COMO UM ESPANTALHO NUM PEPINAL (Sylvio Macri)

“São como um espantalho num pepinal, não podem falar e precisam de quem os carregue, pois não podem andar. Não tenhais medo deles, pois não podem fazer nem mal nem bem.” (Jeremias 10.5).

Os ídolos são mesmo ridículos, ou, melhor dizendo, risíveis, mas piores ainda são os que os fazem e os adoram. “Todos eles são insensatos e loucos; são instruídos por ídolos feitos de pau.” (Jr.10.8). Havia na antiguidade (como até hoje ainda há) uma classe de artesãos especializados em produzir ídolos. Jeremias os chama de peritos (Jr.10.9). Mas, por mais perfeito que seja o trabalho desses artesãos, por mais valiosos que sejam os elementos usados na sua confecção, como ouro, prata, púrpura, “eles têm boca, mas não falam, têm olhos, mas não veem, tem ouvidos, mas não ouvem, têm nariz, mas não cheiram, têm mãos, mas não apalpam, têm pés, mas não andam.” (Sl.115.5-7).

Espantalhos são bonecos grandes, feitos com roupas velhas nas quais se coloca um enchimento de palha. Esses bonecos são presos a hastes fincadas no meio de uma horta, a fim de espantar os invasores, mas somente os pássaros têm medo deles. Mesmo assim, com o tempo percebem que se trata de um boneco tosco e perdem-lhe o medo. Com essa comparação, Jeremias ironiza seu povo por abandonar o Deus que “fez a terra com seu poder, estabeleceu o mundo com sua sabedoria e estendeu os céus com sua inteligência.” (Jr.10.12), e por adorar deuses que nada fazem, nem bem nem mal. Por que ter medo de um espantalho? Por que pensar que um espantalho lhes daria chuvas e boas colheitas?

Como um espantalho num pepinal são os deuses que não podem socorrer-nos na hora da adversidade, nem consolar-nos na hora da perda e da tristeza. Que não podem salvar-nos de nossos pecados. Que nunca disseram nenhuma palavra de mandamento, juízo ou esperança. Como um espantalho num pepinal são os deuses feitos à nossa imagem e semelhança, e portanto finitos, efêmeros e falíveis. Que têm os mesmos defeitos morais que possuímos, como inveja, ciúme, ódio, malícia, vaidade e egoísmo. Como um espantalho num pepinal são os deuses inanimados, impassíveis, sem nenhum sentimento, pois é isso que na verdade é um pedaço de pau, pedra ou metal.

Pr. Sylvio Macri