“Em paga do meu amor, me hostilizam; eu, porém, oro”.
(Salmo 109.4)
Quando lemos o Salmo 109 na íntegra, vemos o que a oração faz conosco.
De início, nós nos lembramos dos outros poemas do Saltério hebraico que pedem por justiça a Deus, especialmente aqueles que, com palavras muito pesadas, transpirando vingança (como o acontece no Salmo 137).
O poeta pede por justiça porque ele, como nós, vive num mundo injusto. A injustiça global o alcança pessoalmente.
Ele é alvo de mentiras a seu respeito. Nós também.
Ele é atacado sem motivo. Nós também.
Ele é hostilizado quando faz o que é bom e certo. Nós também.
Ele recebe o ódio como retribuição por seu amor. Nós também.
Ele é alvo de zombaria pública, sem nada ter feito de errado. Nós também.
Ele é atraído para fora do convívio das pessoas, como se não tivesse nenhum valor. Nós também.
Nós também nos sentimos assim, injustiçados e com os corações feridos.
Precisamos que Deus nos faça justiça, para que não sejamos como a sombra que declina.
Como confiamos em Deus, oramos a ele.
Quando oramos, tendemos a ensinar a Deus como agir. O salmista seguiu inicialmente por este caminho e deixou bem claro o que queria.
Ele queria que Deus agisse e levantasse alguém para acusar aquele que cometia maldades. O acusado devia ser considerado culpado pelo que fizera. Se orasse, esse acusado não devia ser ouvido.
O poeta esperava que o condenado perdesse todo o seu patrimônio.
O poeta queria que o condenado fosse eliminado da face da terra.
O poeta desejava que a justiça de Deus alcançasse os familiares do seu malfeitor.
O poeta entendia que a justiça de Deus alcançasse a posteridade deste malfeitor, que sempre se portava com crueldade e sem misericórdia, de modo que fosse completamente esquecido.
O poeta tinha esperança que Deus agiria, embora parecesse calado. Então, seu algoz seria envergonhado e ele, enaltecido.
Prosseguindo na aleitara, observamos que, à medida em que vai orando, o poeta vai entendendo como Deus age. No final de sua prece, ele deixa a sua fúria e passa a contar apenas com a sabedoria de Deus. A oração nos muda.
Agora, ele pede que Deus o socorra, exercendo misericórdia para com o necessitado. Ele sabe que os homem amaldiçoam, mas Deus abençoa e é da sua bênção que precisa.
O poeta — eis como devemos fazer — tira o seu foco da maldade dos homens e o põe na bondade de Deus. Sua ênfase deixa de repousar sobre a justiça, para se fixar na boa misericórdia divina.
O poeta troca sua ansiedade pela confiança. Este deve ser o o nosso caminho, caminho que trilhamos quando olhamos para Deus e vemos que sempre age a nosso favor, não por causa de nossas boas ações mas por causa do seu amor para conosco.
Israel Belo de Azevedo