AZAZEL

Nunca podemos derivar uma teologia de um único versículo da Bíblia, a menos que seja corroborado por outros textos igualmente inspirados.

Num único capítulo (Levítico 16), por exemplo, temos uma palavra que, embora possa confundir, ali está para esclarecer. É “Azazel” ou “emissário".

Azazel acabou se tornando uma figura mitológica, depois que o livro de 1Enoque, obra apócrifa escrita no período exílico, atribuiu-lhe o nome de um dos anjos caídos junto com Lúcifer.

Algumas versões da Bíblia (como a de Jerusalém) parecem seguir a mitologia quando transliteram, sem traduzir, a palavra, como se fosse nome próprio. Neste caso, o bode seria enviado a Azazel no deserto.

As versões Almeida colocam “azazel” como adjetivo, significando “emissário", sendo a expressão completa “bode emissário".

No dia da expiação ou perdão (Yom Kippur), dois bodes seriam apresentados. Mediante sorteio (certamente usando0se as pedras Urim e Tumim), um era escolhido para ser sacrificado pelos pecados no altar e outro era remetido ao deserto (fora da aldeia) levando simbolicamente os pecados cometidos e perdoados (como lemos em Levítico 16.10 — “O bode sobre o qual cair a sorte para bode emissário será apresentado vivo diante do Senhor, para fazer expiação por meio dele e enviá-lo ao deserto como bode emissário”.)

O sentido é o mesmo que temos em Miquéias 7.19 — Deus “voltará a ter compaixão de nós;pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar”.

Muitas vezes, uma vez por ano, ao tempo da antiga Aliança, o bode emissário (“azazel") tinha que  ser enviado ao deserto. No Novo Testamento, Jesus foi enviado apenas uma vez ou “uma vez por todas” (Hebreus 10.1) para fora da cidade e onde foi sacrificado. Entendemos a morte de Jesus em nosso lugar quando lemos conjuntamente Levítico e Hebreus, carta que nos informa que Jesus sofreu (isto é, foi crucificado) “fora da cidade” de Jerusalém (Hebreus 13.12).

Embora não se esperasse que um profeta morresse “fora de Jerusalém” (Lucas 13.33), Jesus morreu, como se fosse um bode “azazel” (emissário) que leva para longe os nossos pecados e lá deixa, deixando-nos sem culpa, que, pela graça, Deus extinguiu.

Não precisamos mais fazer sacrifícios, senão os de louvor (Amós 4.5), os quais nascem da alegria, não do dever; da paz, não do medo. Por isto, somos convocados a oferecer a Deus apenas um louvor que seja “o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13.15).

Assim, com muita razão, o autor da carta aos Hebreus considera este conjunto de iniciativas divinas para nos perdoar de “grande salvação" (Hebreus 2.3).

Diante desta graça, bom mesmo é aceitá-la, proclamá-la e viver no seu compasso.

 

Israel Belo de Azevedo

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