desafiando-os ao trabalho.

Constatamos no Salmo 92.14,15, que “na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e verdejantes, para proclamar que o Senhor é justo”. Abrão com 99 anos de idade foi desafiado por Deus a ser perfeito e andar em Sua presença (Gn 17.1). Moisés começou a conduzir o povo de Israel com os seus 80 anos. A Palavra de Deus é o padrão doutrinal-ético-histórico para a nossa experiência como trabalhadores. Deus, nosso Pai, quer que sejamos pessoas de fé (confiando plenamente nEle), esperança (olhando para o futuro com criatividade e segurança) e amor (servindo às pessoas com prazer). Ele não quer que sejamos simplesmente reativos, mas proativos. Não se agrada que sejamos críticos (murmurando numa cantiga insuportável), mas crísticos, isto é, semelhantes a Cristo Jesus, tendo o sentimento de humildade e mansidão (Mt 11.29). Não quer que estejamos parados, ensimesmados, inertes, mas em movimento, olhando para as necessidades do próximo, sendo proativos, dinâmicos e criativos.

O idoso não deve expor uma imagem de inutilidade, mas de plena utilidade. Não deve revelar uma postura de acomodação, mas de trabalho. Não deve esperar as coisas acontecerem, mas fazê-las acontecer. Canseira e enfado se combatem com trabalho e espírito pronto, animado e entusiasmado. Os homens e as mulheres que fizeram toda a diferença neste mundo morreram trabalhando. A saúde do idoso ou da idosa não está em parar de trabalhar, mas em trabalhar com equilíbrio, conhecendo suas limitações físicas. Alguém disse sabiamente que ‘canja de galinha e prudência não fazem mal a ninguém’. Jesus ensinou que devemos ser simples como as pombas e prudente como as serpentes. A idade avançada geralmente revela sabedoria e discernimento. Há exceções à regra. Ao ancião e à anciã, digo eu: Não vistam roupas de descanso quando têm que trabalhar. Tenham tempo para trabalhar e tempo para descansar. 

Achei muito interessantes as orientações dadas pelo Doutor Manfred Grellert, apreciado pastor e teólogo, com os seus 74 anos e trabalhando na organização humanitária cristã Visão Mundial, em Monrovia, Califórnia: Usem seu tempo para trabalhos voluntários; façam seus exercícios físicos religiosamente; alimentem suas mentes com boas leituras, algumas desafiadoras; dediquem tempo para a intercessão; compartilhem a história de sua família com as gerações mais novas; aprendam algo novo, que seja desafiador; façam de sua leitura bíblica algo expressivo. Cuidem de flores e de passarinhos. Visitem pessoas necessitadas. Não vejam televisão exageradamente.[1]

Meus irmãos idosos, não permitam que o desânimo, a acomodação, a letargia, a falta de criatividade e a ociosidade tomem o seu coração e os imobilizem. Que o ânimo renovado, o espírito pronto, a alegria, o dinamismo, o trabalho sério, tomem plenamente o seu coração. Que o trabalho e o descanso sejam instrumentos de adoração ao Senhor. Seja o nosso Deus glorificado em sua vida de trabalho, atividade intensa em favor dos que mais precisam!

 

Oswaldo Luiz Gomes Jacob, pastor.   

www.oswaldojacob.com



[1] GRELLERT, Manfred. Seguir a Jesus Cristo envolve coração, cabeça e mãos. Artigo. Revista Ultimato: Viçosa, MG. Setembro/Outubro-2015, p. 29.