Academia da Alma 2.0 — Encontro 7: A GRAÇA EM MIM

ACADEMIA DA ALMA 2.0

Encontro 7

 

Síntese 

A GRAÇA EM MIM

Como entendo a graça de Deus? 

 

Sabedoria bíblica:

“Portanto, vá e coma com alegria o seu pão e beba com prazer o seu vinho, pois Deus já se agradou do que você faz”. (Eclesiastes 7.9)

 

Decisão: 

RENDO-ME!

 

Como você reage a esta história do mundo profissional?

Um fazendeiro contratou diaristas para a colheita. Todos começaram a trabalhar. Depois ele foi à cidade e trouxe outros,  que começaram a trabalhar mais tarde. Fez isto mais de uma vez.

No final do expediente, pagou o valor completo da diária de trabalho para todos.

Obviamente os que trabalharam de sol a sol reclamaram.

Se você é um fazendeiro, como reage? Talvez considere injusto o proprietário e condene seu péssimo exemplo. Se você é um empregado que chega cedo, talvez conclua que não vale a pena ser dedicado à empresa tendo um patrão como esse. Se você é o empregado que pegou tarde, talvez nunca mais esqueça tanta generosidade.

Agora imagine esta história do mundo acadêmico.

Um professor de grego ministra seu curso. Logo no início das aulas, estabelece que a avaliação será um trabalho final sobre um dos temas tratados no semestre letivo. Um de seus alunos que já conhecia de outra matéria age de modo estrangeiro ao longo do curso e, no final, não entrega a monografia. Todos entregaram. Alguns foram aprovados, outros não conseguiram. E teve um que simplesmente não entregou. Além de não prestar atenção às aulas, não interagir, esse aluno não entregou o trabalho.

O professor o chama. 

— O que houve: você não entregou o seu trabalho?

Arrogante, o estudante diz que o curso foi muito fraco, que o professor subestimou a todos e que, por isto, como uma forma de protesto, não fez a monografia.

O professor olha para suas anotações, com o grau em branco para o aluno, e escreve algo, levanta a cabeça e diz:

— Eu lhe dei “dez”. Agora, vai e faz a monografia.

Um mês depois recebeu um primoroso trabalho.

Se você é um professor, como reage? “Esse Mestre premiou um rebelde”? 

Se você é diretor de escola, o que diz? “Esse professor não cumpriu as regras”? 

Se você é aluno, o que comenta? “Esse colega teve sorte. Pegou um bobão”?

E antes que você duvide da história, lembre-se que a primeira é uma parábola contada por Jesus (Mateus 20.-16). Na segunda, saiba que o professor, no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, era o missionário Broadus David Hale e o aluno, Israel Belo de Azevedo.

 

A BAGUNÇA DE JESUS

 

A palavra que define a atitude do fazendeiro “injusto” e do professor “complacente” é uma só: graça, um bem que se recebe sem que se mereça.

Todas as religiões se baseiam na díade esforço > prêmio, crime > castigo, obediência > recompensa, sempre nesta ordem. 

Jesus fez uma bagunça tão grande nestes dois pilares da vida que nem os cristãos ainda entenderam completamente o que Ele fez e ensinou.

Ele evidenciou o que a Trindade divina sempre fez. Quando foi agraciado com a permanência da sua família, Noé mal conhecia a Deus. Quando foi chamado para ser o pai da fé, Abraão não tinha fé. Quando se tornou o homem segundo o coração de Deus, Davi era um menino que ninguém sabia a que viera. Quando foi designado para pregar contra a injustiça, Amós apenas um boiadeiro. Quando foi escolhida para gestar Jesus, Maria apenas esperava o Messias, como todo seu povo. Quando foi selecionado para se tornar o maior dos pregadores cristãos, Paulo era um perseguidor dos cristãos. 

Deus nos perturba com suas escolhas.

A graça é para todos. É para os que não merecem. É talvez para os que merecem, mas não foram escolhidos por isto.

Na verdade, todos são escolhidos, os que merecem e os que não merecem, para recebê-la.

Os fracos são escolhidos para que fiquem fortes. Os pecadores são escolhidos para que sejam santos, reconhecendo com sua condição, como John Newton, o ex-traficante de escravos, o autor de “Amazing Grace”: "Embora minha memória esteja falhando, eu me lembro de duas coisas: eu sou um grande pecador e Cristo é um grande Salvador".

Os santos são escolhidos para perceberem quem os santificam.

Os fortes são escolhidos para que ajudem os outros.

E cada um decide o que faz com a aprovação previamente recebida.

A graça se tornou um espetáculo visível na cruz; foi a sua apoteose (Colossenses 2.14-15). Deus mostrou sua graça misteriosamente desde a criação. Agora Ele mostra sua graça escandalosamente na cruz, onde Jesus ora pelos seus algozes:

 

— Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lucas 23.34).

 

Quem oraria assim? Quem vive no compasso da graça.

 

FAVOR NÃO PEDIDO 

 

Como assim? Recebermos um favor que não pedimos?

