ÉRAMOS DEZ (Maria Ignez Menegatte)

(Mateus 17.11-19)
 
Éramos dez companheiros,
Unidos pela desgraça
De uma enfermidade feroz
Com um estigma de maldição,
Em condições iguais: solitários, desprezados,
Carregando a vergonha da exclusão
Do reduto da comunidade
Por algo que não procuramos,
Uma grave enfermidade.
Obrigados pelas regras dos homens
A avisar de modo humilhante
A quem de nós se aproximasse, gritando:
Imundos, imundos, somos leprosos,
Afastem-se! Afastem-se!
A cidade não mais nos pertencia
E ninguém, nem mesmo o mais piedoso dos homens
Por perto nos queria.
 
A família, de cada um de nós, foi afastada.
Tínhamos apenas um ao outro
Com nossas crescentes dores, enfermidades, terrores.
Em  nossa alma um misto de revolta
Diante de tanta humilhação,
Privados de exercer cada um a sua digna profissão,
De frequentar os cultos, de desfrutar  da companhia
De amigos e irmãos,
Marcados pela dor e condenados à solidão,
Carregando uma culpa sem sentido
Que nos marcava a alma e aprisionava o coração.
 
Mas, um dia, uma alma piedosa,
Mesmo de longe, quis nos contar a seguinte novidade:
“apareceu aqui um homem, um profeta, um santo,
Talvez o Messias, não sei ao certo,
Mas, dizem que Ele cura, faz coisas espantosas,
Realiza milagres. E hoje Ele passará por essa estrada”.
Ficamos à espreita, esperando o tal homem aparecer.
E Ele veio, era sereno e tinha compaixão no olhar.
Ousamos sair de onde estávamos e nos aproximar.
Gritamos a uma só voz: “Jesus, mestre, tem misericórdia de nós”.
E Ele nos ouviu, se aproximou, nos viu.
Então, nos enviou aos sacerdotes para nos examinar.
Enquanto apressadamente caminhávamos,
A lepra desapareceu, fomos todos curados.
Que alegria! Que festa! Que felicidade!
A lepra foi embora, foi-se a fatalidade.
Então meus companheiros, nove ao todo
Seguiram seu caminho.
E eu fiquei ali,  parado, pensativo,
Tentando o ocorrido compreender.
Mas aquele olhar do Mestre,
do homem que me curou
estava gravado em minh’ alma
eu, duas vezes rejeitado: leproso e samaritano.
Eu, sem nenhum merecimento ter
Para tamanha graça receber.
 
Dei meia volta e corri,
Corri tanto quanto podia
Até que o alcancei.
Prostrei-me aos seus pés
Agradeci e chorei:
Lágrimas de alegria, de amor, de gratidão.
E por isso recebi dele o dom da salvação.
Você que me ouve agora,
Relembre a bênção imerecida,
Como era o seu passado
O que mudou na sua vida.
Então, se prostre como adorador
De Jesus que bem merece,
Pois abençoado é mais ainda
Aquele que volta, e agradece.
 
Maria Ignez Menegatte