Academia da Alma 2.0 — Encontro 8: Autocorreções

ACADEMIA DA ALMA 2.0

Encontro 8

 

Síntese 

AUTOCORREÇÕES

O que preciso corrigir em mim?

Sabedoria bíblica:

“Tudo aquilo que os meus olhos desejaram eu não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa por todas elas”. (Eclesiastes 2.10)

 

Decisão: 

RECOMEÇO!

 

Quando olhamos nosso quarto sob a luz que ultrapassa as frestas, observamos o pó que pende no ar ou sobre os móveis.

Quando olhamos nossa alma sob a luz da presença do Espírito Santo, sentimos o pó que sobre ela se põe.

E o que faremos?

Vamos ignorar as réstias de luz e deixar que o pó se acumule?

Vamos varrer a poeira para debaixo do tapete, como se deixasse de ser poeira por não ser vista?

Vamos ouvir a voz do Espírito Santo e abrir a janela para que entre mais luz, luz que nos santifique, luz que nos aperfeiçoe, luz que nos desembarace os pés e as mãos para a liberdade e para a alegria?

Vamos continuar colhendo a recompensa do cansaço, como fizera no passado o sábio do Eclesiastes, se podemos nos lembrar agora do Criador e viver como Ele nos projetou?

 

OS OUTROS-PROBLEMAS

As pessoas podem melhorar e lamentamos que estejam contentes com o que são, mesmo que desgarradas como ovelhas sem pastor. 

Olhamos para os nossos amigos e ficamos tristes porque não têm progredido patrimonialmente, sempre precisando de ajuda, como se não saíssem do lugar.

Olhamos para os nossos familiares e vemos, com tristeza, que o medo se alojou em suas almas, sem que deem um passo para a liberdade.

Olhamos para nossos conhecidos e descobrimos, envergonhados por eles, que parecem não se envergonhar, e nos incomodamos em como seus instintos os dominam.

Olhamos para os nossos irmãos de fé e sentimos o cheiro da hipocrisia.

Nossos amigos, que lástima, podiam ser melhores, mas não parecem interessados que estejam interessado nisto.

Quanto a nós, em todas as áreas da nossa vida, há também poeira, velha ou nova, a ser varrida para longe.

No campo patrimonial, quanto temos perdido por deixarmos para depois oportunidades que cintilam agora diante dos nossos olhos?

No campo emocional, não podemos fazer do desânimo a nossa casa, como se não pudéssemos mudar?

No campo moral, nem sempre o que fazemos privadamente podemos fazer em público, a começar pelo que desejamos?

No campo intelectual, queremos o fácil ou buscamos o profundo, mesmo que difícil e demorado?

No campo espiritual, temos feito da generosidade o nosso estilo de viver?

Podemos ser melhores.

 

OS PARCEIROS

Quem nos melhora ou, nos termos bíblicos, quem nos santifica? Tendo a graça, não somos livres para fazermos que quisermos? Não gostamos tanto da frase de Agostinho de Hipona: “Ame e faça o que quiser”?

Clareemos a questão.

Nós somos santificados pelo Espírito Santo, que nos separa das trevas, que nos revela o pó no quarto de nossa alma, que põe a bondade como o desejo maior em nosso coração, que nos fortalece para a caminhada necessária, que está ao nosso lado na jornada.

Nós somos cooperadores do Espírito Santo, quando escutamos seu convite para a santidade, quando deixamos que Ele nos guie e nos transforme, quando fazemos o que Ele nos pede e orienta.

Ele nos limpa, se lhe pedimos. Ele nos arranca do egoísmo, se lhe rogamos. Ele nos acompanha, se desejamos. A promessa da santificação se realiza, se por ela nos decidimos.

Na antiguidade bíblica, antes de Jesus, para que houvesse perdão e paz, era preciso que uma oferta fosse deixada no altar, para ser queimada. A partir de Jesus, a oferta queimada de uma vez por todas, somos convidados, nos termos da música de Elisha Hoffmann, a derramar em fervente oração o nosso coração sobre o altar. E só iremos fluir o que estamos pedindo se deixarmos tudo no altar. Esta é a nossa parte: deixar no altar, para ser queimado, o que precisa ser corrigido em nós.

 

“Quando tudo perante o Senhor estiver

E todo o teu ser Ele controlar

Só, então, hás de ver que o Senhor tem poder

Quando tudo deixares no altar”.

 

A graça é tão suficiente que ela nos educa.