Esperarmos um presente que não compramos?

Obtermos aprovação num concurso que não prestamos?

Tirarmos nossa máxima num trabalho que não entregamos?

Sermos remunerados por um serviço que ainda não concluímos?

Ganharmos o perdão por um pecado do qual ainda não nos arrependemos?

E foi para isto que Jesus nasceu. Com o seu berço tosco não nos enternecemos?

Foi o que viveu e foi o que ensinou e, como se ditas hoje, suas palavras magníficas ouvimos.

Perto de morrer, pediu que fossem perdoados os seus algozes. Não é o que lemos e cremos?

Na mesma condição, não ofertou o paraíso ao condenado que nós também certamente condenaríamos?

Quando foi para o céu, 40 dia depois, não nos mostrou como nós mesmos, na nossa vez, para a eternidade iremos?

Não é para entendê-la, mas para receber a graça que Deus que nos dá e não merecemos.

O amor de Deus não nos alcança como recompensa por algum gesto que formamos.

O amor de Deus simplesmente toma a iniciativa de nos resgatar quando perdidos estamos.

Éramos como ossos secos e renascemos.

Estávamos como mortos e revivemos.

A graça de Deus nos envolveu porque fracassamos.

A graça de Deus nos tocou; não fomos que a conquistamos.

Performance-prêmio, obediência-recompensa, crime-castigo, dessas regras justas mas ineficazes esqueçamos.

A graça é radicalmente diferente: para ela corramos.

Aninhados nela, celebremos.

Pela graça vivamos.

 

O PLANO PERFEITO

 

A graça de Deus vem da sua soberania. O professor de grego tinha o poder de conferir “dez” ao aluno rebelde; apostou dele; aprovou-o previamente; fez com que fizesse o melhor.

A graça de Deus vem da sua justiça. O fazendeiro tinha o dinheiro e tinha o direito de usá-lo como quisesse. Ninguém recebeu menos que o combinado.

A graça de Deus vem da sua bondade na qual revela a sua face. Quando nossa face brilha com a de Deus, perdoamos. Por isto, Esaú não matou Jacó (Gênesis 32.30), embora o odiasse e continuasse odiando.

Alcançados pela graça, podemos ver quem Ele é.

 

SALVAÇÃO — A graça de Deus é o seu plano para nós. O último deles. A salvação é o seu plano e Jesus o pôs em prática. Quem pode ser salvo sem a graça? Ninguém. Ele nos vê como pecadores e, em lugar de nos odiar, nos ama. Por nos amar, nos perdoa. A salvação nos iguala: todos não merecemos ser salvos, mas somos salvos. A salvação é um dom (Efésios 2.8-9). É só receber, como um presente de Natal. É só ter fé em Jesus como Salvador. “A fé é simplesmente a sua resposta à mensagem do amor e da graça de Deus". (Shane Callahan)

 

 

MISERICÓRDIA— A graça de Deus se expressa também na misericórdia para conosco. Por sua misericórdia, intervém e dá filhos a uma mulher infértil e solitária. Por sua misericórdia, permite que Agar sobreviva e crie seu filho. Por sua misericórdia, esvazia vales de ossos secos. Por sua misericórdia, tira do hospital o moribundo. Por sua misericórdia, tira do rua o dependente químico e lhe dá uma casa. Por sua misericórdia… E aqui cada um pode completar e colocar sua própria condição, antes de ser alcançado pela misericórdia de Deus.

 

PEDAGOGIA — A graça de Deus nos ensina a como viver. Deus vive de um modo em que o amor vem primeiro, o que o leva a acreditar em nós e no próximo para que também acreditamos. Deus ama de modo incondicional; se formos fiéis, Ele o será. Se não formos, Ele o será. Deus é um doador (não doou seu próprio Filho para morrer em nosso lugar?); se formos com Ele, não nos preocuparemos apenas com as nossas necessidades, não reteremos o que os outros precisam para viver; se formos como Ele, perdoaremos os que nos perdoam e os que não nos perdoamos; se formos como Ele, gostaremos de quem gosta de nós e de quem não gosta. Viver no compasso da graça é viver de um modo diferente, sob a batuta da alegria, mesmo se houver dificuldades, da serenidade, densas as tensões, e da paz, sem ceder à tentação da guerra.

 

ESPERANÇA — A graça de Deus nos enche de esperança. É a esperança que nos empurra para a frente, além do deserto. É a esperança que nos faz ver que a vida é mais do que esta, sem medo do futuro, onde Deus está e nos aguarda. É a esperança que faz da nossa eternidade uma continuação do presente, só que perfeito, absolutamente perfeito.

 

SEM ESFORÇO?

 

Talvez nos perguntemos: nosso esforço para nada serve?

Para nada serve o esforço antes da graça. Ele deve primeiro depois.

Sabemos que, se queremos realizar, temos que nos esforçar.

Para escrever um livro, temos que pesquisar.

