REFORMA, 3/3 – SOLUS CHRISTUS

Na estrutura política do mundo, o cidadão — de quem se diz tudo — não é nada.
Compreendi bem esta realidade quando visitei a China. Num dos lados da praça celestial, está o maior palácio do governo. Suas colunas são largas e altas. É tudo tão grande que, numa foto que mire o palácio inteiro, o turista praticamente não será visto. 
A sensação é de grandeza do poder governamental e, ao mesmo tempo, de pequenez do indivíduo, que, se quiser falar com o chefe, notará que não tem a menor chance. É assim em todos os lugares, guardadas as proporções de prédios ou de agendas.
Se queremos falar com o chefe, temos que ter alguém que intermedie.
A transferência deste estilo de vida, da política para a religião, está presente na história.
Jesus, quando pregou, falou do caminho. Ele era o caminho. Jesus, quando pregou, falou da verdade. Ele era a verdade. Jesus, quando pregou, falou da vida. Ele era a vida. Quem quisesse ouvi-lo que se aproximasse, sem impedimentos. Quem quisesse ser curado, que pedisse diretamente a ele. Quem quisesse ser salvo, que aceitasse sua oferta sem atravessadores.
Primeiro alguns, depois centenas e a seguir milhares e mesmo milhões de pessoas entenderam a mensagem. Ouviram-no. Procuraram-no. Foram salvos.
Esta ligação direta (entre o homem e Deus, através de Jesus apenas) incomodou os que se apresentavam como deuses. Quem aceitava Jesus como o Intermediário era preso e até morto. Destes, milhares foram fiéis. Receberam a coroa da vida. Os mártires foram para o céu.
Os que sobreviveram ficaram muito agradecidos aos que foram mortos. Começaram então a elogiar-lhes. No dia de aniversário de suas mortes, começaram a fazer cultos, nos quais exaltavam as qualidades dos mártires. Assim, ao longo de décadas e séculos, aniversário de morte após aniversário de morte dos mártires, muitos cristãos passaram a achar que os mortos no céu podiam interceder pelos vivos na terra. Agora, se queriam ser curados, pediam a um destes mártires, chamados de "santos", para pedirem a Jesus para pedir ao Pai. Se queriam ter um problema resolvido, lançavam mão deste expediente complicado, próprio da política.
Nesse tempo, não havia o hábito de se ler a Bíblia, onde a ligação direta é claramente ensinada e onde se afirma que os mortos não têm qualquer poder. A população era grande e cada exemplar tinha que ser copiada uma a uma. A imprensa não fora inventada. Ademais, a população era amplamente analfabeta, tanto no latim dos romanos quanto nos outros idiomas com escrita. Assim a bíblia lida era a bíblia falada nos púlpitos. Essa bíblia não era a Bíblia, porque faziam com que dissesse o que não disse. Faziam com que garantisse, por exemplo, que a mãe de Jesus não morreu e subiu viva ao céu, como o Filho, de quem agora era a assistente para receber os pedidos das pessoas. 
Sem a Bíblia para os orientar, os cristãos se tornaram de novo pagãos.
Até que Martim Lutero leu na Bíblia que só há um mediador (intercessor, sacerdote) entre o homem e Deus: é Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.
Todos podemos viver na simplicidade da fé cristã. Como lemos na Biblia, todos podemos ir direto ao Pai. 
Obrigado, Senhor Deus!
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO