A morte da senhora Irene Bento, no dia 28/07/2018, no Hospital Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro, a que tudo indica, por negligência médica, reacende a discussão das péssimas condições da saúde pública no Brasil, considerando a sua estrutura precária e a falta de insumos. No caso da dona Irene, houve a acusação de descaso médico, quando uma profissional médica estava agarrada no celular, mostrando uma tremenda falta de respeito e consideração para com o ser humano. Quando da sua formatura, o médico se compromete com o chamado “Juramento de Hipócrates”, o pai da medicina, que viveu no século V a. C. Este juramento, na sua versão de 1983, de forma resumida, diz o seguinte: Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade. Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A saúde do meu doente será a minha primeira preocupação.Hoje, na maioria dos casos, essa afirmação não corresponde à realidade na vida de muitos profissionais médicos seja nos hospitais e consultórios médicos.
Não seria “Juramento de Hipócritas” em vez de Hipócrates? Muitos médicos estão mais voltados para o status, a ostentação e o dinheiro do que realmente tratar o paciente com dignidade. A proliferação de faculdades de medicina tem contribuído para a formação de profissionais fracos, incompetentes e autossuficientes. Sem dúvida, há uma cultura no Brasil que considera o médico um semideus.Como há profissionais arrogantes, acometidos da síndrome do pequeno deus! Reclamam de salário. Muitas vezes não atendem o paciente urgente fora do seu horário. De acordo com o Juramento de Hipócrates, a medicina é um sacerdócio e uma missão muito nobre. A missão do profissional médico é tratar do paciente com profunda compaixão e dignidade. Poucos médicos são simples e relacionais. Igualmente poucos os que veem o ser humano com olhos compassivos, acometidos de empatia. São poucos os que veem as pessoas com altíssimo valor. O lema original de Hipócrates: a boa medicina trata o indivíduo, e não simplesmente a doença.
O que percebemos é que muitos profissionais médicos não têm consciência da envergadura da sua missão de tratar o paciente com a dignidade de um ser humano com profundas limitações, carências e fragilidades. O médico deve valorizar muito o paciente em si, sua personalidade, enquanto ser humano. Mais do que auscultar os órgãos internos, esse profissional da saúde deve ter sensibilidade de fazer colocações que valorizem o paciente, escutar o seu coração. É a chamada medicina da pessoa. É relevante considerar que tratar as causas da dor que tanto incomoda o paciente é uma missão sublime. O médico deve ser um profissional comprometido com a ética. Ser sensível aos miseráveis, que sofrem dores físicas e dores da psiquê.
O médico lida com a vida do ser humano. Ele é um paciente que sente dor e morre como qualquer outra pessoa. O médico ou a médica deve dar o devido valor aos seus pacientes. O juramento não cumprido caracteriza hipocrisia e alienação no exercício dessa profissão tão nobre. Ser médico ou médica não é simplesmente status, condição social privilegiada, acessos fáceis a crédito e outras vantagens da profissão, mas é, acima tudo, um serviço amoroso e abnegado aos que sofrem, e um trabalho primoroso na prevenção de diversas enfermidades. São poucos os profissionais, como recentemente vimos os cirurgiões da Santa Casa de Juiz de Fora, que salvaram a vida do candidato Jair Bolsonaro. Na verdade, ser um profissional médico é caminhar lado a lado com o seu paciente, e não cliente, o escutando e auscultando com precisão e sensibilidade, que são traços distintos de um profissional de excelência que honra o seu juramento proferido em sua formatura diante de tantas testemunhas.