CORAÇÕES ARDENTES (Sylvio Macri)

Jesus estava morto e sepultado e seus discípulos se sentiam frustrados e desesperançados. Foi assim que dois deles resolveram deixar Jerusalém e ir para a aldeia de Emaús, que ficava a mais ou menos 11 quilômetros de distância, na direção do litoral. Enquanto caminhavam, Jesus, que já ressurreto, se aproximou deles e começou a caminhar ao seu lado. Eles não sabiam que Jesus havia ressuscitado e também não o reconheceram. Jesus perguntou sobre o que conversavam tanto, e eles responderam que o assunto era a prisão, condenação e morte daquele que esperavam que fosse o Redentor de Israel.

Diante dessa resposta, Jesus passou a explicar-lhes o que as Escrituras diziam sobre ele. A distância era razoável e a conversa foi longa. Quando chegaram a Emaús, Jesus fez menção de ir adiante, mas como a noite se aproximava, eles o convenceram a pousar consigo. Quando sentaram-se à mesa para comer e Jesus tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e deu-o a eles, seus olhos se abriram e o reconheceram. Mas nesse momento Jesus despareceu da sua presença. Então comentaram entre si: “Não é verdade que o coração nos ardia no peito, quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (Lucas 24.32 – para entender melhor leia todo o trecho de Lucas 24.13.-35).

Apesar dos corações ardentes enquanto ouviam a palavra do Mestre, eles demoraram demasiadamente para entender as Escrituras e reconhecer o Filho de Deus. Muitas vezes, quando ouvimos ou lemos a Palavra de Deus, o coração nos arde, mas determinados problemas nos impedem de sermos esclarecidos e abençoados por ela. Analisando essa passagem percebemos o que causou essa lentidão de entendimento dos dois discípulos.

Um dos problemas dos discípulos era a sua fé. Uma fé cega, que não podia reconhecer a presença do Jesus vivo e ressurreto caminhando ao seu próprio lado (v.16). Uma fé equivocada, que valorizava mais os aspectos espetaculares da obra de Jesus e tentava evitar os aspectos de sua obra de expiação dos pecados (v.19,20). Uma fé seletiva, que não se baseava em tudo os que as Escrituras diziam a respeito de Cristo, mas, convenientemente, apenas nas passagens que falavam do Messias triunfante (v.21). Cuidemos para a nossa fé não seja cega, equivocada ou seletiva.

Outro problema dos dois discípulos era a sua posição com respeito à própria Palavra de Deus. Eles tinham muita dificuldade de interpretar as Escrituras à luz da pessoa de Jesus (v.27). Por isso, eles também tinham dificuldade de crer no que a Palavra dizia a respeito de Jesus (22-24). Eles tinham dificuldade de vivenciar a Palavra de Deus (v.25). Alguém já disse que o Antigo Testamento aponta para a frente, para Jesus, e o Novo Testamento aponta para trás, para Jesus. Quer dizer, Jesus é o centro da Bíblia. Quando cremos em Jesus verdadeiramente, somos capazes de interpretar, aceitar e viver sua Palavra.  

Ainda outro problema deles era a dificuldade de ter uma comunhão verdadeira com Jesus. Andaram lado a lado com Jesus, seus corações arderam, e não foram capazes de reconhecê-lo (v.16). Ouviram a voz de Jesus, seus corações arderam, mas não foram capazes de perceber que era o próprio Jesus que lhes falava (v.32). Partiram o pão com Jesus, queriam ficar com ele, mas não puderam continuar a desfrutar da sua presença (v.28-32). Quando temos uma noção errada de quem é Jesus, temos dificuldade de conhecê-lo, de ouvir sua voz e de desfrutar da sua presença.

A partir desse encontro ardente a fé desses dois discípulos foi transformada, sua posição com respeito às Escrituras mudou radicalmente e sua comunhão com Jesus tornou-se poderosa. 

Pr.Sylvio Macri