 

 

UM ROTEIRO, AMARGO E DOCE

Na jornada da autocorreção, há algumas perguntas que precisamos responder, como um roteiro.

Deixemos de lado os outros, com seus defeitos, e pensemos nos nossos. 

No plano patrimonial, o que não conseguimos? Talvez tenha sido porque não desejamos ou porque elevamos o desejo acima da possibilidade. Ambicionamos o que convém e como convém?

Quisemos. Todos queremos. Mas nos esforçamos suficientemente ou preferimos nos acomodar na rede da preguiça? Não temos porque não poupamos? Nosso mês acaba antes do dinheiro? Pensamos a longo prazo?

No plano emocional, tomamos a decisão de ser felizes ou dependemos dos outros ou das circunstâncias, pondo-nos na berlinda própria das vitimas? Somos fechados, protegendo nosso coração como se fosse um castelo cujas portas não se abrem? Temos medos e os aceitamos como definitivos? Não falamos e não falaremos em público? Não andamos de avião e nunca andaremos? Nós nos irritamos facilmente e assim viveremos até o fim? Explodimos por causa de uma crítica feita por quem nos ama, sem refletir na palavra dita? Trememos diante de uma tarefa? Temos deixado que o ciúme ou a inveja nos torne amargos? Deixamos que as compulsões nos dominem ou estamos no controle de nossas vidas

No plano moral, somos confiáveis ou, quando falamos, não dizemos toda a verdade, não revelamos nossas reais intenções, guardamos uma falha alheia que podemos usar. Para alcançar nossos fins, usamos métodos que reprovamos?

Na trilha dos fariseus do tempo de Jesus, somos indulgentes conosco mesmos e irados com as falhas dos outros? Ou, ao contrário, somos duros conosco mesmo e relevamos os defeitos dos outros? 

No plano intelectual, estudamos horas a fio com afinco para apreender e compreender? Persistimos num curso até os completar? Entre a profundidade e a superficialidade, o que escolhemos? Contentamo-nos com a nota 6 ou buscamos a 10? Somos disciplinados ou deixamos a vida nos levar (sabe-se lá para onde)?

No plano espiritual, reconhecemos que fomos alcançados pela graça e nos esforçamos, com renúncia e sacrifício, não para a obtemos, mas para crescermos nela? Temos coragem de pedir a Deus para nos sondar? Vivemos quantas horas por dia na presença de Deus? Fazemos o que é certo para obtermos a graça ou para viver no compasso dela? Quando nossas necessidades são atendidas, nós nos importamos com os que ainda as têm?

 

O CAMINHO

O que precisamos corrigir em nós para alcançarmos o sucesso legítimo que buscamos?(Sucesso legítimo é o que desejamos sem nos comparar e sem nos corromper.) Precisamos desejar bem e fazer bem, no plano da competência técnica e da correção moral. Se falhamos no método, temos que mudar o método. Se falhamos na ação, temos que revisar nossa ação. O que não podemos é nos contentar com o sucesso que gera dano (em nós e nos outros) e nem com o fracasso, que não pode ser nem desejo nem destino. Precisamos ler a frase toda de Agostinho que começa com o “ame e faça o que quiser”, que completa é:

 

“Ame e faça o que quiser: se você sustenta a sua paz, com amor sustente a sua paz; se você chora, chore com amor; se você corrige, corrija com amor; se você perdoa, perdoe com amor. Deixe a raiz do amor permanecer dentro de você, porque desta raiz nada pode brotar senão o que é bom”. (Cf. AUGUSTINE. Homilies on the First Epistle of John.)

 

O que precisamos corrigir em nós para tomarmos as rédeas da nossa vida, para que não seja conduzida pelo medo, pela ira, pela amargura, pela auto-rejeição, pelo olhar do outro? Precisamos olhar no espelho, mesmo que doa, ver o que precisa ser mudado e começar. Não podemos aceitar condições que nos impõem, se podemos delas nos livrar. Não podemos ser como Jabez (“sofrimento”) antes de orar e ser abençoado (2Crônicas 4.9-10). Há mais para nós, além do que nos foi posto como padrão. Deus não para de fazer a sarça arder diante nós, como fez com Moisés que estava no deserto.

O que precisamos corrigir em nós para que a verdade seja o nosso idioma língua e a transparência, a nossa cultura? Podemos viver de tal modo que nosso quarto pode ser revirado e nada escuso será encontrado, nossas gavetas podem ser abertas e nenhum documento nos comprometerá? Vigiemos.