Se queremos passar num concurso, temos que estudar.

Se queremos uma vitória no esporte, temos que treinar.

Se queremos cantar bonito, temos que ensaiar.

Se queremos ter saúde, temos que nos cuidar.

Uma pergunta não temos como evitar: 

Para que orar?

Outra dúvida aparece também:

O que esperar que do esforço não vem?

O esforço não abre a porta da eternidade para ninguém.

Não é com o esforço que o perdão divino se obtém.

O esforço não faz todas as coisas se juntarem para o nosso bem.

O esforço não distribui com os outros o que tem.

O esforço tem um limite do qual não vai além.

É a graça de Deus que em nós deve agir.

É a graça de Deus que devemos desejar e pedir.

É pela graça de Deus que devemos existir.

O esforço gera autossuficiência.

A graça se alegra na dependência.

A alegria do esforço passa.

A força da esperança depende da graça.

O esforço pode achar que precisa reconstruir Babel.

A graça escancara como oferta a entrada no céu.

O esforço não tem que se perder na arrogância.

A graça não precisa se confundir com inoperância.

Precisamos do esforço, que é conquista e neblina.

Precisamos da graça que recebemos e não termina.

Aceitemos primeiro a graça com a alegria de uma criança.

Depois nos esforcemos com máxima competência e inteira confiança.

Não é assim que Jesus nos ensina?

 

 

PARA QUEM QUER

 

Não há dúvida que devemos viver de modo digno do amor de Deus.

Inaceitável é que devamos viver de modo que nos tornemos dignos do amor de Deus.

Pensar que devemos agir de modo a ser recompensados com o amor de Deus é a proposta do legalismo. E o legalismo é um peso, que não conseguimos suportar sem sofrer, uma farsa, porque somos incapazes de fazer sempre o que é certo, e uma mentira, porque Deus não age como se humano fosse.

O amor de Deus não é como o nosso, que precisa ser alimentado com respostas. Ele nos amou primeiro, quando éramos completamente indignos. Deus nos ama não por nossa bondade, mas por causa da bondade dEle.

Embora arraigada, a ideia de que devemos fazer algo para merecer a graça de Deus (em forma de salvação ou de bênção) é a mais completa negação da graça que Jesus veio anunciar, apresentar e disponibilizar.  

Diante do nosso pecado, Deus entra em ação, oferecendo-nos perdão completo.

Ele não oferece perdão a quem merece, mas a quem precisa.

Ele não envia recursos a quem merece, mas a quem carece.

Ele não abre a porta do céu a quem merece, mas a quem deseja.

Ele não distribui bondades a quem merece, mas a quem almeja.

Como graça não se impõe, Deus nos estende sua mão e espera que estendamos as nossas para recebermos o que precisamos e Ele quer nos dar.

 

EM RESUMO

 

A graça de Deus é poderosa. Não é como uma pilha que perde a validade.

A graça de Deus é luminosa. Não é como o dia passageiro que a noite domina.

A graça de Deus é deliciosa. Não é como um alimento que perde a qualidade.

A graça de Deus é assombrosa. Não é como a saúde que uma bactéria fulmina.

A graça de Deus é valiosa. Não é como o dinheiro que um golpe transforma em inutilidade.

A graça de Deus é preciosa. Não é como um produto ao preço de uma aspirina.

A graça de Deus é afetuosa. Não é como um braço que acolhe e se recolhe para deixar decepção e saudade.

A graça de Deus vem do seu poder e é inesgotável.

O tempo da graça de Deus é o da eternidade e é imutável.

O vigor da graça de Deus desce do céu e nos alcança e é inabalável.

O alimento da graça de Deus nos dá músculos que resistem ao peso da nossa humanidade.

A força da graça de Deus nos faz confiar mesmo quando a doença se faz uma realidade.

O poder da graça de Deus não é diminuído ou destruído. Tem a marca da eternidade.

O valor da graça de Deus só pode ser medido pelo que custou: a vida do seu Filho Jesus Cristo entregue na cruz para nos resgatar para a liberdade.

A amizade que a graça de Deus oferece é fiel e paciente e só espera que a queiramos, desejando que seja agora, para nos ensinar a viver hoje e nos acompanhar mesmo quando a violência escancara a sua ferocidade.

A graça de Deus é eterna, tão eterna quanto o próprio Deus. Depois que a vida nos deixar, a graça continuará conosco porque Deus nunca nos deixará de amar.

A graça de Deus é mesmo maravilhosa.

 

***

 

Que faremos com a graça que nos foi concedida?

Vamos recebê-la.

Vamos viver nela.

Vamos compartilhá-la.

A graça faz um convite: a que nos rendamos.

Seguiremos, comeremos e beberemos com alegria, se nos rendermos ao fato que Deus já se agradou de nós (Eclesiastes 7.9).

 

“A graça nos é dada não por que tenhamos feito boas obras, mas para sejamos capazes de fazê-las”. (Agostinho de Hipona)

 
Israel Belo de Azevedo