“Por que tratas a mim, teu servo, com tanta crueldade? Tem misericórdia de mim. O que fiz para merecer o peso de todo este povo? Por acaso gerei ou dei à luz este povo? Por que me pedes para carregá-lo nos braços como a mãe carrega o bebê que mama? Como o levarei à terra que juraste dar a seus antepassados? Sozinho, não sou capaz de carregar todo este povo! O peso é grande demais! Se é assim que pretendes me tratar, mata-me de uma vez; para mim seria um favor, pois eu não veria esta calamidade!” (Números 11.11,12,14,15 – NVT)
Moisés era um líder sob intensa e permanente pressão. Além de ter que administrar as constantes reclamações do povo de Israel no deserto e as suas recaídas na idolatria (como disse Estêvão, esse povo “no seu coração já tinha voltado para o Egito” – Atos 7.39), ainda tinha que debelar as várias rebeliões de líderes do povo, inclusive de seus próprios irmãos. Isso o levou a um ponto de iminente colapso, como mostra o texto acima. Nesse momento Moisés fez uma queixa pungente contra Deus. Apesar de entendermos e aceitarmos a perplexidade do grande líder diante da tanta adversidade, não podemos deixar de notar insensatez na sua oração.
Ao queixar-se da “crueldade” de Deus para com ele, e do peso da sua missão, Moisés esqueceu-se da maravilhosa experiência no deserto de Midiã, em que a sarça não se consumia e onde encontrou-se com o Deus de Abraão, Saque e Jacó, o Deus de vivos e não de mortos, como disse Jesus (Mt.22.32). Esqueceu-se da insistência do Senhor em chamá-lo e capacitá-lo. Não se recordava mais dos milagres que o Senhor fizera por intermédio dele no Egito, da travessia do Mar Vermelho a pés enxutos, da experiência poderosa do Sinai, onde falou com o Senhor face a face Um Deus assim não poderia ser chamado de cruel.
Ao reclamar por de ter que carregar o povo tal como uma mãe carrega seu bebê no colo, Moisés estava se queixando de uma situação que, por falta de sabedoria, ele próprio criara para si, tentando cuidar sozinho do povo. Assim como o Senhor usou seu sogro Jetro para fazê-lo ver a insensatez de tentar sozinho resolver todas as pendências pessoais do povo (Ex.18.13-28), agora o instrui pessoalmente a como delegar sua autoridade espiritual a outros líderes que o ajudariam a pastorear aquele povo no poder do Espírito (Nm. 11.16,17,24-29).
Mas a maior tolice foi pedir ao Senhor da vida que o matasse. Chega ele a dizer que se Deus queria tratá-lo com misericórdia, e não com crueldade, que lhe tirasse a vida. No deserto de Midiã ele havia respondido ao Deus que insistia em chamá-lo: “Por favor, Senhor! Envia qualquer outra pessoa!” (Ex.4.13). Agora vai mais longe, pede que o mate. Assim, de qualquer maneira o Senhor teria que usar outro. Mas o Deus da graça não mata ninguém, pelo contrário dá vida aos que estão mortos. Por isso, não aceitou o pedido de Moisés e usou sua vida até os 120 anos, quando ele teve uma morte gloriosa (Dt.34.5-8; Jd.9).
Não nos é proibido, em tempos de angústia, derramar nossa amargura perante o Senhor, mas isso não é uma permissão para fazer orações tolas.
Pr. Sylvio Macri