O que precisamos corrigir em nós para que cresçamos intelectualmente? Podemos ser profundos, sólidos. Podemos ser estudiosos, amando os livros, incluído o maior deles (a Bíblia Sagrada). Podemos dormir menos e estudar mais. Podemos aprender outros idiomas. Podemos conhecer o que ainda não conhecemos. Tirar dez dever a nossa meta, embora não sejamos perfeitos e não venhamos a ser.

O que precisamos corrigir em nós para que a graça brilhe em nossa face, para que a compaixão seja natural em nós, para que vivamos toda as horas do dia na consciência de que estamos na presença de Deus.

O que precisamos corrigir em nós (em quatro P)?

  1. Precisamos nos Posicionar como alguém que precisa ser corrigido. Nossas autocorreções começam quando reconhecemos que somos pecadores, que dentro de nós a bondade e a maldade lutam pelo controle e que precisamos ser guiados pelo Espírito Santo para onde flui o amor. Quem se arrepende muda. Quem muda cresce. Quem cresce se alegra. Na verdade, “se nos não mudamos, não crescemos. Se não crescemos, na verdade não vivemos” (Gail Sheehy). (P1)
  2. Precisamos Persistir no caminho autocorreção, como uma casa que precisa ser varrida de suas sujeiras, para que o nosso coração  não seja uma lixeira. Tendo feito a dramática e perene oração do Salmo 139.23-24 (“sonda-me”, “conhece-me”, “prova-me”, “guia-me”), precisamos seguir pelo caminho eterno. Se tiver que recomeçar (e certamente teremos), recomeçaremos, mas prosseguiremos, mesmo que mancando. “Quando mantemos o nosso olhar ‘fixo' em Cristo, não nos entregamos ao desânimo; antes, somos fortalecidos diariamente pelo Espírito Santo que habita em nós". (Leonardo Dâmaso) Precisamos nos livrar do que nos atrapalha (Hebreus 12.1) para que seja boa a nossa corrida. (P2)
  3. Precisamos Pedir ajuda se for preciso. “Não podemos mudar, não podemos nos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos”. (Carl Rogers) Não temos que pedir ajuda quando não precisamos. Se não pedirmos ajuda quando precisamos, estaremos nos enveredando pela idolatria, marcada pela auto-suficiência e pela recusa de sermos pastoreados por Deus, que usa pessoas para nos abençoar na jornada. Mesmo que não peçamos ajuda, e alguém no-lá ofereça, vamos recebê-la co gratidão e disposição. (P3)
  4. Precisamos Praticar a comunhão com Deus, de cuja presença não temos como nos afastar. Podemos não ter consciência dela e não sermos fortalecidos por ela, mas ela é real, mesmo quando estamos no mau caminho. Sua presença nos acolhe, nos adverte, nos encoraja, nos corrige, nos guia, nos protege, nos fortalece. Estejamos certos que “quando mantemos Deus em foco claro, sua poderosa presença eclipsa nosso medo". (Charles R. Swindoll) (P4)

 

APÊNDICE

QUANDO PEDIR AJUDA

 

Quando nossas emoções se desalinham, é natural que nos sugiram que busquemos a ajuda de um psicólogo. Dominados por forte autossuficiência  (“vou sair dessa sozinho”), por resistente preconceito (“eu não sou maluco") ou por equivocada fé ("meu psicólogo é Deus"), nossa primeira reação será resistir à ideia.

Não nos livramos de um trauma antigo e pesado apenas com o desejo da liberdade. Carecemos de alguém que nos pegue pela mão e nos conduz à saída do labirinto.

Não saímos de uma depressão ou de alguma outra crise aterradora apenas tomando remédios, que serão úteis se acompanhados por alguém que caminhe conosco, na jornada da escuridão à luz.

Não nos reconstruímos sem falar sobre nós mesmos, o que é basicamente a que nos orienta o psicólogo ao nos escutar.

Nas horas de mentes desorganizadas, precisamos de alguém que nos ouça para que compreendamos o que se passa dentro de nós. 

Nas horas em que o futuro desapareceu diante de nós, precisamos de alguém que nos faça de novo acreditar que a esperança pavimentará nossos sorrisos.

Se precisamos ser acompanhados em nossa recuperação, não devemos permitir que a vergonha nos impeça de buscar ajuda. Procuremos e comecemos.

Se já contamos com o apoio de um psicólogo ou psicóloga, hoje é um bom dia para agradecer o seu cuidado para conosco.

 

Israel Belo de Azevedo