“Esta casa, que se chama pelo meu nome, transformou-se para vós num antro de ladrões?“ (Jeremias 7.11).
Ponto de encontro de bandidos, é exatamente isso que a expressão “antro de ladrões”, usada por Jeremias no versículo acima, quer dizer. O profeta acusou seus contemporâneos de transformar o templo do Senhor em verdadeira sede de uma quadrilha de malfeitores: “Por acaso furtando, matando, cometendo adultério, jurando falsamente, queimando incenso a Baal e seguindo outros deuses que não conhecestes, vireis e vos apresentareis perante mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e direis: Estamos seguros! Apenas para continuardes a praticar todas essas abominações?” (Jr.7.10).
Os malfeitores no caso acima eram os próprios israelitas, mas nos evangelhos encontramos Jesus usando a mesma expressão em outra situação, também no templo do Senhor, agora não o mais o de Salomão, mas o de Herodes. Ali, com a permissão lucrativa da casta sacerdotal, reunia-se uma turba de vendedores de animais, sal, óleo e vinho, os quais eram usados nos sacrifícios, e também havia cambistas de moedas, pois no templo somente se usava a moeda própria. Por essa razão, talvez, o evangelista João diz que Jesus usou outra expressão: “Não façais da casa de meu Pai um mercado.”
Evidentemente estes comerciantes eram considerados como verdadeiros ladrões, pois praticavam preços exorbitantes, aproveitando-se dos peregrinos que compravam deles as coisas que iriam oferecer em sacrifício. Também os cambistas roubavam descaradamente na troca de moedas. Além disso, eles se localizavam no Pátio dos Gentios, único lugar onde isso seria permitido. Por isso, Marcos registra Jesus afirmando que a finalidade do templo de ser uma “casa de oração para todas as nações” fora pervertida pelos negociantes que ali se instalaram, inclusive com currais e gaiolas de animais, impedindo a adoração dos estrangeiros.
Nos dias atuais, há também muitos templos que se tornaram “casas de negócios”, em que a mercadoria vendida é a fé. Na verdade poderíamos dizer que se transformaram em “casas de câmbio”: em troca de suas ofertas financeiras, os fiéis/clientes obtêm milagres, curas, sucesso nos empreendimentos, restauração da família e outros “produtos”. Jeremias diria, com Jesus, que esses locais são modernos “antros de ladrões”, ladrões dos bens e da fé alheia.
Pr. Sylvio Macri