SOLA FIDE

A GRANDE DESCOBERTA

Aqui [em Romanos 1.17), comecei a compreender que a justiça de Deus é que o justo vive pela fé. Aqui senti que eu tinha nascido de novo e que tinha entrada nos portões do paraíso através das portas abertas”.[1]

 

A ORAÇÃO DA FÉ

. “Aprenda Cristo e o aprenda crucificado; aprenda a orar a ele, perdendo toda esperança em si mesmo, e diga: “Tu, Senhor Jesus, és a minha justiça, e eu sou o teu pecado; tomaste em ti mesmo o que não eras e deste-me o que não sou”. [2]

 

OBRA DIVINA

. “Fé, entretanto, é uma obra divina em nós, que nos modifica e faz renascer de Deus […], mata o velho Adão, transformando-nos em pessoas bem diferentes de coração, sentimento, mentalidade e todas as forças, e traz consigo o Espírito Santo. Ah, há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. […]

Fé é uma confiança viva, inabalável na graça de Deus, tão certa de si que ela não se importaria de morrer mil vezes. E semelhante confiança e reconhecimento de graça divina tornam[-na] alegre, persistente e agradável perante Deus e todas as criaturas, o que é ocasionado pelo Espírito da fé.

Por isso, sem coação, ela se dispõe voluntariamente a fazer o bem a todo mundo, a servir a todo mundo, sofrer tudo, por amor e em louvor a Deus que lhe demonstrou tamanha graça, de sorte que é impossível separar as obras da fé, tão impossível como separar a luz do fogo. [3]

 

. “Nem os homens que procuram obedecer à lei, nem aqueles que não tentam guardá-la estão justificados diante do Senhor, porquanto todos estão espiritualmente mortos. O ensinamento de Paulo é que há duas classes de pessoas no mundo —aquelas que estão espiritualmente vivas e aquelas que não estão. Isto está em harmonia com o ensinamento de Jesus Cristo em João 3.6: “O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito”. Para as pessoas que não possuem o Espírito Santo, a lei é sem utilidade. Não importa o quanto procurem guardar a lei, não serão justificadas exceto pela fé”.[4]

 

LEI E GRAÇA

. “Quando o apóstolo diz que “somos justificados independentemente das obras da lei” [3.28], ele não está falando das obras que são realizadas com a finalidade de buscar a justificação.

A razão disso é que estas já não são obras da lei, mas da graça e da fé, já que aquele que as realiza não confia nelas porque já se considera justificado, mas, porque deseja ser justificado; tampouco considera que, através dessas obras, ele cumpriu a lei, mas busca o cumprimento cumprimento dela.

[Paulo], contudo, chama de obras da lei aquelas cujos autores, uma vez realizadas as mesmas, fundamentam nelas a sua justificação, como se ela, com isso, já estivesse completa e eles já estivessem justificados, pelo fato de terem cumprido as obras. Neste caso, eles não fazem essas obras a

. “Éaté falso pensar que as obras da lei possam cumprir a lei, pois esta é espiritual e exige um coração e uma vontade impossíveis de possuir a partir de nós mesmos, conforme foi explicitado exaustivamente acima. Por essa razão, tais pessoas realizam obras da lei, mas não as intenções ou a vontade da lei". [5]

 

JUSTIÇA DO ALTO

. “Deus não quer salvar-nos pela nossa própria justiça, mas sim, pela justiça e sabedoria que vem de fora; não [pela justiça] que vem e nasce a partir de nós, mas a que surge em nós, vinda de outra parte; não a que se origina em nossa terra, mas a que vem do céu.[6]

 

FÉ E OBRAS

. “[Em Atos dos Apóstolos], encontras um belo espelho no qual podes enxergar a verdade de que 'sola fides iustificat’-somente a fé justifica. Pois a respeito dessa questão aí se encontram todos os exemplos e casos, testemunhas certas e confortadoras, que não mentem para ti nem falham”.[7]

. “Vê como a fé justifica sem obras? O pecado nos paralisa. Deus odeia o pecado. A transfusão de justiça se torna, então, necessária. Esta transfusão de justiça nós obtemos de Cristo porque cremos nele". [8]



[1] LUTERO, Martim. “Prefácio ao primeiro volume da edição completa dos escritos latinos”. Em: Pelo evangelho de Cristo: obras selecionadas de momentos decisivos da Reforma.Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1984, p. 30-31.

[2] LUTHER, Martin. Luther’s correspondence and other contemporary letters. Philadelphia: The Lutheran Publication Society, 1913, I, p. 34.

[3] LUTERO, Martin. Prefácio à Epístola de S. Paulo aos Romanos. Obras selecionadas, vol. 8: Interpretação bíblica —princípios. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, pos. 2721.

[4]LUTERO, Martin. Nascido escravo. São José dos Campos: 1992, pos. 180.

[5] LUTERO, Martin. Prefácio à Epístola de S. Paulo aos Romanos. Obras selecionadas, vol. 8: Interpretação bíblica —princípios. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, pos. 6627.

[6] LUTERO, Martin. Prefácio à Epístola de S. Paulo aos Romanos. Obras selecionadas, vol. 8: Interpretação bíblica —princípios. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, pos. 6291.

[7] LUTERO, Martin. Prefácio à Epístola de S. Paulo aos Romanos. Obras selecionadas, vol. 8: Interpretação bíblica —princípios. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, pos. 2624.

[8] Comentário aos Gálatas, 3:6.