Numa democracia, recebemos o dever de escolher entre pessoas e entre ideias.
Ao decidir, elegemos as pessoas que consideramos capazes de fazer o que achamos que deve ser feito, entre as possibilidades postas.
Ao decidir, temos ao nosso lado aqueles que concordam conosco e aqueles que discordam de nós, o que é salutar, para repensarmos nossas escolhas, firmando plataformas ou mudando de posição.
É natural que abracemos os que concordam conosco. É bonito que festejemos com eles quando a maioria escolhe os mesmos que selecionamos. É animador que deixemos que as cordas da esperança vibrem dentro de nós.
O problema é que, em nossos círculos de relacionamentos, a discordância também toca suas notas, às vezes bem alto.
Em nosso ambiente de trabalho, as diferenças gritam.
Entre nossos amigos, não há unanimidade.
Em nossa igreja, certezas se chocam.
Em nossa família, os sangues fervem.
Entre os casais, decepções são anunciadas, quando divergem.
Na verdade, somos todos democratas quando estamos de acordo. Somos todos inteligentes quando fazemos as mesmas escolhas.
A democracia é realmente testada quando adotamos posições diferentes.
Não são menos inteligentes os que interpretam os fatos de forma distinta da nossa.
Temos que escolher, mas não temos que nos dividir.
Temos que decidir, mas não temos que (nos) odiar.
Um pleito passa, mas temos que cuidar hoje para que nossas amizades permaneçam amanhã.
Uma escolha se faz, mas a harmonia em nossa família é o valor mais alto a ser eleito.
Os candidatos nos chamam para uma guerra, onde a verdade é massacrada, mas nós podemos nos recusar a ocupar trincheiras e sair atirando.
Não é menor quem pensa diferente. Menor é quem desclassifica o outro.
Não é menor quem deixa o outro falar. Menor é quem quer calar o outro.
Não é menor quem mantém sua amizade apesar das opções contrárias no voto. Menor é quem se afasta do outro por causa de uma preferência filosófica, ideológica ou política.
Não é menor quem mantém em segredo a sua escolha. Menor é quem quer impor a sua decisão ao outro.
Todos podemos ficar do lado certo, que é analisar as propostas, seguir a trilha da nossa consciência e respeitar a escolha do outro, mesmo (que pareça) equivocada.
Israel Belo de Azevedo