DEUS É INATINGÍVEL? (Sylvio Macri)

“Se pecares, que mal farás contra ele? Se crescerem as tuas transgressões, que lhe farás com elas? Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá ele da tua mão? A tua impiedade poderia fazer mal a outro como tu; e a tua justiça poderia aproveitada por um mortal.” (Jó 35.6-8).

Há uns tempos atrás vi, várias vezes, uma frase colocada na traseira de alguns carros, que dizia mais ou menos o seguinte: “Deus, sem você, continua sendo Deus; você, sem Deus, não é nada.” Realmente, Jesus disse: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo.15.5), mas se ele pode muito bem passar sem nós, então por que nos criou? E por que deu o seu Filho por nós? Por que ele nos coroou de glória e de honra e nos deu domínio sobre a sua criação (Sl.8)?

Eliú é um personagem um tanto contraditório: em uma parte do seu discurso ele diz que Deus “é muito poderoso, mas não despreza ninguém” (Jó 36.5), que ele “retribui ao homem conforme suas obras” (Jó 34.11); e dirigindo-se a Jó, diz-lhe: “Ele quer te levar do meio da angústia para um lugar amplo e livre” (Jó 36.16), mas que a arrogância de Jó o impede. Nesta parte do discurso que citamos acima, entretanto, ele diz que Deus não pode afetado por nada que façamos, seja mal ou seja bem. Então, Deus é inatingível?

Por um lado, a resposta é sim. A retórica de Eliú demonstra a natureza imutável de Deus. Realmente, se eu peco ou se não peco, não altera em nada a pessoa de Deus. Tiago diz: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto e descem do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tg.1.17). E devemos dar graças a Deus por isso porque “se formos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar a sua natureza.” (2Tm.2.13).

Por outro lado, a nossa impiedade afeta a Deus, sim. Assim como Davi sabemos muito disso. Ao cometer adultério com Bate-Seba e em seguida ser mandante da morte de Urias, marido dela, Davi, surpreendentemente, diz: “Pequei contra ti, contra ti, somente.” E, escrevendo aos romanos, Paulo diz: “Mas apresentai-vos a Deus como vivificados dentre os mortos, e os membros do vosso corpo a Deus como instrumentos de Justiça.” (Rm.6.13). Meu pecado entristece a Deus, mas minha retidão o alegra.

Pr. Sylvio Macri